Ministros do STM homenageiam bolsonaristas que atacam o Judiciário

Críticos ao STF como Silas Malafaia e Bia Kicis ganharam honrarias de juízes militares

Por Caio de Freitas Paes – Agência Pública

O Supremo Tribunal Militar (STM) condecorou com suas mais altas honrarias uma série de autoridades por terem “prestado reconhecidos serviços ou demonstrado excepcional apreço” à Justiça Militar, no último dia 10 de abril. Entre os homenageados estão figuras bolsonaristas que regularmente atacam o Supremo Tribunal Federal (STF) – esfera máxima do Poder Judiciário, ao qual a Justiça Militar está subordinada, a exemplo do pastor Silas Malafaia e do comentarista Guilherme Fiúza.

A lista de homenageados é definida em novembro do ano anterior por ministros do STM e, eventualmente, em reuniões extraordinárias do conselho da Ordem do Mérito Judiciário Militar. Ou seja, as honrarias foram definidas já durante o governo Lula e incluem dez parlamentares do Congresso, sendo três deles da base do governo e sete do centrão ou da oposição.

Um dos homenageados pelo STM foi o líder máximo da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pastor Silas Malafaia, visto no evento portando a insígnia de “distinção” da Justiça Militar abraçado ao ministro do STM e general quatro estrelas do Exército Lourival Carvalho Silva, indicado pelo governo Bolsonaro à corte militar.

  • Número 1 da turma formada na Academia Militar das Agulhas Negras em 1981, o general da reserva do Exército Lourival Carvalho posa para foto com o pastor Malafaia

Crítico contumaz do Judiciário, Malafaia já desferiu uma série de ataques públicos contra integrantes do STF, como, por exemplo, quando chamou o ministro Alexandre de Moraes de “ditador desgraçado”. O pastor esteve ao lado de Jair Bolsonaro (PL) em alguns de seus ataques mais inflamados contra o STF, como no dia 7 de setembro de 2021 na avenida Paulista, em São Paulo, quando Malafaia convocou fiéis para a marcha bolsonarista e subiu no mesmo caminhão de som do ex-presidente. Na mais recente manifestação do tipo, novamente na capital paulista, em fevereiro passado, Malafaia repetiu a dose, criticando mais uma vez a Corte.

Publicação do pastor Silas Malafaia mostra os bastidores da marcha bolsonarista do dia 7 de setembro de 2021

O comunicador bolsonarista Guilherme Fiúza foi outro dos agraciados com a insígnia de “distinção” pela Justiça Militar. Comentarista em programas de rádio e internet de veículos alinhados à extrema direita, Fiúza já chamou ministros do STF de “hipócritas”, dizendo à época da pandemia que “tem um autoritarismo na Corte” e que o “Judiciário se desmoraliza sozinho”. Logo após o fatídico 8 de Janeiro, o comunicador foi alvo de decisão judicial que bloqueou seus perfis em redes sociais por alegação de que estaria divulgando discursos antidemocráticos.

Segundo o regulamento da Ordem do Mérito Judiciário Militar, que define condições para a concessão das honrarias, “os agraciados deverão ter atributos de condutas moral, ética, pessoal e profissional idôneas, compatíveis com os valores cultuados pela JMU [Justiça Militar da União]”.

Em outras palavras, a condecoração no último dia 10 mostra que os ministros do STM enxergam tais qualidades também em outros homenageados no evento que celebrou o 216o aniversário da Justiça Militar.

Medalha de Ordem do Mérito Judiciário Militar feminina

A insígnia de “alta distinção”, por exemplo, geralmente se destina a figuras da política e do Judiciário. Uma das escolhidas para recebê-la neste ano foi a senadora e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo Bolsonaro Damares Alves (PL), que votou a favor de um projeto de lei que limita os poderes do STF.

Além disso, a ex-ministra mantinha em seu gabinete um dos suspeitos de tentar explodir uma bomba nas proximidades do aeroporto de Brasília em 2022 e uma pastora do “300 do Brasil”. A tentativa de explosão foi parte da trama golpista que culminou no fatídico 8 de janeiro de 2023, e estavam no acampamento extremista “300 do Brasil” os autores dos disparos de rojões e fogos de artifício contra a sede do Supremo em 2020.

  • Expoente do conservadorismo religioso e ex-ministra de Bolsonaro, a senadora Damares Alves (PL) recebeu a medalha de “alta distinção” da Justiça Militar

A insígnia de “alta distinção”  foi concedida também ao governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), e à deputada federal Bia Kicis (PL), dois ferrenhos bolsonaristas.

Kicis acumula críticas ao STF, ao qual já atribuiu um suposto “ativismo vil” no início de seu primeiro mandato, em 2019. Além disso, em 2021, a deputada criticou o Judiciário por supostamente pressionar deputados contra um projeto de lei para a adoção do voto impresso nas eleições federais do ano seguinte.

