O cenário pós-Yokohama

Por Gerson Nogueira

bol_ter_181212_11.psAdversários diretos – leia-se: grandes de São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul, nesta ordem – têm motivos mais do que relevantes para botar as barbas de molho a partir da conquista do bicampeonato mundial pelo Corinthians. A situação, que já se prenunciava desfavorável antes da façanha de domingo, tende a ficar tenebrosa a partir de agora.

Nem estou me referindo ao massacre midiático corintiano, que superou com sobras qualquer outro evento envolvendo clubes brasileiros em disputa internacional. Poucas vezes se viu avalanche tão intensa de noticiário sobre a campanha no Mundial de Clubes, quase do mesmo nível do que se costuma ver em torno da Seleção Brasileira.

A questão que se discute agora é a pujança financeira do novo bicampeão do mundo. Nos últimos cinco anos, desde que emergiu do rebaixamento, o Corinthians empreendeu uma arrancada vertiginosa, arrecadando um valor superior a R$ 950 milhões. Só em 2011 foram R$ 290,4 milhões. A previsão de fechamento da atual temporada, já incluindo o faturamento com o Mundial, deve bater em R$ 380 milhões.

Cabe observar aqui o abismo que separa a realidade do Corinthians das dos demais integrantes do quase extinto Clube dos 13. O mais próximo concorrente, em cifras, é o São Paulo, que ficou em R$ 160 milhões no ano passado e deve alcançar R$ 240 milhões em 2012.

Por justiça, o plano de recuperação do Corinthians, traçado e posto em execução a partir da queda em 2007, já merece ser comparado à contabilidade de clubes de porte médio da Europa. Enquanto o time embarcava para o Japão, há duas semanas, a diretoria fechava a renovação de acordo com a multinacional Nike. Pelo novo contrato, que vai até 2022, o clube de Parque São Jorge vai embolsar R$ 300 milhões.

Os rivais, que inutilmente secaram o Corinthians na final contra o Chelsea, que se cuidem. A Nike só mantém contratos desse porte com clubes de primeira linha da Europa. No Brasil, só o anunciado acerto (de cinco anos) do Flamengo com a Olympikus tem valores similares.

Na somatória dos patrocínios de camisa o Corinthians também segue na dianteira entre seus pares nacionais. As marcas que terão espaço na camisa alvinegra em 2013 pagarão R$ 50 milhões pela primazia. É certo também que o bicampeonato mundial adicionará mais patrocinadores à lista atual.

O programa de sócio-torcedor, que copiou os bons exemplos da dupla Gre-Nal, já se consolidava economicamente há dois meses e deve experimentar uma explosão de associados a partir de agora, embora a projeção de 150 mil sócios deva se concretizar com a inauguração do estádio Itaquerão no final do próximo ano.

Tantas boas notícias só encontram um tom mais sombrio quando se observa a dívida do clube, estimada em mais de R$ 250 milhões. Apesar disso, não é a maior entre os clubes paulistas e fica muito abaixo do endividado quarteto do Rio.

A pujança financeira que o Corinthians passou a ter nos últimos anos deve-se, em grande parte, à pacificação eterna. As brigas, tão comuns nas gestões de Wadih Helu, Vicente Mateus e Alberto Dualib, tornaram-se raras, quase insignificantes, a partir do momento em que o grupo de Andrés Sanchez tomou as rédeas do poder.

O lema de Sanchez e aliados passou a ser: “brigar, só com os adversários”. E tem sido cumprido com um rigor cirúrgico. Com as vitórias chegam os títulos. Com as conquistas, o clube fica mais poderoso financeiramente. Com mais grana, pode contratar mais craques (Alexandre Pato e Dedé devem ser os primeiros de 2013) e ampliar ainda mais seu domínio nesta ciranda em que se transformou o futebol moderno.

Pode-se dizer que, caso não aconteça nenhum contratempo, o Corinthians passa a ter o céu como limite.

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Inferno astral do Almirante

Nem o Palmeiras, que desabou pela segunda vez para a Série B, atravessa cenário tão conturbado quanto o Vasco. É, seguramente, o quadro mais aflitivo entre os clubes mais tradicionais. O capítulo mais recente é o pedido de desligamento do volante Nilton, que foi à Justiça por estar há mais de três meses sem receber.

