Coluna: Das verdadeiras intenções

Desde que o mundo é mundo, no futebol – assim como na política – quase todo gestor culpa os antecessores pelas mazelas que surgem. O artifício, apesar de óbvio e manjado, sempre surte algum efeito. Num país em que fiscalizar as administrações não é prática corrente, as críticas acabam adquirindo ar de verdade, mesmo quando agridem os fatos.
No futebol paraense, particularmente na vida política de Remo e Paissandu, os presidentes se sucedem e o doce esporte de atirar responsabilidades nas costas do antecessor é praticado à luz do dia, sem qualquer constrangimento. No momento, a moda entre os dirigentes azulinos é uma caça às bruxas disfarçada de arqueologia gerencial.
Em meio à operação de guerra para venda do Evandro Almeida, a diretoria alveja administrações passadas, acusadas de levar a agremiação ao atoleiro em que se encontra. De Raimundo Ribeiro a Licínio Carvalho, passando por Rafael Levy, Ubirajara Salgado, Roberto Porto, Manoel Ribeiro e tantos outros. Não escapa ninguém à metralhadora revisionista dos atuais dirigentes.
Curiosamente, nenhum erro é admitido pelos atuais ocupantes, que não assumem sua parte nos descaminhos. É fato que numerosos erros de avaliação e delitos contábeis foram praticados pelos outros gestores.
Uns pecaram por inépcia, outros por consumismo inconseqüente, alguns por puro despreparo. Mas houve também quem se empenhasse em fazer bom trabalho. E é forçoso reconhecer a natureza não menos danosa de atos recentes.
No afã de justificar a obsessão em fechar a transação imobiliária, o mandatário atual alega que herdou dívidas monstruosas. Esquece de observar que teve a oportunidade de – a exemplo de Luiz Omar Pinheiro no Paissandu – quitar os débitos aos poucos, mas virou as costas para os acordos assumidos na Justiça do Trabalho desde 2006.
Optou por descumprir todos os prazos, forçando a execução sumária da dívida de R$ 8 milhões pelo TRT, através da venda do Baenão. Chega a ser risível, portanto, que a fatura final pela perda do patrimônio seja repassada às antigas diretorias. Se houve negligência no passado, a irresponsabilidade administrativa do presente foi muito mais grave. Resta saber se tamanha omissão foi deliberada ou não.  
 
 
Bem mais bizarra que a destruição a picaretadas do escudo que ornava o pórtico do estádio Evandro Almeida, na segunda-feira, foi a tentativa de transformar em celebração um desfecho que devia inspirar constrangimento e vergonha. Indiferente ao ridículo da cena, o presidente desfilou pelos canais de TV e emissoras de rádio, aparentemente orgulhoso de seu feito. Se nossos clubes fossem instituições realmente sérias, o desmanche (forçado por decisão judicial) de um patrimônio jamais deveria estimular festejos. A não ser que as verdadeiras intenções estejam ocultas. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 29)       

23 comentários em “Coluna: Das verdadeiras intenções

  1. Não bastasse as múmias do Condel, ainda tem essa impressa retrógrada deste Estado contra a modernidade do clube. É por essas e outras que somos uma cidade atrasada. O pior é que esses “profissionais” da nossa “grande” imprensa são os mesmo há décadas. Gente com pensamento de décadas atrás. Estes “confrades” nem seque se atualizam, até os termos que eles usam nas “jornadas” são antigos. Renovação de mentalidade já!!!

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  2. Na minha opinião tudo premediatado. Não houve sequer o mínimo de esforço e interesse para resolver a questão de outra maneira, nem a vontade de despertar no torcedor a comoção para a situação crítica do clube. A gestão RR foi péssima, mas por incrível que pareça não foi pior que a de AK. O Condel fúnebre aparenta ser sua maioria descompromissada, inoperante. Quando esses desunidos se reúnem nada decidem, agora tomarão a certa mas drática atitude de anular o ato e destronar o presidente. Perderão de novo e segue a invencibilidade da má gestão. Leibrái-vos do Moto. Sem stress.

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    1. Sem stress. Só um único reparo. Os conselheiros, tem, sim, compromisso.Só que com a venda do estádio. Tanto que autorizaram que a operação fosse realizada. Agora eles ficam com esta encenação, dizendo que são contrários à operação.

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  3. Eu só faço é achar graça dessesbando de abestados!!

