Um trambique futebolístico

Pelo adiantado da hora e atarantado com os prazos de fechamento do jornal, não pude me alongar nos comentários sobre o jogo Fluminense x Águia, de anteontem à noite, no Maracanã. Não houve tempo para dizer, com mais ênfase, que o bravo representante paraense foi acintosamente garfado na Cidade Maravilhosa.

Não é mera questão de bairrismo, mas de justiça. O futebol vive tão contaminado por truques e maracutaias que se adotou até uma abjeta escala de bandalheiras, normalmente sacada da algibeira sempre que é conveniente atenuar roubos gritantes. Ao contrário da maioria que conformada e silenciosa, eu grito.

Além da atuação capciosa do árbitro pernambucano, que minou o sistema de marcação marabaense com cartões distribuídos com precisão cirúrgica logo no começo do segundo tempo, quem viu o jogo teve a chance de acompanhar um grande trambique futebolístico amparado na lei do impedimento.

Eric Bandeira, um dos bandeirinhas, conseguiu o recorde de errar em quatro lances capitais na partida. Três dessas jogadas envolveram o lépido Aleílson. No mais abusivo dos equívocos, aos 26 minutos, o atacante recebeu a bola a cerca de um metro do último beque e iria entrar completamente livre.

Não satisfeito, o famigerado ainda frustrou uma arrancada fulminante de Sinésio, que certamente iria ficar frente a frente com o goleiro pó-de-arroz. Nos quatro lances, o Águia haveria de fazer pelo menos um golzinho, o que mudaria radicalmente o cenário.

 

Costuma-se dizer, com um conformismo que resvala na desfaçatez, que os árbitros são sempre mais rigorosos com os times sem pedigree. O comentário quase sempre se encerra com um “sim, mas o que fazer?”. A resposta é simples: deve-se enquadrar meliantes que usam o apito para prejudicar um ou outro time, independentemente de sua história ou procedência geográfica. Enquanto o futebol estiver entregue a esse tipo de gente submissa aos poderosos, alguns resultados jamais expressarão a verdade das coisas, o que é profundamente desanimador.  

 

Na transmissão, repórteres globais tratavam os atletas paraenses como selvagens. Que coisa mais ridícula era aquela de ficar mostrando o monitor de vídeo, com imagens ao vivo, como se fosse a quintessência da modernidade. Os pascácios tiveram sorte de não pegar pela frente cabras mais destemperados, que dessem a devida resposta, ali na bucha. Ora, ora, que papo é esse de ficar badulaques eletrônicos como se o Águia tivesse acabado de chegar da tribo? Mais respeito, por favor.   

(Coluna publicada na edição desta sexta-feira, 24, do Bola/Diário do Pará) 

Uma correção: graças à atenta observação dos leitores (entre os quais, o comendador Raymundo Mário Sobral, colunista do Diário), retifico a crítica às reportagens globais no jogo Flu x Águia. Mostrar o monitor para os entrevistados, ao que parece, é um lance de merchandising da Globo, para dar visibilidade ao fabricante da geringonça. Mesmo descaracterizando qualquer sentido de preconceito, convenhamos, não deixa de ser uma tremenda babaquice.

4 comentários em “Um trambique futebolístico

  1. É tão gostoso ver a sua própria opinião exposta por alguém com mais voz!

    O pessoal do centro sul é vergonhosamente parcial quando os jogos envolvem times que vêm de cima de Brasília. Chega a ser descarada a torcida dos comentaristas e narradores, se você só ouvir, é como se fosse jogo da seleção contra outro país!

    Eu ando meio enjoada do cenário futebolístico por essas coisas, acabei me afastando… sem saco pra aguentar essas palhaçadas.

    Mas repito, bom saber que tem gente que não engole essa bandalha!

    1. Cara Tereza,
      Nossos clubes já são por demais castigados internamente, pelas gestões lesivas. Não podemos aceitar que ainda sofram com ações de arbitragens nefastas – mal que nos aflige há um bom tempo.
      Obrigado pela visita. Volte sempre.
      Abs.
      Gerson

  2. Com relação a coluna do dia 24ABR09, “UM TRAMBIQUE FUTEBOLISTICO”, quero contestar alguns itens, tais como:

    Com que certeza V. Sª afirma que o futebol esta contaminado por truques e maracutaias; o Sr. Eric Bandeira errou sim,

    mas baseado em que V. Sª afirma que o mesmo agiu de má fé? Ao contrario de sua afirmação um golzinho do Águia não

    mudaria nada, pois o placar seria 4X3 pro FLU, (2×1 águia) e (3×1 flu). E quanto ao tratamento selvagem que citou, só

    pode ter saído da cabeça de quem cultiva o bairrismo e revanchismo, pois o mesmo recurso eletronico mostrado ao

    jogador do Águia, foi apresentado ao goleiro do fluminense.

    O ser humano é cheio de falhas, não só os bandeirinhas e juízes de futebol falhas, mais sim profissionais liberais,

    executivos, jogadores, jornalistas, comentaristas, em fim todos nos seres humanos, e nem por isso todos agimos

    ou estamos contaminos dos pelo trambique.

    atenciosamente,

    Manoel Rodrigues – Val-de-Cans

    1. Meu caro Manoel,
      Óbvio que não há como provar que houve bandalheira por parte do trio de arbitragem, mas, francamente, não precisa ser bidu para ver que quatro impedimentos inventados constituem motivo suficiente para desconfianças. Ou não?

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