Coluna: Sobre teimosia e escolha

Assim que Neymar e Ganso começaram a estraçalhar a bola no Santos fiquei com a esperança de que a Seleção Brasileira os recrutasse para compor elenco, pelo menos. Aquela famosa tática de dar experiência a moleques na briga de cachorro grande que é a Copa do Mundo, como ocorreu com Pelé em 1958, Edu em 1966, Bismarck em 1990 e Ronaldo em 1994.
Ingenuidade total de minha parte. Dunga, do alto de sua casmurrice, resmungou – com o endosso de Carlos Alberto Parreira, que levou Ronaldo aos EUA, mas não usou – que a dupla santista é jovem demais para ir à guerra. A juventude virou desculpa para barrá-los no baile. Bobagem. O futebol, como o tênis, é um esporte cada vez mais dos jovens. De mais a mais, como já dizia o poeta, sabiamente, o novo sempre vem.
A lamentar que tamanhas demonstrações de talento estejam sendo deliberadamente ignoradas, como se futebol dependesse de tempo de serviço ou registro em carteira. Na seleção de Dunga e Jorginho, antiguidade é posto. E ponto. A história do futebol brasileiro desmente esse critério na figura daquele que é o exemplo máximo de categoria e genialidade em campo.   
Pelé, aos 17 anos, foi convocado por Vicente Feola para disputar o Mundial da Suécia. Arrebentava nos treinos, mas nada do gorducho treinador dar uma chance entre os titulares. Quando o conselho de veteranos do escrete percebeu a injustiça, tratou de peitar Feola. Nilton Santos, Zito, Didi e Bellini praticamente impuseram a escalação do futuro Rei. E o resto da história está nos compêndios.
Pelas escolhas feitas e pelo perfil ressentido que expressa a cada entrevista, desconfio que o jovem Pelé não teria a menor chance com Dunga no comando do selecionado. Não seria sequer convocado, como provavelmente Neymar e Ganso também não.
 
 
Pena que o auge dos garotos talvez seja exatamente agora ou pouco mais à frente. Talvez até a Copa de 2014 a situação já não seja a mesma. A vida tem caprichos e, no caso dos atletas, muitos fatores influem no rendimento. Até mesmo a frustração. Por sorte, justamente por estarem apenas começando, ambos mantêm o entusiasmo próprio da idade.
Lembro, porém, que um supercraque da estirpe de Maradona até hoje se ressente de ter sido ignorado por César Luis Menotti em 1998. Em entrevistas, El Pibe não esconde: aquela foi sua maior frustração. Queria ter sido campeão mundial e sabia ter futebol para jogar. Talvez Neymar e Ganso só venham a entender o tamanho do prejuízo daqui a algum tempo.
Nós, que apenas observamos (e torcemos), já temos uma idéia da falta que os dois craques farão ao Brasil na África do Sul. O time que Dunga tem nas mãos não conta, à exceção de Robinho, com nenhum driblador. Tem 350 brucutus, mas nenhum anjo torto. Anjos sempre fazem falta.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 16)

10 comentários em “Coluna: Sobre teimosia e escolha

  1. “Quando o conselho de veteranos do escrete percebeu a injustiça, tratou de peitar Feola. Nilton Santos, Zito, Didi e Bellini praticamente impuseram a escalação do futuro Rei.” Só “ruins” de bola nesse conselho hein Gerson!?

    Quanto ao Dunga, não cometerei o crime de lesa-pátria futebolística, torcendo contra a Seleção por conta desse brucutu que é o treinador canarinho. Mas que dá uma vontade, ah isso dá!

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  2. O Dunga tem que pedir aos seus atlétas de cristo para orarem bastante, participando de 2ª a domingo dessas sessões de descarrego para que a seleção vá bem. Pois do contrário….

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  3. Gerson, se o Ganso e o Neymar não forem convocados, o culpado não é o Dunga, mas sim quem colocou ele lá. Ele apenas está utilizando as técnicas que ele aprendeu quando jogador, com os treinadores: Zagallo, Parreira, Lazaroni……com esses técnicos, não pode esperar muita coisa do Dunga.

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  4. Dunga diz que não quer repetir o mesmo erro de Parreira (que escalou um time de medalhões fora de forma) está no mesmo caminho do seu antecessor ao ignorar o momento desses garotos. Pior para a Copa do Mundo.

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  5. O Dunga que repetir a familia Scolari,em 2002 Felipão foi para a copa com seu grupo fechado e sem dá bolas para a imprensa que cobrava a convocação do Romário.

    A diferença é que o Scolari tinha no seu grupo o Ronaldo Fenomeno em forma e doido para dá a volta por cima,Ronaldinho Gaúcho com apenas 22 anos e o Rivaldo jogando um bolão. O Dunga tem o Elano,Julio Batista e o Kaká bichado.

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  6. Em 2002, Ronaldo vinha de lesao e a torcida pedia pro big phil barrar o Rivaldo, alem de pedir pelo baixinho. O Dunga disse que nao fica e ja deve ter o discurso da derrota pronto.

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