Aumentam, assim, as fileiras de bolsonaristas homenageados nos últimos anos. Em 2021, na época da pandemia, o STM deu honrarias para Anderson Torres, Eduardo Pazuello, Paulo Guedes, Ricardo Salles e outros do alto escalão do governo Bolsonaro.

Pública perguntou à Justiça Militar os motivos para homenagear pessoas que notadamente atacam o Poder Judiciário. Em resposta, o STM disse apenas que “os nomes citados atendem aos requisitos necessários às indicações para a Ordem do Mérito Judiciário Militar”. 

Em 2024, o STM homenageou também membros da cúpula do atual governo, como o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), além dos ministros da Educação, Camilo Santana (PT), e do Trabalho, Luiz Marinho (PT).

  • Procurador-Geral da República (PGR) Paulo Gonet recebeu a mais alta honraria do STM no evento – a medalha da Grã-Cruz

Também receberam as honrarias o deputado federal e ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Rui Falcão (PT), além dos ministros indicados pelo presidente Lula (PT) ao STF Cristiano Zanin e Flávio Dino.

As condecorações da Justiça Militar foram entregues em um momento importante politicamente para o STM. A Corte trabalha pela aprovação de projetos de lei no Congresso – como um que aumenta seus poderes judiciais e outro que lhe concederia assentos no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como já reportado pela Pública.

Há, inclusive, pessoas ligadas ao CNJ entre as homenageadas com a Ordem do Mérito do Judiciário Militar: a ex-conselheira Salise Monteiro Sanchonete, desembargadora federal do Tribunal Regional Federal da 4a Região indicada ao conselho pelo governo Bolsonaro, e o assessor jurídico Leonardo Peter da Silva, chefe de gabinete do conselheiro do CNJ Marcello Terto e professor no Instituto de Educação Superior de Brasília.

  • Presidente do STM, brigadeiro Joseli Camelo, cumprimenta ministro do STF Cristiano Zanin, outro agraciado com honrarias da Ordem do Mérito Judiciário Militar
  • Presidente do STM, brigadeiro Joseli Camelo, cumprimenta ministro do STF Cristiano Zanin.

Para o advogado Cláudio Lino, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Análise de Legislações Militares (Ibalm), a entrega das honrarias é uma forma de a Justiça Militar se aproximar de autoridades jurídicas e políticas para avançar com seus objetivos.

“Através dessas solenidades, ministros do STM conseguem se aproximar de seus objetivos políticos, além de agradar autoridades do próprio Judiciário e da política”, disse o diretor do Ibalm à Pública, alegando ainda que “não é salutar essa aproximação da Justiça Militar com a Justiça Civil”.

Crise de gols preocupa o Leão

POR GERSON NOGUEIRA

O Remo marcou somente três gols nos últimos cinco jogos – dois contra o PSC e um diante do Volta Redonda. É evidente que a crise ofensiva está diretamente associada à ausência de vitórias. Foram três empates e duas derrotas. Nessas partidas, o técnico Gustavo Morínigo viu-se obrigado a escalar sempre ataques diferentes.

Na série de quatro jogos contra o PSC, o Remo entrou com uma linha de ataque com Marco Antônio-Ribamar-Kelvin, outra com Echaporã-Ytalo-Sillas e uma terceira com Ronald-Ytalo-Felipinho. Diante do Volta Redonda, na abertura da Série C, a formação foi mais aleatória ainda: Felipinho-Sillas-Cachoeira.

É possível que no próximo compromisso, contra o Athletic (MG), fora de casa, o treinador defina outra linha atacante. Um estreante deve marcar presença. É Matheus Lucas, 25 anos, egresso do Boavista-RJ, que desembarcou em Belém na semana passada e está apto a jogar.

A insatisfação com o desempenho dos atacantes chega também à torcida, que não poupa críticas aos atletas responsáveis pela produção de gols. Ribamar, o centroavante mais escalado até agora, é reconhecido pela luta dentro da área, mas peca nas definições.

Não é o único. Ytalo foi bem no duelo com o Amazonas, mas não manteve a performance quando entrou contra o PSC. Lesionado, está por enquanto fora de combate. Kanu, terceira opção até a chegada de Matheus Lucas, nunca foi escalado como titular por Gustavo Morínigo.

Ficou no banco até mesmo contra o Volta Redonda, quando o técnico decidiu mudar radicalmente o ataque. Lançou Sillas, que teve rendimento pífio. Apesar de mostrar serviço quando entra, Kanu padece da síndrome de “jogador da base”, condição que é sempre rejeitada por técnicos importados. Morínigo não é diferente.

Para tentar derrotar o Athletic, necessidade absoluta após o tropeço na estreia em casa, o Remo terá que se reinventar do meio para a frente. É improvável que o ataque do último jogo seja mantido. Sillas e Cachoeira não mostraram qualidades para permanecer como titulares.

