A voz autorizada

Por Janio de Freitas 

Do muito já escrito e dito sobre as acusações feitas por Marcos Valério, não desmereço nem a habitual e sempre desmedida exploração política na imprensa e na TV, mas a importância está no que disse Antonio Fernando de Souza, ex-procurador-geral da República. Foi divulgado no site G1 e reproduzido a meio de um texto discreto no “Globo”, encabeçado pela recusa do atual procurador-geral Roberto Gurgel a comentar as acusações.

Eis um trecho representativo: “A informação que eu tive é que esse depoimento é baseado no ‘eu acho’, ‘eu vi’, ‘me disseram’. Não sei o que o Ministério Público Federal tem a fazer, mas pelo que vi não tem nem o que fazer, porque não tem documentos, não tem data. Só tem a fala, sem indicação de como confirmar isso, pelo que sondei”.

Quem diz isso é o autor, quando procurador-geral, da denúncia formulada ao Supremo para realizar-se o chamado julgamento do mensalão, e na qual o ministro Joaquim Barbosa baseou o teor do seu relatório.

É, ainda, alguém que “sondou”, obviamente na própria Procuradoria-Geral detentora das acusações de Valério, e “teve informação” a respeito. Seu conhecimento do material não vem, portanto, como o divulgado e utilizado pelos meios de comunicação e políticos, de frases e trechos extraídos por quem os quis em circulação. Os ministros Joaquim Barbosa e Marco Aurélio Mello, como previsível, recomendam a investigação das acusações. De fato, não haveria motivo para deixar de fazê-la.

Se bem que, pelo evidenciado ao ex-procurador-geral, investigar ainda seja apenas espremer as palavras de Valério em busca ao menos de indícios, que o Supremo sabe como transformar em consequências penais. É a verificação que Roberto Gurgel, se não fez, não deixará de fazer. Mas o que já está divulgado fortalece a informação de Antonio Fernando de Souza: com a diversidade de fatos secretos e de personagens a que se refere, Marcos Valério saberia demais para que tudo seja verdade.

Conversas entre Lula e Palocci, pormenores da morte de Celso Daniel, transações financeiras na China, encontros com Lula e Dirceu, encontros de um com o outro, autoria de medida provisória, projetos da Portugal Telecom –é muito, e não é tudo. E só bombas – sem as necessárias espoletas. Tratando-se de um aventureiro, está muito bem. Faz o jogo dele quem quiser. Os outros esperam pelo acréscimo de algo mais verossímil. Ou pela percepção dos motivos de Marcos Valério para mais uma rodada do seu jogo.

SEM EXPLICAÇÃO

O Supremo, em sua sessão de segunda-feira, discutiu matéria constitucional. O já empossado ministro Teori Zavascki, que só não votaria a matéria penal do mensalão, nem estava presente.

Cabra bom.

3 comentários em “A voz autorizada

  1. Do jeito que eles gostam de trabalhar contra o PT e Lula (o único ex-presidente no mundo que é perseguido pela oposição por ser a maior liderança nacional!), é bem fácil o tal Gurgel e o presidente do STF acharem que Lula deve ser condenado.
    Esses tucanos deveriam se mancar por que nem oposição sabem fazer.

  2. O que eu sei é que quando surgiram os primeiros rumores, logo que o Marcos Valério foi condenado, a midia lulista disse que era invenção da midia adversária, pois o Marcos Valério não dissera nada pra ninguém e que os tais interlocutores para quem ele teria falado não passavam de invenção dos golpistas.

    Agora quando não há mais como negar que o Marcos Valério fez mesmo as acusações oficialmente a tática da midia lulista é descredibilizar o denunciante. O problema é que até bem pouco tempo o Marcos Valério era um caro amigo dos petistas. Aliás, foi exatamente por esta cara amizade que ele foi condenado.

    O que é bom de tudo isso é que para desviar a atenção a Dilma a cada escândalo abre um saco de bacanidades. O último foi a redução da conta de energia. Ainda bem, pois o preço estava pela hora da morte.

    Vejamos, agora, qual será o próximo lance…

  3. Caro Gerson,

    O Diário publica hoje, no espaço do leitor, um texto de minha autoria, sobre a campanha contra Lula. E o jornal nao pode ser acusado de pertencer aa “mídia lulista”. Aquele abraço.

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