É uma situação que atletas paraenses estão mais ou menos acostumados a viver, mas não deixa de surpreender quando diz respeito a uma das agremiações mais vitoriosas do futebol brasileiro e dona de uma das cinco maiores torcidas. A pindaíba tirou do clube um de seus ídolos recentes, o meia Juninho Pernambucano, que preferiu ir jogar nos EUA.

Diante da nau desgovernada, há quem atire pedras na administração do ídolo Roberto Dinamite, mas é justo lembrar que as sementes da atual desventura foram plantadas por Eurico Miranda, o ex-caudilho de São Januário.

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Cearense: acerto gordo com o Remo

Não saiu barato o acerto entre o Remo e Leandro Cearense, anunciado finalmente ontem como reforço para a próxima temporada. O jogador, que disputou a primeira fase do Parazão pelo Santa Cruz de Cuiarana, vendeu 70% dos direitos federativos aos azulinos.

O valor só foi atenuado, para o clube, porque parte desses direitos cabe com empresários remistas. Para os padrões locais, porém, a transação foi acima da média, girando em torno de R$ 150 mil.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 18)

15 comentários em “O cenário pós-Yokohama

  1. Eu, como torcedor bicolor, espero que o Leandro Cearense faça o que fez esse ano: nada. Mas, brincadeiras à parte, também acredito que foi uma boa contratação azulina que está montando um time nível série D.
    Quanto ao Papão, fico feliz por que o Vandick está – aparentemente – pensando profissionalmente. Tenho certeza que essa aparente demora nas contratações tem uma razão de ser, que é não meter os pés pelas mãos, analisar bem antes de contratar. Muito provavelmente o time da série B será montado verdadeiramente no decorrer do primeiro turno paraense. Inclusive, tenho certeza, o técnico nesse período será substituído.
    O Vandick sabe que esse ano que vai entrar será o marco de uma nova era nos campos bicolores. Um time não se mantem numa segunda divisão sem estrutura mínima e profissional.
    Feliz Natal e um próspero ano novo para todas as torcidas. Que esse 2013 entre para a história como o ressurgimento do futebol paraense a nível nacional. Que times como Santa de Salinas e Parauapebas não sejam apenas marolas e venham realmente para brigar pelos títulos, que Remo e Paysandu voltem a ser respeitados pelo Brasil, que o mangueirão volte a ser palco de grandes espetáculos de futebol e, principalmente, que os marginais vestidos de torcedores morram.

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  2. Como não ser notícia em todos os canais, a festa que a torcida do Corinthians fez em Tokyo foi impressionante, nunca vista antes, vendo alguns vídeos no youtube se constata que os japoneses ficaram espantados e muitos aderiram ao “bando de loucos” com certeza entrou para a historia como a “terceira invasão corinthiana”

    mesmo não sendo muito simpatico com o time paulista, uma coisa ninguem pode negar, sua torcida é imcomparavel

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  3. É, mas é bom que se lembre que o artilheiro L. Cearense passou em branco pelo clube pelo qual jogou na série-C ou D. Foi até parar na reserva. Mas acho que foi, sim, uma boa contratação para o CR.

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  4. Heleno,

    Não sei se é otimismo em excesso, mas penso que se o trabalho for muito, mas muito bem feito, no longo prazo é possível galgar uma conquista desse nível. Se o São Caetano, com uma torcida inexpressiva diante das duas grandes torcidas paraenses, por que não?

    Mas, é preciso pensar grande, fazer uma gestão profissional e que tenha claro, administradores visionários, enxerguem a frente de seu tempo.

    Um pequeno exemplo, há quase 100 anos atrás, o Paysandu e o Remo inauguravam, respectivamente, os seus estádios Leônidas Castro e Evandro Almeida. E cá estamos hoje, na mesma.

    O Grêmio que nem tinha onde jogar naquela época, acaba de partir, por exemplo, para o seu terceiro estádio. Primeiro teve o Fortim da Baixada, depois Olímpico e agora, Arena.

    Modernizar é preciso, sempre. E sonhar também!

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  5. Amigo Gerson, soube que o meia Josy, do atlético Acriano, estaria de malas prontas para vir ao Remo. Mas só encontrei essa notícia no Diário do Pará. A notícia veio de uma fonte confiável? O amigo Cláudio Colúmbia também soube dessa?

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