Por Inácio Araújo
“A Rede Social”, de David Fincher, está sendo considerado por muitos críticos nos EUA o melhor filme do ano. Não sei se é. O pior, certamente, não é. Longe disso. Conta-se ali, como todos já sabem, a história do inventor do facebook. Mas não é bem isso que interessa a Fincher e ao filme, nem mesmo os desdobramentos jurídicos da história, com o inventor sendo alvo de uns tantos processos.
O principal, me parece, é uma certa trajetória contemporânea do gênio. Mark Zuckerberg é, sem dúvida, genial. Distingue-se entre os estudantes de Harvard. Trabalha com computadores melhor do que qualquer um. Qual seria a trajetória do gênio em outros tempos? Um Freud, Einstein, uma Mme. Curie, etc., iriam trabalhar em algum laboratório, em alguma universidade, formular hipóteses fantásticas, descobrir doenças e curas e mais o que fosse.
O gênio contemporâneo é instantâneo e lucrativo. Zuckerberg teria 20 anos, se tanto, e era não mais que um nerd chato quando criou o facebook. Hoje é um bilionário. Bem, o filme gira em torno disso. Gira, por exemplo, em torno da saída de Harvard, do soturno, gélido e aplicado ambiente universitário para a Califórnia do sol, das oportunidades. E do espetáculo, claro. Lá estão os bilhões. Mas o que fazer desse conhecimento? E desses bilhões?
Muito bom ter idéias lucrativas, absurdamente lucrativas como o mundo da internet promete e, não raro, cumpre. Fincher não parece muito disposto a elevar essa categoria ou essa aplicação do gênio aos céus. Esse é um gênio solitário, por um lado, e inútil, por outro.
O sucesso do Facebook é característico dos tempos da internet, ou seja, maníaco. Mas o fato é que poderíamos viver muito bem sem ele. Digamos que Freud criou a psicanálise. Não é necessário ir ao divã para saber que o mundo foi afetado de maneira profunda por isso. Será que criações como o Facebook nos levam a alguma parte, ou só a novas criações que substituirão um dia o Facebook? Em um nível, não importa: o cara é um quaquilionário. Em outro, o filme fala dessa mistura de narcisismo e solidão que envolve esse tipo de atividade.
A parte da solidão é a mais bonita. Porque tudo gira em torno, a rigor, da perdas de Zuckerman, isto é, as feridas que carregará consigo: a impossibilidade de participar de determinada confraria (dessas que existem nas faculdades dos EUA), e o fora que leva da namorada. Nenhuma das duas é minimamente profunda, o que talvez ilustre o que é, para Fincher, o destino da humanidade deste século. A conferir nos próximos capítulos.
Taí uma boa pedida para o clone.
Um bom filme atual como a informação instantanea de hoje em dia.