Matheus, a quarta opção, deve ser o escolhido para comandar a ofensiva. Tem credenciais. Marcou sete gols no recente Campeonato Carioca. É um atacante rápido, bom nas bolas aéreas e eficiente nas finalizações. Tudo o que o Leão precisa neste momento de estiagem de gols.

Textor vai à CPI e aumenta a ira da cartolagem

Enquanto a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, ataca o empresário John Textor, dono da SAF do Botafogo, acusando-o de ser um “câncer para o futebol” por denunciar esquemas de corrupção na arbitragem, mais aumenta a expectativa pelos resultados da CPI do Senado que apura possíveis irregularidades nas principais divisões nacionais.  

É curioso como os dirigentes dos grandes clubes não demonstram qualquer interesse na apuração das denúncias. Preferem culpar o denunciante. E não estão sozinhos. Figuras respeitáveis da mídia esportiva unem-se a essa campanha corporativa para descredibilizar o “gringo incômodo”.

Todos sabem que a arbitragem brasileira é uma das piores do mundo, não só no aspecto técnico. Embora não haja vigilância rigorosa sobre o trabalho dos árbitros, de vez em quando estoura um escândalo de grandes proporções, como o célebre caso Edilson Pereira de Carvalho.

Nessas ocasiões, as reações são sempre de espanto teatral. Pipocam declarações condenando os atos ilícitos, mas em seguida todos voltam à rotina de sempre, como se nada mais ameaçasse a pureza dos resultados.

No período em que se descobriu as bandalheiras de Edilson Pereira de Carvalho, o futebol não sofria os efeitos perniciosos da máfia das apostas. Uma apuração empreendida pelo Ministério Público de Goiás revelou, no ano passado, o envolvimento de dezenas de jogadores com o esquema de apostas eletrônicas. Surpreendentemente, nenhum árbitro foi citado.

Os resultados esquisitos e a mania de favorecer clubes grandes comprometem há tempos a imagem da arbitragem no Brasil. Quase todos os times têm suas queixas e alguns juízes são campeões nisso.

Rafael Claus, um dos principais árbitros do país, é também um recordista em polêmicas. A última delas foi o pênalti inexistente marcado contra o Santos, que assegurou ao Palmeiras a conquista do Campeonato Paulista.

No ano passado, Claus apitou Botafogo x Flamengo no returno da Série A e validou dois gols irregulares para os rubro-negros. Apesar dos protestos, ele segue atuando normalmente. E, em meio à perlenga com Textor, a CBF escalou Claus para o clássico Flamengo x Botafogo, no próximo domingo.

A CPI ouviu John Textor e os parlamentares ficaram impressionados com as denúncias apresentadas pelo norte-americano. É possível que muita gente seja indiciada após os depoimentos. Até lá, cartolas e jornalistas esportivos continuarão a atacar o autor das denúncias.

Em tempo: o presidente da CPI, Jorge Kajuru, por solicitação da Associação Nacional dos Árbitros, deve pedir a paralisação imediata do Campeonato Brasileiro. “É o maior escândalo da história do futebol brasileiro”, resumiu o senador.

Legend da OAB-PA disputa torneio Norte-Nordeste

A Seleção Legend de futebol da OAB-PA segue na sexta-feira, 26, para Aracaju (SE), onde disputará o torneio Norte-Nordeste, promovido pela Associação Liga dos Advogados e Advogadas do Brasil (Alifa). A competição começa no sábado, 27, e a final será disputada no dia 01 de maio. Os preparativos do time, sob o comando do professor Ronaldo Arruda Feio, indicam que há chances reais de conquistar o título e trazer a taça para o Pará.

O elenco é formado por Evandro Costa (Evandro Love), Mario Freitas (Mariogol), Rogério Freitas (Paredão), Junior Villar (Presidente), Wanderley Ladislau (Pinguim), Aires, Robson do Carmo (Cara de Peixe no Aquário), Walter Rodrigues e Eduardo Lobato. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 24)

A segunda parte da longa jornada do Partidão em busca da democracia

Volume aborda a trajetória do PCB (Partido Comunista Brasileiro) do IV Congresso, realizado em 1967 até 1992

Por Daniel Costa (*)

Após o lançamento do primeiro volume escrito pelo jornalista Carlos Marchi em 2022, a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) traz, para o público especializado ou não, o segundo volume do livro Longa jornada até a democracia – Os 100 anos do partidão (1922-2022), escrito pelo jornalista e escritor Eumano Silva, também coautor do vencedor do Prêmio Jabuti, “Operação Araguaia”. O volume aborda a trajetória do PCB (Partido Comunista Brasileiro) do IV Congresso, realizado em 1967 até 1992, momento em que os líderes da sigla estiveram sintonizados com os ventos de mudança ocorrido no leste europeu e foram inspirados pelo processo que culminaria na transformação do PCI (Partido Comunista Italiano) em PDS (Partido Democrático da Esquerda).

