Sobre a arte de (bem) escrever

Costas europeias

Reginaldo Leme

Zebras acontecem em Mônaco. É nisso que acreditam também os ferraristas, que compõem a maioria da torcida deste lugar de 33 mil habitantes, dos quais apenas cinco mil são monegascos

Viajar de carro na Europa é um ótimo programa. Quem já fez, sabe bem disso. Para quem não fez, o meu conselho é um bom roteiro, um bom carro e tempo de sobra, pra poder parar onde der vontade. Só não pode ser em alta temporada para não correr o risco de não encontrar vaga em hotel algum, especialmente se o seu roteiro for pelas praias. Foi o que fiz nesta última semana, saindo de Barcelona para chegar a Mônaco. De auto-estrada pode ser feito num tiro só, de 800 quilômetros. Mas a graça da brincadeira é viajar pelas estradas costeiras. Da espanhola Costa Brava e da francesa Côte d’Azur. Especialmente na parte espanhola, algumas estradas são propositadamente bem rústicas para não interferir na natureza. Caminhos estreitos em serras íngremes, com uma cerca de madeira de 50 centímetros, apenas o suficiente para se saber onde termina o asfalto e começa a encosta da montanha.

Já na costa francesa, um pit stop para uma boa cerveja no porto de Cassis, que foi minha base durante nove anos nos GPs da França de 1982 a 1990, quando era disputado no agradável circuito de Paul Ricard. Dali em diante, La Ciotat, Bandol, Toulon, Hyeres, cidades e vilas da chamada Costa Provençal até entrar na Côte d’Azur e estacionar em St. Tropez por uns dias. O duro foi sair de lá. Mas já estava chegando o momento de eu estar em Mônaco e a passagem por St. Maxime, San Raphael, Cannes e Nice foi só pra matar saudades. Cannes agitada ao extremo em pleno Festival de Cinema, 62ª edição, sempre coincidindo com o GP de Mônaco, este criado bem antes, em 1929, quando ainda não existiam nem a F1 nem o Campeonato Mundial.
Mônaco é a base de muitos pilotos de F1, por questões geográficas e financeiras. A localização é boa para quem viaja muito e o imposto de renda é pago mediante um contrato negociado com o Governo. Entre os não residentes, o primeiro que vi chegar foi Lewis Hamilton, que também cogitou morar em Mônaco, mas acabou preferindo a Suiça, aconselhado por Michael Schumacher, que trocou o Principado pela calma vila suíça de Crans oito anos atrás. Hamilton vê a chance de repetir a vitória do ano passado como uma zebra. Mas zebras acontecem em Mônaco. É nisso que acreditam também os ferraristas, que compõem a maioria da torcida deste lugar de 33 mil habitantes, dos quais apenas cinco mil são monegascos. A aposta de Hamilton é no compatriota Button, que, em dez anos de F1, só uma vez chegou ao pódio de Mônaco (segundo em 2004). Barrichello, aniversariante de amanhã, já esteve mais perto da vitória (segundo lugar em 1997, 2000 e 2001). A chance de um novo vencedor é grande. Entre os que já ganharam aqui, Alonso, Hamilton e Raikkonen não andam bem no campeonato. Jarno Trulli, que teve aqui sua única vitória (2004), está um pouco melhor.

(Do site Grande Prêmio/iG)

2 comentários em “Sobre a arte de (bem) escrever

    1. Hehehe… ficou faltando mesmo, mas, em contrapartida, falou das belas cidades praieiras no trecho de 800 km entre Barcelona e Mônaco… Como diria Herbert Vianna, é nesses momentos que o viajar é melhor que a viagem.

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