De repente, a velha Europa sacode a poeira e parte para um interessante processo de renovação da estrutura dos times, a começar pela função de técnico. Começou assim meio na moita, a partir da escolha de Jürgen Klinsmann para assumir nada menos que a seleção alemã na Copa de 2006. O fato não causou tanto alvoroço porque os alemães já tinham tradição nesse tipo de aproveitamento. Antes de Klinsmann, Beckenbauer também foi treinador do escrete, com sucesso.
Mas, no duro, as grandes mudanças começaram no ano seguinte, quando o Barcelona contratou Franz Rikjaard para treinador. José Mourinho, outro jovem técnico, já brilhava no Chelsea, depois de ser auxiliar (e discípulo) de Bob Robson no Barça. Ao mesmo tempo, Klinsmann deixou a seleção alemã e assumiu o Bayern de Munique, maior clube germânico.
O sinal definitivo da profunda alteração na filosofia dos clubes veio, para variar, do Barcelona. O clube catalão deixou de lado medalhões “importados” e optou, no fim de 2008, por Pep Guardiola, autêntica cria do Camp Nou desde as divisões de base e que foi capitão do time nos anos 90.
Sob desconfianças generalizadas, Guardiola iniciou o processo de renovação da equipe, afastando de imediato Ronaldinho Gaúcho. Deu força a jovens revelações e estabeleceu as bases do esquema vencedor com Xavi, Iniesta, Henry, Messi e Eto’o.
Os excepcionais resultados alcançados alçaram o ex-jogador à condição de astro entre os novos treinadores e exemplo para os demais clubes. Com ele, o Barcelona teve o melhor aproveitamento de sua história, o chamado triplete – Espanhol, Copa do Rei e Liga dos Campeões da Europa.
Leonardo, que saiu da função de dirigente para incorporar o agasalho de técnico do Milan, em substituição a Carlo Ancelotti, é produto direto do fenômeno Guardiola. Se a iniciativa catalã não tivesse sido tão bem sucedida dificilmente o brasileiro seria escolhido no Milan.
Como o espanhol, Leonardo não tem qualquer experiência como treinador e começa com a responsabilidade de empreender a renovação do time, um dos mais envelhecidos do continente.
O sopro de ar renovado que varre a Europa talvez seja nuvem passageira, mas sinaliza clara preferência por ex-atletas identificados com os clubes e suas torcidas. Como é natural, a tendência logo deve chegar por aqui. Com a vantagem de não mais provocar estranheza porque a própria Seleção Brasileira já adota esse princípio, tendo o ex-jogador Dunga no comando.
“Acho engraçado não falarem de sede que nem terreno para construção de estádio tem e de sede cujo melhor time é da quarta divisão. A coisa é eminentemente política”. A afirmação é de Adalberto Baptista, diretor de marketing do São Paulo, criticando os projetos de outras cidades-sedes da Copa de 2014. Baptista referia-se, obviamente, a Cuiabá e Manaus. Foi certeiro na crítica e repetiu o que é do conhecimento até do reino mineral: a Fifa não definiu suas sedes por critérios técnicos. Com o aval de Ricardo Teixeira, a coisa foi toda conduzida para contemplar altos interesses.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 04/06)