É nesse conturbado cenário que o grupo majoritário do partido opta pela mudança da sua linha política, deixando de lado os símbolos da foice e do martelo, o léxico revolucionário, passando a adotar a sigla PPS (Partido Popular Socialista).

Fruto de uma longa e densa pesquisa, Eumano Silva mostra, ao longo de 844 páginas, os tortuosos caminhos do Partidão no processo de enfrentamento à ditadura civil-militar implantada em 1964. O livro ainda aborda o processo de luta pela anistia e redemocratização, a relação do PCB com o novo sindicalismo surgido no ABC paulista no final da década de 1970, o surgimento do Partido dos Trabalhadores, agremiação que, apesar das afinidades ideológicas, seria um dos causadores (não o único) do eclipse do Partidão e, claro, as próprias crises e embates internos entre as diferentes concepções partidárias e estratégias e táticas políticas.

Nós, historiadores, geralmente, encaramos livros como o escrito por Eumano Silva com certo ceticismo acerca de possíveis qualidades, seja pela construção da narrativa do fato histórico, pelo enquadramento dos personagens seja por outras questões que são caras ao métier historiográfico. Porém, dado o rigor analítico, a diversidade dos personagens entrevistados, o denso embasamento bibliográfico e a farta pesquisa documental, arrisco dizer que, desde seu lançamento, ao lado do primeiro volume, a obra se torna referência para aqueles que desejam compreender não somente os tortuosos caminhos daquela que fora a grande referência para a esquerda brasileira até o surgimento do Partido dos Trabalhadores, mas também os caminhos e descaminhos da nossa democracia.

Como ressalta o jornalista Luiz Carlos azedo, responsável pela orelha do livro, “o PCB sobreviveu por sua política. Eumano Silva, por meio de documentos, depoimentos e pesquisas bibliográficas, reconstitui a trajetória desses heróis quase anônimos da luta contra a ditadura, muitos dos quais foram sequestrados, presos e barbaramente torturados. Poucos membros do Comitê Central permaneceram no país, mesmo caçados vivos ou mortos”.

Em um partido com oitenta anos de trajetória, considerando o período entre 1922 e 1992, as disputas internas seriam algo constante, em momentos extremos, causando inclusive rupturas – cabe destacar que, para pesquisadores dedicados à trajetória da agremiação comunista, a riqueza dos debates internos seria o motor para a formulação de políticas que daria relevância ao Partidão ao longo de sua existência. Tratar principalmente de rupturas em organismos coletivos nem sempre é uma tarefa fácil, geralmente opta-se em contar apenas a versão do lado vencedor, e aqui temos mais um mérito para destacar na obra, assim como ressaltar a postura do autor e da própria Fundação Astrojildo Pereira.

A pluralidade fica latente ao verificar a diversidade de personagens entrevistados para a construção da narrativa. Assim, o leitor terá a oportunidade de travar contato com a visão de figuras ligadas ao atual Cidadania, como o sindicalista paulista Davi Zaia; o historiador e jornalista Ivan Alves filho; o já citado Luiz Carlos Azedo e o ex-presidente do Cidadania Roberto Freire, um dos principais nomes do partido após o processo de mudança de nome e concepção, que ficaria a frente da sigla até 2023, quando foi substituído pelo professor Comte Bittencourt.

São ouvidos ainda personagens como José Genoíno, ex-integrante do PCdoB, que chegou a participar da guerrilha do Araguaia e hoje segue militando no PT, e Frei Chico, destacado militante do PCB paulista nos anos 1970 e irmão do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A diversidade de entrevistados abarca ainda personagens como o sindicalista carioca Ivan Pinheiro, uma das lideranças ao lado de Horácio Macedo, do grupo que se opunha ao processo ocorrido em 1992, que passaria a ocupar o cargo de secretário-geral do PCB “reconstruído” e em 2023 seria um dos articuladores de uma nova ruptura à esquerda dentro da pequena agremiação.

Por fim, em relação à diversidade de personagens ouvidos por Eumano, ainda podemos destacar nomes como a historiadora Marly Vianna, próxima do grupo prestista; o cientista político Marco Aurélio Nogueira, próximo do grupo de Armênio Guedes; José Salles; Florestan Fernandes Júnior; Mauro Malin, Marcelo Cerqueira e o ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco.

Desse modo, percorrendo os 181 capítulos do volume, Eumano apresenta ao leitor fatos de fundamental importância não só para compreender a trajetória do PCB, mas também como funcionava os meandros da repressão ao longo da ditadura civil- militar. Repressão que compreendia desde a tortura realizada nos tenebrosos porões até infiltração de agentes e delatores, como o notório caso do “agente” Carlos e a suposta delação de Severino Theodoro de Mello, tido como figura fundamental na perseguição ao Comitê Central do Partido, resultando na morte de dez integrantes da instância partidária.

