Não foi pela derrota, que seria um resultado normal. A surpresa está na goleada acachapante, construída em poucos minutos de bola rolando no segundo tempo, por ação direta de um único jogador, o meia-atacante Testinha. Na prática, o Paissandu foi a Rio Branco buscar a classificação e trouxe para casa um tremendo problema: a necessidade de chegar aos 16 pontos e torcer ainda para que Águia e Rio Branco tropecem.
O jogo de ontem foi inteiramente favorável ao Rio Branco desde os primeiros movimentos. Sem criatividade, até os 10 minutos o Paissandu não havia conseguido disparar um único chute a gol. Seus meio-campistas e atacantes abusavam da lentidão e dos passes errados. Inexplicavelmente, Zeziel fazia o papel de terceiro atacante, enquanto Michel se limitava ao trabalho de armação.
Ao contrário, o time da casa pressionava bastante, buscando as tramas pelas extremas, através dos laterais Ley e Renatinho. Na primeira tentativa de jogada tabelada, em velocidade, Testinha acertou um chute forte na trave. No lance, o goleiro Rafael Córdova fez o chamado golpe de vista, assustando-se quando a bola estourou no poste esquerdo.
Instantes depois, o lateral Renatinho abriria caminho para a vitória, ao disparar da intermediária um chute certeiro, no ângulo. A desvantagem no placar alquebrou ainda mais o Paissandu, que continuou a errar muito, sem forças para ameaçar a defensiva do Rio Branco.
No começo do segundo tempo, já com Tiago Silva substituindo a Michel, o Paissandu conseguiu seu melhor lance até então e quase chegou ao empate. Zé Augusto finalizou duas vezes, mas a bola acabou desviada em cima da linha do gol pelo atacante Zé Carlos, que se desequilibrou no último momento. Desgraçadamente, o Rio Branco saiu rápido ao ataque e Testinha apareceu livre para marcar o segundo gol dos donos da casa, escorando cruzamento perfeito de Rogério Tarauacá, que passou sem dificuldades pela marcação de Jucemar.
Cinco minutos depois, Testinha fez o terceiro gol, aproveitando lançamento de Juliano César. Logo a seguir, lançado em velocidade, Testinha dominou a bola com habilidade, passou por dois zagueiros e tocou na saída do goleiro Córdova. Por sorte, o endiabrado meia acabou deixando o campo logo depois, substituído por Hendrix. O Paissandu ainda tentou descontar, através de Zé Augusto, em dois lances agudos na área, mas ficou nisso.
A goleada tirou o Paissandu da liderança e confirmou a impressão de que o Rio Branco é o melhor dos times do grupo. Além disso, deixou algumas lições preciosas: Zé Augusto e Zé Carlos não podem atuar juntos quando o time precisa explorar o contra-ataque; Michel ainda não estava pronto para estrear e Jucemar (que falhou em três gols do Rio Branco) está longe da melhor forma física.
Apesar dos desfalques, Valter Lima falhou ao escalar um meio-campo de pouca capacidade de marcação. Acertou ao tirar Michel, que deveria ter sido substituído por Paulo de Tárcio, e ainda demorou a lançar Balão. Erros que custaram muito caro ao Paissandu e que não podem se repetir na quinta-feira, diante do Luverdense.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 13)
Gérson, entra ano e sai ano, e os times paraenses (Paysandu e Remo) são os que mais investem nas formações de seus times. Não discuto, embora seja relevante, as procedência das contratações, ou seja, a qualidade técnica dos atletas que prestam serviço aos clubes, e até mesmo a capacidade dos treinadores, sejam eles locais ou “estrangeiros”. O que me incomoda é a falta de indentitade dos times nas competições, principalmente nos torneios nacionais. Venho batendo nesta tecla faz bom tempo: nossos times carecem de uma filosofia de jogo, de uma postura em campo que imprima aos mesmos características ímpares e que, consequentemente, lhes atribuam o respeito dos seus adversários.
