Juninho Pernambucano, depois de oito anos de profícua passagem (sete títulos nacionais consecutivos) pelo Olympique Lyonnais, está deixando a França. Mas, ao contrário do que se imaginava, não sai coberto de glórias. Pior que isso: carrega no rosto as marcas de uma surpreendente amargura, como se houvesse fracassado. A história é incomum, mas de fato ocorreu.
Juninho está saindo porque o Lyon desta temporada renegou a vocação pelas vitórias. Deixou-se, segundo suas palavras, dominar pelo sentimento que prevalece entre os franceses: a de que um time não deve perseguir compulsivamente a conquista de títulos.
Segundo o meia, as equipes da terra de Napoleão Bonaparte não têm instinto vencedor e entram nas competições sem aquela convicção inquebrantável que distingue os campeões. Em resumo: não fazem jus ao histórico de conquistas de seu imperador.
Juninho está convencido de que o Lyon, depois de levantar tantas taças, virou mais um na multidão, cansou de vencer. Do time confiante e agressivo das outras temporadas, tornou-se previsível e acomodado. Conformou-se em ganhar apenas cinco jogos em casa, média inexpressiva diante dos números grandiosos de anos anteriores.
Um detalhe demoliu de vez o entusiasmo do meia brasileiro: a má vontade crescente de todos – imprensa e torcida à frente – com a estranha mania que o Lyon tinha de ganhar títulos. Como se o heptacampeão padecesse de doença contagiosa, capaz de contaminar as regras não escritas do futebol na França.
Ao ouvir críticas cada vez mais fortes sobre o prejuízo que a hegemonia do Lyon trazia ao campeonato, Juninho percebeu que havia chegado a hora de procurar outros ares. Contribuiu para sua decisão a nova filosofia de trabalho no clube, depois que o técnico Claude Puel substituiu a Alain Perrin e adotou postura quase tímida em relação a títulos. É como se, de repente, sentisse vergonha de suas próprias glórias. Como diria Dalton, muito estranho.
No Brasil, guardadas as devidas proporções, o São Paulo vive situação semelhante. Ganhou três campeonatos nacionais, num país que tem pelo menos dez times sempre cotados para conquistar o título máximo. Mas, ao contrário da França, a façanha tricolor não desperta antipatia ou inveja. Há, na verdade, admiração pelo feito.
São culturas e visões diferentes sobre o sentido da vitória. Acho que vencer a qualquer custo não é atitude positiva. Por outro lado, renegar triunfos contraria a lógica natural dos desportos.
A Fórmula 1 chega a uma encruzilhada hoje na Turquia. Uma nova vitória de Button ampliará sua distância em relação aos demais competidores e praticamente lhe dará o título por antecipação.
A matemática permite ainda imaginar uma virada, mas a realidade crua das pistas não deixa margem a dúvidas: a estreante Brawn está a um passo de realizar a façanha mais surpreendente da categoria.
(Coluna publicada na edição de Bola/DIÁRIO deste domingo, 07/06)