Ao longo do segundo volume dessa longa jornada, o autor mostra ainda situações como a descoberta e desmantelamento da gráfica do PCB, responsável pela impressão do jornal “Voz operária”, a operação que resultou na transferência para a Itália do acervo de Astrojildo Pereira, um dos fundadores do partido em 1922. Figuram ainda casos como o tão falado “ouro de Moscou” e a disputa dentro do Comitê Central que culminaria na ruptura de Luiz Carlos Preses no começo da década de 1980.

Apesar do forte ataque sofrido pelos órgãos de repressão ao longo da década de 1970, a linha de atuação política tirada no Congresso realizado em 1967 começa a apresentar resultados. Mesmo sem deter a hegemonia política nas esquerdas e na oposição consentida – algo claramente inviável ‐, as palavras de ordem e bandeiras de luta propostas pelo partido começam a ganhar ressonância na sociedade civil, que passa a incorporar como pauta temas como a anistia, eleições livres e diretas em todos os níveis, liberdade de expressão e organização, constituinte, etc.

Outro fato narrado que mostra a seriedade do autor na condução da narrativa é visto na abordagem da crise ocorrida no Comitê Central em meados da década de 1970 acerca da questão que envolveu o dirigente partidário e possível sucessor de Prestes na condução do CC, José Sales. Não cabe apresentar aqui de forma detalhada o caso, porém, o que fica para o leitor é a capacidade demonstrada por Eumano em ouvir os diferentes personagens envolvidos e as diferentes perspectivas interpretativas. No segundo caso, as biografias do dirigente comunista Luiz Carlos Prestes escrita pelo historiador Daniel Aarão Reis Filho, lançada pela Companhia das Letras e o volume escrito pela também historiadora e filha do cavaleiro da esperança, Anita Prestes, e colocada nas livrarias pela Boitempo são cotejadas pelo jornalista que busca aparar a divergência entre os autores para tecer uma narrativa sóbria do episódio.

Como bem destacou o historiador José Antônio Segatto, responsável pelo prefácio do livro, “o autor – em vez de utilizar, principalmente, a bibliografia existente – valeu-se, em grande medida, da documentação, tanto do PCB (resoluções manifestos, declarações etc.) como as produzidas por órgãos governamentais (muitas delas inéditas, que levantou em arquivos), sobretudo os encarregados da investigação policial e da repressão; muitos desses aparelhos, diga-se, operantes no porão da ditadura do regime ditatorial ou mesmo clandestinos. Além disso, Eumano serviu-se de uma variedade de depoimentos de dirigentes e militantes, alguns com protagonismo proeminente e outros coadjuvantes ou meramente laterais”.

O jornalista Marcelo Godoy, autor da contracapa da publicação, destaca que o trabalho feito por Eumano, “vai além de iluminar fatos e de servir de olhos do leitor nos lugares onde não podemos estar”. Ainda segundo Godoi, “Eumano redescobre um passado, que nos envolve com seu manto e se dissimula em meio à enganosa normalidade cotidiana do esquecimento de conflitos e caminhos da longa jornada até o presente. Compreender esse conjunto, sem anacronismos, foi o passo seguinte. Lucien Febvre dizia que onde não há problema não há história. Sem ele, há apenas narrações e compilações. Um problema é o começo e o fim da história. Eumano ajuda-nos a compreender o crepúsculo do PCB e resgata a presença do passado e nosso presente sem a qual nenhuma pretensão do sonho democrático seria possível”.

Ao conversar com o autor no lançamento realizado em São Paulo, ele destacou a riqueza e a quantidade de depoimentos de entrevistas realizadas ao longo da pesquisa e que, dada a quantidade e a qualidade de informações, cada entrevista merecia até um novo livro. Fica a dica para a Fundação Astrojildo Pereira para que no futuro pense em tal possibilidade, para continuar contando a História e as histórias daquele que fora um dos principais partidos políticos do Brasil, inclusive no pequeno período em atuou de forma legal, como no período de clandestinidade, mostrando a perspectiva daqueles atores que fizeram essa história.

Por fim, destacamos, novamente, o prefácio escrito por José Antônio Segatto, que, além de saudar o esforço de Eumano, exalta a iniciativa de tratar e mostra a história do partidão em sua fase terminal, “expondo-a na forma de uma extensa reportagem, fornecendo a um público ampliado, com pouco ou nenhum conhecimento do assunto em questão, uma contribuição inédita e significativa para o entendimento de uma das mais importantes instituições da sociedade civil e política (PCB) e de um período histórico-político extremamente sombrio da República brasileira”.

Com a publicação do segundo volume do livro “Longa jornada até a democracia – Os 100 anos do partidão (1922-2022)”, a Fundação Astrojildo Pereira contribui para a memória daquela que foi uma das principais forças de esquerda no país e mostra aos leitores que uma sociedade justa e igualitária só pode ser constituída sob os signos da democracia.