As chamadas “escolas” do futebol são o maior exemplo dessas característas ímpares que cada equipe, de cada região do planeta, possue. Muito se fala da tradição dos gaúchos em competições ao estilo “mata-mata”, como Copa do Brasil e Copa Libertadores. Lógico que nem sempre se pode ganhar tais competições, mas de onde advém essa tradição que torna Grêmio e Inter, por exemplo, adversários indigestos para qualquer outro time que os enfrentem? É a raça, a disposição e a concepção de um futebol onde toda a bola é “bola boa”, não há “bola perdida”. É algo um tanto quanto existencial, de essência mesmo. Não à toa, em que pese os apelos de marketing, o tricolor gaúcho é chamado de “imortal” e o colorado de “campeão de tudo”. Não é mera alcunha de torcedores fanáticos por seus clubes. Isso independe de treinadores, mesmo cada um tendo preferências por esquemas táticos diversos ou por jogadores diferentes, e independe mesmo até dos presidentes dos clubes, que contratam bem ou mal ou tenham gestões perdulárias ou vitoriosas à frente dos mesmos, o que é normal no mundo cíclico do futebol.
Essa é, pra mim, a grande questão, Gérson. Qual a essência de Paysandu e Remo? O que os identifica em meio aos outros times país afora e aos seus próprios torcedores? Será que o não comparecimento aos estádios não seria também um componente desse impasse? Por que o Paysandu não consegue se impor fora de seus domínios, se apequena? Enquanto essa crise existencial não passar, enquanto Remo e Paysandu não sairem do divã, continuaremos perdendo para times sem nenhum histórico no futebol nacional e, o que é pior, para times como o de ontem, onde um lateral esquerdo que, mesmo sendo uma lateral, não sabe nem alçar uma bola na área adversária. Onde viemos parar hein!?
Abraços!
Daniel,
Parabéns pela análise. Concordo quanto à ausência de um estilo que diferencie nossos clubes dos demais, que faça com que sejam respeitados (e temidos). O exemplo da dupla Gre-Nal é talvez o mais forte de todos: de fato, o sentido de marcação que a gauchada tem é visceral e assimilado facilmente por todos os jogadores que eles contratam – mesmo gente que sai de centros onde impera a moleza, como o Rio. E é inadmissível que nossos dois maiores clubes se apequenem tanto quando saem de Belém. É uma frouxura tão enraizada que afeta (e contamina) até jogadores vindos de outros centros. Confesso que não sei o que pode ser feito para mudar esse panorama, até porque a decadência técnica dos times aumenta o medo de arriscar.
Caro Gerson,
desde a partida do Paysandu com o Rio Branco aqui em Belém, já era possível notar que o time acreano era uma boa equipe. Perdeu àquela altura (3×1) pois pecou por uma certa ousadia. Atacou desde o início da partida, tanto é que abriu o placar. Só a imprensa paraense (como um todo) não via a qualidade do Rio Branco e ventilava de maneira generalizada, até como favas contadas, a classificação dos dois paraenses. Pois fica claro que o Rio Branco vai pegar uma das vagas e Paysandu e Águia brigarão pela outra.
Como bom torcedor do Paysandu ainda tenho esperança que ficaremos com essa, tendo em vista a instabilidade do Águia como mandante. A situação é mais ou menos essa:
* O Rio Branco pode chegar aos 18 pontos. Mas como jogará duas fora (Sampaio e Luverdense) deverá chegar aos 14 ou 16 pontos.
* Ao Paysandu é imperativo vencer na quinta-feira o Luverdense. Com isso chegará aos 13 pontos e jogará a última rodada contra o Sampaio em São Luís podendo servir até o empate.
* A situação do Águia é um pouco complicada. Se empatar com o Sampaio em Parauapebas ( o que não seria absurdo algum) terá que vencer o Rio Branco no Acre, chegando assim aos 14 pontos.
* O Luverdense pode chegar no máximo aos 13 pontos. Tá fora. Tomara que consiga tirar algum ponto do Rio Branco.
* O Sampaio é o mais desmotivado. Tem 4 pontos e pode chegar aos mesmos 13 do Luverdense, brigando os dois contra o rebaixamento.
O que deve ser falado sobre essa série C é que grupos com 5 postulantes a 2 vagas é uma coisa muito interessante. Dificilmente alguém chega a última rodada sem pretensões.
Até!
