Recebo material da assessoria de Nelsinho Piquet a respeito de sua atuação nos treinos livres para o sétimo GP da temporada de Fórmula 1. No autódromo de Kurtkoy, próximo a Istambul, na Turquia, em duas sessões de treinos marcadas pelo grande número de carros escapando da pista Nelsinho fechou o dia com o 10º melhor tempo – depois de focar seu trabalho no acerto do Renault R29 com pneus duros e em longas sequências de voltas.
Fico sabendo que Nelsinho completou 56 voltas nesta sexta-feira, sendo que 38 delas foram no treino da tarde – quando estabeleceu seu melhor tempo: 1m29s401. O mais rápido do dia foi o finlandês Heikki Kovalainen, da McLaren, com o tempo de 1min28s841. “Não estava fácil pilotar. A pista esteve muito suja e isso dificultou para aprender mais sobre o carro aqui”, disse Nelsinho Piquet.
Fico pensando… A essa altura do pagode, está óbvio que o filho não herdou o formidável talento do pai, o que é apenas normal. Continua lutando para conquistar seu espaço na categoria e talvez não merecesse o tratamento agressivo, rude até, que o dono da escuderia, Flavio Briatore, por vezes lhe destina. Fico imaginando se o italiano metido a besta nos tempos em que Piquet pai estava em plena forma. Certamente pediria licença até para falar. Na Renault atual, completamente fora de competição diante da surpreendente Brawn, Briatore deve muito mais explicações que Nelsinho.
Sinal dos tempos: quando editor de esportes de O Liberal, no começo dos anos 80, a redação era bombardeada por press-realeases das assessorias de um jovem piloto, Ayrton Senna, e de Chico Serra. Era um recurso de divulgação ainda incomum no esporte brasileiro. Curiosamente, nunca recebemos (eu e Julio Lynch, o outro editor, já falecido) nenhum mísero texto sobre Nelson Piquet.
Piquet era o anti-herói por excelência, desprezava o marketing pessoal e vai ficar definitivamente inscrito na história como o único desportista brasileiro a soltar um palavrão exclusivo para os microfones da Globo. Foi no momento da conquista de seu bicampeonato. Passou correndo pelo repórter global e soltou um sonoro “porraaaa”, que ecoa até hoje. Naquele tempo, é bom que se diga, a todo-poderosa dedicava-se a tentar emplacar Chico Serra, que não foi adiante. Depois, abraçaria com todo empenho a carreira de Senna. E aí já é outra história.
Mas, por essas e outras irreverências, além do incrível talento, virei piquetista convicto.
Gerson, existe um velho deitado, ops, ditado, que diz: filho de peixe, peixinho é….mas como toda regra tem exceção, o Piquet Jr faz parte dela…
É, infelizmente, Piquet Jr. desmente esse velho dito popular. Mas repetir o pai de fato não seria tarefa fácil.
Dizem as más línguas (as boas também) que o Galvão Bueno era sócio do Senna em alguns empreendimentos. Deve ser verdade. O fato é que nunca esqueço as transmissões de F1 pelo citado, e ficava me perguntando até que ponto ia o mal-caratismo de um cidadão que ficava, no afã de um ufanismo idiota, torcendo para chover (era notório que o Senna dirigia melhor na chuva que o Prost) para o francês rodar na pista, ou seja: sofrer um acidente. Sem dúvidas, Piquet era mais gente como nós.
Foi Galvão que espalhou a lenda de que, numa curva de Interlagos, Senna teria visto Deus… Égua… O pior é que, apesar de genial, Senna era também fã de uma trapaça. Tirou o Prost de uma corrida final pra se vingar do que havia ocorrido numa outra ocasião. Até acho compreensível, mas o problema é que Senna fazia o gênero rapaz do bem, imaculadamente ético… Nunca me enganou.
Ele era do bem, mas antes de tudo humano.