  • Daniel Costa é historiador pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e desenvolve na mesma instituição pesquisa de mestrado acerca da corrupção na América portuguesa no período pombalino, especialmente nas capitanias de Pernambuco e Minas ao longo do século XVIII.

Alepa aprova 3 propostas do Executivo e PL que cria campanha de combate a crimes cibernéticos

Em matéria de urgência e em regime único, os deputados da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), comandados pelo deputado Chicão (MDB), aprovaram, na manhã desta terça-feira (16), três Projetos de Lei de autoria do Poder Executivo. A primeira proposta – nº 3/2024 – altera a Lei Estadual nº 6.282, de 19 janeiro de 2000, que cria a Polícia Científica do Pará.  

O objetivo do PL é contemplar as perícias efetuadas no interesse dos processos administrativos de maneira geral. A lei estadual n° 9.382, de 16 de dezembro de 2021, alterou a lei estadual n° 6.282 de 2000, e retirou, da Política Científica do Pará, a competência para a realização de perícias cíveis. A alteração legislativa causou divergências interpretativas em situações em que a demanda pericial decorre da própria administração pública.

De acordo com o líder do governo na Alepa, deputado Iran Lima (MDB), o projeto de lei inclui, definitivamente, a polícia científica do Pará no sistema de segurança estadual. “A aprovação deste projeto de lei fortalece as atividades de uma entidade importante para o Estado, bem como engrandece e reconhece ainda mais a necessidade da polícia científica no sistema de segurança do Pará”, disse.

A segunda proposta – nº 75/2024 – dispõe sobre a instituição da campanha permanente informativa e de conscientização sobre o risco de doenças e agravos relacionados à intoxicação por agrotóxicos – considerados como todo produto químico sintético usado para matar insetos, larvas, fungos e carrapatos, sob a justificativa de controlar as doenças provocadas por esses vetores e de regular o crescimento da vegetação, no ambiente rural, urbano e doméstico e utilizado em ações de saúde pública.

Segundo a mensagem do governo do Pará, enviada à Alepa, a iniciativa é decorrente do requerimento de indicação n° 139/2023, de autoria da deputada Lívia Duarte (PSOL). A deputada sugeriu ao Poder Executivo a realização de uma campanha de conscientização acerca dos riscos à saúde ocasionados pela ingestão de produtos que contêm agrotóxicos, principalmente diante de dados que comprovam o constante crescimento de notificações de intoxicação ocasionadas por esses produtos no Pará, nos últimos 10 anos – a maior exposição é à população do nordeste paraense. 

“O estado do Pará está entrando na tendência do agronegócio, na produção de grãos.  É justamente diante desse contexto que o governo do Estado cria a política estadual de atenção e de cuidados em relação ao uso de agrotóxicos, fazendo com que não haja intoxicações através dos produtos”, avalia o deputado Iran Lima.

A deputada Lívia Duarte comentou a relevância da aprovação da proposta. “Essa é uma pauta urgente. A ingestão de produtos que contêm agrotóxicos é algo que causa problemas de saúde à população”. A proposta foi aprovada pela maioria dos deputados presentes, exceto Aveilton Souza (PSD); Rogério Barra (PL) e Wescley Tomaz (Avante).   

Por fim, foi aprovado o Projeto de Lei nº 114/2024, que altera a Lei Estadual nº 9.853, de 9 de fevereiro de 2023, que dispõe, sobre a gratificação de que trata o inciso II do caput do art. 132 da Lei Estadual nº 5.810, de 24 de janeiro de 1994. “A proposta busca dar maior dinamismo à administração pública, possibilitando que parte da remuneração dos servidores que ocupam cargo comissionado no Poder Executivo seja paga na forma de ajuda de custo”, diz a mensagem do governador, Helder Barbalho, encaminhada à Casa de Leis.    

Propostas da Casa

De autoria da deputada Diana Belo (MDB), foi aprovado o Projeto de Lei nº 34/2022, que dispõe sobre a Campanha de Combate aos Crimes Cibernéticos Financeiros e “Golpes”. A proposta destina-se ao desenvolvimento de ações educativas e informativas, objetivando proteger potenciais vítimas e conscientizá-las, além de encorajar a sociedade a participar do enfrentamento aos crimes financeiros.

As ações serão realizadas anualmente no mês de setembro, tendo como intuito combater: mensagens e propagandas enganosas que induzam as vítimas a fazerem transferências ou depósitos de valores em contas bancárias dos criminosos ou golpistas, ou ligado a estes; golpes por aplicativos de mensagens que sequestram tais contas e operam em nome da vítima, pedindo valores a terceiros; ações de sequestros-relâmpago para forçar as vítimas a transferir dinheiro para as contas bancárias dos criminosos, ou ligado a estes, e demais ações criminosas e golpes que venham a surgir provocando prejuízos financeiros às vítimas.