Matheus Cunha
De fato, o Rio Branco começou muito bem aquela partida, chegando a fazer um gol e postou-se de forma valente até o final, mesmo depois de sofrer a virada. E não foi a primeira vez: todos os jogos do Estrelão aqui foram marcados por essa mesma atitude aguerrida e altiva. Quanto às possibilidades de classificação, creio que o Rio Branco ficará com uma vaga – como cheguei a avaliar em coluna da semana passada, depois da vitória do Paissandu sobre o Águia – e o Paissandu com outra. Explico: com três jogos a disputar, o RC pode chegar a 18 pontos. O Papão ganha o Luverdense na quinta e deve vencer o Sampaio na última rodada, mesmo em S. Luís. O Águia vence o Sampaio em casa, mas não passa pelo RC na Arena da Floresta. Luverdense e Sampaio decidem quem será rebaixado.
Grande Matheus, e haja mala preta, mala brancam mala azul, na ultima rodada….é esperar pra ver..
Não precisa ser gênio para golear times comandados pelo “mosca morta” Valter Lima. Llembram do 6 a 1 que o São Raimundo levou do Paysansu? ´Valter mais uma vez desmente os cronistas de Belém que dizem que o treinador é estrategista, motivador e tem visão de jogo. Assim como errou nas mexidas diante do Águia, ao tirar Balão no segundo tempo e deixar o caricato Jucemar, fez absolutamente pior contra o Rio Branco. É impossível não compará-lo com o técnico anterior. Na era Gaúcho, jamais esse time entrou tão na defensiva numa partida fora de casa como ontem; jamais o time foi tão sem sangue; jamais o time deixou de fazer gol; jamais levou goleada. Disse lá em casa que a vitória contra o Águia foi mais por conta da força da torcida e estrela de Zé Augusto do que por efeito “Valtinho”. E agora, será que ele vai dar de novo a desculpa da água batizada? E o presidente bicolor? Teve outro piripaque? E agora José?
Caro Gerson, apenas algumas observações. Não acho, mesmo com a goleada, o Rio Branco o melhor time da chave. Acredito que Paysandu, Águia e Rio Branco se equivalem em todos os aspectos. Vale lembrar que ano passado o mesmo Águia perdeu de quatro a zero para o Rio Branco e depois, ja no octogonal, ganhou no Acre. O quero dizer com isso? O resultado ontem dilatado ontem foi um acidente. Vejamos, no primeiro tempo o Rio Branco teve apenas duas chances de gol ao final do 1º tempo (além do gol), o chute de testinha não conto, pois não foi perigoso, o que foi perigoso foi a falha escandalosa do Rafael (que está merecendo um banco). No segundo tempo o Paysandu começou até bem, mas levou um balde de água fria com o gol de cabeça de Testinha no primeiro ataque do Rio Branco. Se analisarmos os outros gols foram caracterizados como falhas individuais. O terceiro de Jucemar e Mael (Jucemar deu a bola para Mael no sufoco) e de Rafael que snão deu um passo para frente para tentar feixar o ângulo do jogador e o quarto foi um chutão para frente em que a defesa entrou mole e deixou Testinha ganhar a bola por cima. O que incomoda no Paysandu? Apatia. Parece que o time só sabe jogar quando cobrado pela torcida. Acho um absurdo considerarmos que estão jogando fora de casa com uma torcida que se quer faz barulho no jogo (como os 6 mil do Rio Branco e os 3 mil do Luverdense), esses são jogos neutros. Joga fora é jogar contra 40 mil pessoas na bombonera (saudades daquele time). Acredito na classificação ate com uma vitória e um empate. Por que? Aguia e Rio Branco irão se enfrentar no último jogo onde matarão um ou outro.
Quanto a escalação do Michel, devo dizer que todos apoiamos Valter Lima antes do jogo. Quanto a Zé Augusto com Zé Carlos foi um equívoco. Sei que achas o Zé Carlos o melhor atacante do PSC, mas Zé Carlos não tem nem metade da velocidade de Vandick e Robson nos bons tempos, é um jogador parado que só faz o pivô. O PSC tem hístórico de atacantes trombadores, para mim, deveria ser Balão (para explorar o espao de Ley) e Zé Augusto (que foi quem conseguiu criar as melhores chances). Outra coisa, era visível a falta de ritimo de Mael, não deveria ter entrado jogando, mas eu também (como toda a imprensa) apoiou a entrada do melhor jogador do PSC.