Coluna: Refúgio dos renegados

Por capricho do destino, o estádio Barbalhão, em Santarém, será palco pelo segundo ano consecutivo de uma decisão do Brasileiro da Série D. No ano passado, o São Raimundo sagrou-se campeão ao derrotar o Macaé (RJ). Neste domingo, o título será decidido por América (AM) e Guarani (CE).
A história do valente América, clube surgido nos arredores da capital baré, merece algumas observações. O time chega à decisão da Quarta Divisão sem desfrutar de patrocínios oficiais, reforços famosos e muito menos comissão técnica importada. Pelo contrário, penou bastante para custear as viagens e gratificar o limitado elenco.
Aliás, não há como não ver na classificação do América à Série C um irônico contraponto às gastanças destrambelhadas do Remo, cuja folha de salários na Série D batia na casa dos R$ 350 mil. Aliás, o time amazonense – que ficou em segundo lugar na primeira fase – vendeu caro a derrota no Mangueirão para o time de Giba (gol de Héliton).
Só se surpreende com a trajetória heróica do América quem se acostumou aos métodos perdulários de Remo e Paissandu. Lá, funciona a matemática simples. Jogadores sem pedigree, garimpados na região, ganham salários inferiores a R$ 3 mil.
Pode-se dizer que o colorado do Amazonas é um refúgio de renegados, como os paraenses Fitti e Ivan, titulares absolutos da equipe que jamais teriam chances no Remo de Giba. Caras talhados para a Série D se juntaram, meio por acaso, para levar o América à Série C. Deu certo.
 
 
No turbilhão de notícias ruins (leilão do Baenão, calote a funcionários e riscos de novas ações trabalhistas), defensores da atual diretoria do Remo insistem ainda em lamentar o desfecho da transação com as construtoras Agre/Leal Moreira pela área do Evandro Almeida. Alguns culpam conselheiros e beneméritos que se opuseram à tresloucada idéia. Bobagem. Para sorte do próprio Remo, a venda não se consumou por óbvia incompetência na condução do negócio, que concentrou por completo a atenção do presidente Amaro Klautau ao longo de 14 dos 24 meses de seu mandato. Somente ele representou o clube nas tratativas com as firmas interessadas. Portanto, o insucesso do negócio não pode ser atribuído a ninguém. É, por justiça, mais uma obra da atrapalhada gestão AK.
 
 
Quando os ventos da decadência começam a bater na janela tudo é motivo para crítica e censura. Desde os tempos de jogador no Flamengo, Luxemburgo sempre foi chegado a um jogo de cartas, mas enquanto colecionava títulos ninguém dava a mínima para o vício. Havia tolerância e compreensão. O dispendioso passatempo (o técnico encara rodadas de até R$ 1 milhão, segundo a Revista da ESPN) só virou o monstro na sala porque o treinador está há seis anos sem ser campeão nacional. O futebol, como a vida, não poupa o fracasso.  

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 7)

4 comentários em “Coluna: Refúgio dos renegados

  1. Klatau, na minha opinião, foi o melhor presidente que o finado teve. Sua iniciativa de querer acabar com o pouco que ainda existe no foco da dengue é racional, não sendo por acaso aquelas marretadas no chamador de azar. Sujeira é para ser removida, não foi para mais do que isso que ele atentou.

  2. CARLOS BERLI: Talvez tenhas a intenção de mostrar a imcompetência do Amaro, mas não atinja a instituição Clube do Remo, pois ela é fruto de seus dirigentes. Ela é uma vítima desses saqueadores, da mesma forma que é o teu Paisandu.

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