“Com a chegada das transações de valores via Pix e outras normas bancárias, a população brasileira viu sua vida e rotina comercial mudar positivamente com todas as facilidades oferecidas no momento de efetuar compras, pagamentos e transferências de valores”, disse a deputada Diana Belo, na justificativa do Projeto de Lei, e acrescentou:

“Não demorou muito para que criminosos e golpistas usassem essa facilidade ao seu favor. Desde então, o número de crimes cibernéticos financeiros disparou por todo o país, não sendo diferente no nosso Estado. ‘Golpes’ de internet, clonagem de números de cartões e mensagens com links duvidosos são apenas alguns artifícios encontrados por criminosos para extorquir, furtar e roubar dinheiro de suas vítimas”, finaliza. 

Tropeço na conta do técnico

POR GERSON NOGUEIRA

Remo foi derrotado logo na estreia na Série C. Não perdeu para o adversário, Volta Redonda, mas para os erros de seu técnico, Gustavo Morínigo. Logo que a escalação foi anunciada, ficou evidente que os riscos eram imensos. O jogo confirmaria isso. O Leão foi derrotado por 2 a 1, após um 1º tempo pavoroso. Reagiu no 2º tempo, mas sofreu um castigo tremendo nos minutos finais e ainda teve dois pênaltis não marcados.

Depois de errar quase todas as tentativas de saída, o Remo tomou o primeiro gol logo aos 19 minutos. A defesa, mal posicionada, não conseguiu marcar a troca de passes entre Berguinho e MV, culminando com a finalização perfeita deste último, mandando a bola no ângulo esquerdo do gol defendido por Marcelo Rangel. Um golaço.

Depois dos 30 minutos, o Remo atacou muito, mas sempre pelo lado errado e com a objetividade prejudicada pela ausência de força na área. Morínigo, que havia inventado três estreias – Sheldon na zaga, João Afonso no meio e Cachoeira no ataque –, decidiu ir além, lançando Sillas como centroavante. Sim, não é delírio, é teimosia mesmo.

O centroavante improvisado estragou uma boa oportunidade na pequena área, deixando de finalizar ou tocar para os lados. Simplesmente, errou na hora de definir. Nenhuma surpresa, pois Sillas foi um dos mais improdutivos na sequência de clássicos, desperdiçando chances claras.

Havia um engessamento entre os setores, com jogadores espaçados demais. Tudo o que Gustavo Morínigo havia conseguido em termos de consolidação de um sistema foi por água abaixo diante do Volta Redonda.

Coube a Jaderson a melhor jogada remista, batendo de curva sobre o gol de Jean Dorny, com muito perigo. Nos instantes finais, o Voltaço voltou a sair para o ataque, criando dois bons ataques com Ítalo Carvalho.

Veio o 2º tempo e o treinador azulino tratou de corrigir as próprias lambanças. Trocou João Afonso por Matheus Anjos, Cachoeira por Ribamar e Felipinho por Ronald. Com os jogadores certos, o time se soltou e dominou amplamente as ações, acuando o Volta Redonda.

As chances começaram a surgir em sequência, com Ribamar (2), Matheus (2), até que aos 31 minutos veio o empate, com Jaderson escorando um rebote da defesa. O Remo exercia pressão total, o visitante se livrava da bola e parecia questão de tempo para sair o segundo gol. 

Matheus botou uma bola na trave e Jaderson encaixou um disparo na gaveta, mas o goleiro Jean foi nela e desviou para escanteio. Aos 40’, Thalys foi atingido na perna quando saía da área, mas o árbitro não deu o penal.

Aí veio o castigo cruel. Sob chuva forte, aos 43’, num raro ataque do Voltaço, a zaga cedeu escanteio. Na cobrança, Pavani desviou contra o patrimônio. Um gol que fez a torcida esmorecer no Baenão.

Ainda houve tempo para um outro pênalti ignorado pelo árbitro. Michel fez carga sobre Ribamar dentro da área, diante do apitador, que nada marcou. A diretoria do Remo encaminhou protesto à CBF, denunciando a arbitragem ruim, mas o estrago já foi feito.

Sobre responsabilidade e comprometimento

A derrota para o Voltaço reavivou o trauma azulino de 2023, quando o time de Marcelo Cabo perdeu os quatro jogos iniciais da Série C. Por essa razão, o que ocorreu no estádio Evandro Almeida no sábado à tarde é mais grave do que parece, por abrir caminho para um novo mau começo.

Gustavo Morínigo atribuiu a derrota a erros no aspecto coletivo e mau rendimento dos atletas estreantes. Ora, até o leãozinho de pedra do Baenão sabia que mexer nos três setores era uma temeridade.

Morínigo e sua comissão técnica entenderam que os novatos eram superiores aos antigos titulares. Não são. João Afonso não é superior a Paulinho Curuá, Sheldon não é melhor que Jonilson ou Bruno Bispo.