    Mas, ao mesmo tempo me preocupo. Pois, fatalmente o paysandu vai ser arrastado junto com o remerda!

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  4. Só pra lembrar, Gerson e amigos, a Tv Cultura, segundo sua programação para hoje, em seu Site, transmitirá o jogo Fortaleza x São Raimundo, a partir das 15:45hs.

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      1. Te contar essa Tv Cultura. Penso que tem que trocar o diretor de esportes. Te dizer, mas o torcedor fica perdido, querendo saber se vai passar ou não um determinado jogo, aí ela coloca na programação e não passa. Aqui pra nós.

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  5. È muita perseguição ne gerson??? é descarado a tua implicância com o AK, pois o Raimundo ribeiro que desde 94 começou com as dividas do clube tu não falou nem a metade??? QUE PARCIALIDADE JORNALISTICA!!!!!!!!! ja escrevi aqui e vc não respondeu, Porque não convida o AK para um debate no bola na torre??????????? isso vc não faz né??? olhar nos olhos dele e falar tudo que vc escreve no jornal. Eu como torcedor quero ve quem é quem frente a frente!!!!

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    1. Concordo plenamente contigo, Vitor!!! Pegar um blog e sendo editor-chefe de um jornal é fácil bater em todo mundo. Queria ver se tem coragem de fazer isso frente a frente, deixando é claro as preferências políticas de fora. Mas será que tem coragem?

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      1. Meu caro, o blog é jornalístico e – pela própria natureza do autor – permite e estimula o contraditório. Dizer que aqui se “bate em todo mundo” é uma clara distorção dos fatos, pois a crítica (sempre de alto nível) visa esclarecer fatos obscuros dessa negociação. Se esclarecidos, não haveria mais nada a discutir aqui. Talvez o que você não aceite é justamente a confrontação dos fatos e aí entramos no terreno da intolerância. O espaço do blog está aberto, aliás sempre esteve, a quem queira (o presidente, inclusive) se manifestar sobre a venda do Baenão.

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      2. Gerson, não perca tempo com essa figura que é clone. Todas as postagens neste sentindo é de um só. Sabes disso.

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    2. Respondo a todos os questionamentos, meu caro, inclusive de quem não assina comentários com o próprio nome e se esconde no anonimato “corajoso”, como é o seu caso. Mas, não tem problema. Só entenda o seguinte: não sou um debatedor ou polemista, sou um jornalista. Portanto, aceito esclarecer publicamente com o sr. AK, em qualquer instância e nível, pontos obscuros e informações desencontradas sobre a transação. O que você qualifica de implicância é apenas legítima preocupação com os fatos. Há quem abaixe a cabeça e engula o prato feito oferecido pelos dirigentes, mas não é o meu caso. Eu, ao contrário de muitos, tenho o incômodo hábito de pensar. Você, que certamente acompanha o meu trabalho, sabe bem disso. E todos os que frequentam o blog, leem o que escrevo e ouvem o que eu digo têm inteira ciência disso. Sou um jornalista, trabalho há 32 anos, sempre com seriedade e dedicação ao meu ofício. Não me confunda com oportunistas, por favor. Se quer esse tipo de pseudo-jornalismo, procure outros blogs e endereços.

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  6. Meu informante me enganou ele disse que o Gerson era remista porém começo a crer que ele é comprade do Bostão do Berlli e torce é pro time dos bambis paraenses.

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  7. O Professor do maternal e o clone invejoso estão chegando no ponto, como diz o bom doceiro. O primeiro vive sendo enganado, deste vez pelo informante, o segundo bem, este nem o gato interrava se fosse seu produto expelido.

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  8. Já que a pocilga foi vendida, esperamos que não demore a implosão da área para mudar o cenário da Almirante naquele trecho. Recomendo que antes da total demolição e antes de começar a real mofificação da área, seja celebrada uma missa campal para espantar os maus fluídos.

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  9. Já que a pocilga foi vendida, esperamos que não demore a implosão da área para mudar o cenário da Almirante naquele trecho. Recomendo que DEPOIS da total demolição e ANTES de começar a real mofificação da área, seja celebrada uma missa campal para espantar os maus fluídos.

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  10. Concordo plenamente com o artigo, equanto no futebol nao se aplicar a “lei de responsabilidade fiscal’ o remédio adotado pelo presidente remista será apenas paliativo, e em breve descobriremos que toda a prosperidadde festejadas e comemorada por aqueles que concordam, será falsa!

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