Papa sai em defesa da preservação da Amazônia

O Papa Francisco divulgou oficialmente na manhã desta quinta-feira a Encíclica Ambiental, intitulada “Laudato si” (Louvado Seja), com poucas alterações em relação ao conteúdo vazado no início da semana na imprensa italiana. O documento cobra uma postura menos gananciosa de países desenvolvidos para evitar mais alterações climáticas e lembra que a ecologia integral deve incluir claramente as dimensões humanas e sociais: “Não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise sócio-ambiental”.

O Papa faz referência ao Brasil e à necessidade de cuidar dos ecossistemas de florestas tropicais de grande “biodiversidade que são a Amazônia”, logo depois de dizer que o ganho econômico não pode se sobrepor sobre a preservação da vida. “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?”, pergunta o pontífice, lembrando que “tudo está inter-relacionado e o cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros”.
O teólogo Francisco Catão comenta que “começando sua Encíclica com o Canto das Criaturas de São Francisco de Assis, o Papa Francisco se dirige a todos os que têm sensibilidade para se deixar tocar pelas terríveis consequências da deterioração do meio ambiente, que afetam a todos, a começar pelos mais pobres e mais desprotegidos. A linguagem poética do pobrezinho de Assis, capaz de transmitir um sentimento impossível de ser expresso em conceitos, tem a força de nos convocar pelo coração para o esforço comum de salvar o planeta”.

O  Papa Francisco alertou sobre a preocupação para que “cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais” ou o risco de enormes interesses econômicos, que podem atentar contra as soberanias nacionais. “O custo dos danos provocados pela negligência egoísta é muitíssimo maior do que o benefício econômico que se possa obter”, diz a Encíclica.

O biólogo e sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, Coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, acredita que o texto deve servir de inspiração, mas  alerta que é preciso a mudança de atitude das pessoas. “A encíclica ajudará a difundir e aprofundar uma mentalidade, mas não fará milagres. O documento também destaca que não basta ter boas leis, se não existem medidas efetivas de conservação das florestas e dos ecossistemas”, comentou Borba, que ainda indica que o caminho a ser seguido por todos os setores sociais deve se direcionar a um desenvolvimento que seja simultaneamente sustentável, integral e efetivo. “O ser humano tem um lugar especial na criação, mas isso não significa que possa usufruir dela de modo irresponsável”.

O próprio pontífice, na Encíclica, ressaltou a intenção de o documento servir como instrumento de reflexão para todas as pessoas: “A Igreja não pretende definir as questões científicas, nem substituir-se à política, mas [eu] convido a um debate honesto e transparente para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum”, disse o Papa Francisco, na expectativa de uma mudança para um estilo de vida sustentável para toda humanidade.

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