A pior das nossas derrotas

O anúncio formal da Fifa, direto das Bahamas, teve caráter apenas protocolar. A coluna de Ancelmo Góis, em O Globo, matou a charada ainda na sexta-feira, obviamente a partir de informações oriundas da própria CBF. Não há dúvida quanto ao peso do lobby, da influência política, dos conchavos e do interesse financeiro envolvido no processo de escolha das 12 cidades para a Copa 2014.
É de conhecimento até do reino mineral que critérios técnicos ou de tradição não decidem o jogo. De nada adianta saber quem tem estádio ou não, quem gosta de futebol ou boi-bumbá. O que vale é a grandiosidade dos projetos e, principalmente, o volume de dinheiro a ser gasto.
Claro que, na hora de contabilizar as estimativas de lucro, é sempre mais sedutor apostar num projeto caro, como o de Manaus (cerca de R$ 600 milhões), do que na reforma prevista para o Mangueirão, que não ultrapassaria a casa dos R$ 200 milhões.
Cifras movem o mundo, fazem a roda girar, mas sempre resta um fiapo de esperança. Aquela fagulha localizada entre o sonho e a realidade. Mas, quando começou a cerimônia de divulgação das escolhidas, a ilusão se desfez. Prevaleceu a frieza dos números, o peso das decisões de gabinete e a força dos grandes patrocinadores.
Belém tinha tudo para sediar jogos da Copa. Estádio, acessibilidade, tradição futebolística e experiência em eventos internacionais. Manaus tem hotelaria e o apelo do ecoturismo, mas nenhum vínculo com futebol. No entanto, levou a melhor. Não nos iludamos: aquele que era o nosso maior trunfo pode ter sido nosso mais pesado entrave. Ter um estádio pronto desestimula investimentos. Isso teve o condão de desinteressar os senhores da bola.
Alguns outros fatores também contribuíram para o revés. O mais evidente deles foi o descompasso entre Prefeitura de Belém e Governo do Estado. Juntos, poderiam fazer muito. Distanciados, dificultaram ainda mais o que já era difícil por natureza.
Outro aspecto a considerar é o equívoco na estratégia de inserção da candidatura no âmbito internacional. Um grupo de trabalho visando uma Copa do Mundo não podia ter estrutura exclusivamente regionalizada. Faltou desde sempre a participação de lobistas profissionais afeitos a esse tipo de disputa, como fizeram outras cidades.
Por fim, faltou força política para defender a candidatura nos bastidores, onde a guerra verdadeira se travou. Acreditava-se que o presidente Lula era nosso eleitor, mas na prática essa preferência não produziu efeito prático e a culpa certamente não pode ser atribuída ao chefe da nação.  
Resta agora, além do choro, buscar forças para reconstruir a imagem do Pará e a importância de Belém no cenário nacional. Talvez não seja o momento mais favorável do ponto de vista prático, mas é primorosa oportunidade de conscientizar os paraenses quanto às dificuldades terríveis que teremos pela frente, não apenas no campo futebolístico. A incompetência política não pode perdurar. Ser preterido na escolha da Fifa é apenas mais um capítulo do rosário de derrotas (e constrangimentos) a que o Estado vem sendo submetido nas últimas décadas. Que seja o último.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 01/06)

Um comentário em “A pior das nossas derrotas

  1. Caro Gerson Nogueira
    Desde que cheguei aqui no Pará leio sua coluna que muito me proporciona alegria pelo simples fato de admiro todo aquele que emite opinião sensata e imparcial independente do tema abordado.É um dos poucos jornalistas lúcidos que não exteriorizam paixão clubistica como faz por exemplo o Tommazzo.Por isso desejo manisfestar-me concordando em genero ,numero e grau com seu argumento ,bem embasado,diga-se de passagem,sobre os motivos de ter Belem perdido para Manaus a sub-sede amazonica para a Copa de 2014.Há ainda outros agravantes que só são percebidos por quem é de fora ,como eu.As pessoas sem generalizar é claro aqui em BELEM PENSAM ESTAR NO Paraiso,querem VENDER A IDEIA DE QUE Belem é linda e limpa e que tudo é do bom e do melhor ,simplesmente porque QUEREM e PENSAM.A bem da verdade Belem é linda sim tem potencial sim pra ser uma das mais belas capitais da America do Sul,mas a população não ajuda,inclusive quando deveria escolher melhor seus representantes tanto na esfera legislativa quanto na executiva.Darei um exemplo prático,eu estava no Paraguay e viajo sempre para outros paises e quando cito estar em BELEM AS PESSOAS QUE SÃO ENVOLVIDAS COM FUTEBOL PERGUNTAM PELO Paysandu…o clube mais famoso do norte,no entanto aqui no Pará pessoas insistem em me falar que o Remo é mais famoso….existe portanto uma realidade surreal vista só aqui enquanto a realidade tangivel é outra.Assim Belem perdeu para Manaus por não RECONHECER SEUS LIMITES E PELAS RAZÕES ENUMERADAS POR VOCE DE FORMA SERENA E JUSTA.cONHEÇO mANAUS BEM,ESTIVE UMAS SEIS OU SETE VEZES LÁ É UMA CIDADE HORRIVEL PERANTE BELEM,MAS ELES SE MOBILIZARAM E RECONHECERAM QUE A COPA É O MOMENTO PRA UM SALTO QUALITATIVO DA CIDADE E FORAM A LUTA.li na google que Manaus tem 200 mil habitantes a mais que Belem.Não parece,a cidade é menor que Belem,entretanto é cheia de periferias,casas espremidas umas às outras enfim Belem não é esse paraiso que os paraenses pensam ser ,contudo é superior duas vezes a capital Amazonense,mas não sabe reconhecer seus limites para se qualificar.
    Abraços
    Carlos

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