Cachoeira pode vir a ser uma opção interessante pelos lados, mas está muito abaixo de Ronald. O pior foi a centralização de Sillas no ataque, sendo que Kanu seria uma alternativa natural para a função.

É preciso que a comissão técnica e o elenco sejam cobrados com mais rigor. O projeto do acesso à Série B é fundamental para o clube, inclusive financeiramente. Ninguém alcança resultados sem comprometimento.

Cabe lembrar que, das quatro metas do Remo na temporada, três (Copa Verde, Parazão e Copa do Brasil) já foram perdidas.

Papão surpreende positivamente, apesar da derrota

O 1º tempo na Vila Belmiro foi inteiramente favorável ao PSC, que não deixou o Santos jogar. Favorito por jogar em casa (mesmo sem torcida), o Peixe teve imensas dificuldades para sair do campo de defesa nos 15 minutos iniciais. A pressão alta exercida pelo meio-campo e ataque do Papão provocava erros seguidos dos defensores santistas e abria espaço para arremates de fora da área.

Jean Dias, Robinho e Edinho tiveram boas oportunidades para abrir o placar, revezando-se em ações pelos lados e investidas pelo centro do ataque, sempre com toques de primeira e praticamente sem erros de passe.

Do começo ao fim da etapa inicial, o PSC foi dominante e marcou o Santos com extrema eficiência. Nem mesmo a substituição forçada de Robinho por Val Soares, aos 23 minutos, quebrou o ritmo imposto pelos bicolores.  

Veio a segunda etapa e o cenário se modificou. O Peixe fez duas mudanças importantes nas laterais: JP Chermont e Rodrigo substituíram Aderlan e Hayner, aumentando o poder de fogo pelos lados. Essas mexidas iriam se complementar depois com a entrada de Pedrinho no lugar de Otero.

E foi Pedrinho que abriu caminho para a vitória santista. Com a colaboração de Gabriel Bispo, ele fintou dois marcadores e mandou rasteiro no canto direito de Matheus Nogueira, fazendo Santos 1 a 0, aos 23 minutos. Bispo havia substituído Leandro Vilela.

Aos 27’, quase saiu o segundo. Julio Furch finalizou diante de Matheus Nogueira, que fez excelente defesa. Aos 34’, Michel Macedo recebeu livre e em condições de definir, mas dominou mal e perdeu a chance do empate.

O Santos liquidaria a fatura aos 44’, em nova boa jogada de Pedrinho. Após fintar Bispo com facilidade, ele bateu cruzado. Matheus Nogueira deu rebote e Guilherme chutou para as redes. Apesar da queda na segunda etapa, o PSC deixou boa impressão na partida de retorno à Série B.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 22)

Rock na madrugada – Screaming Trees, “Shadow of the Season”

POR GERSON NOGUEIRA

Os dois fundadores do Screaming Trees já não estão entre nós. Mark Lanegan, cantor e letrista, morreu em fevereiro de 2022, aos 57 anos. Gary Lee (Van) Conner, guitarrista, morreu em janeiro de 2023, aos 55 anos. Verdadeiras lendas do grunge, ídolos entre os astros surgidos em Seattle, embora o grupo seja originário de Washington (EUA). Curiosamente, o respeito à banda se consolidou depois que ambos partiram. É possível que a imagem de banda musicalmente sofisticada e “difícil” tenha atrapalhado a trajetória comercial do Screaming Trees, mas não impediu que ganhasse reconhecimento quase unânime.

Voz crua, sempre certeira nas notas baixas, era a principal característica de Lanegan, como se pode comprovar em músicas como “Shadow of the Season” (Sombra da temporada). Pioneiro no gênero que a mídia batizou de grunge, o Screaming não obteve o mesmo sucesso popular de Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains, mas conquistou o respeito de todos pelas letras profundas e pela fidelidade a um som mais rústico e diferenciado.

Destaque do álbum Sweet Oblivion (Doce esquecimento), a canção tem uma levada de guitarra típica de Van Conner, que utiliza o instrumento no limite do sentimento. Não é tecnicamente um dos maiores guitarristas do rock, mas o seu som transpira alma e energia. “Shadow of the Season” abre triunfalmente o disco que reúne algumas das melhores poesias de Lanegan emolduradas por uma produção inspirada, com arranjos incomuns para o rock dos anos 90.

Sweet Oblivion é o 6º disco de estúdio, lançado em 1992, que retrata a essência da banda, influenciada pelo punk e uma certa nostalgia psicodélica. Graças a ele, o Screaming conquistou a crítica e agradou o público, vendendo mais de 300 mil cópias.

Papão joga bem, mas acaba superado pelo Santos na Vila Belmiro

O Paysandu foi derrotado pelo Santos por 2 a 0, na tarde deste sábado (20), na Vila Belmiro, apesar de fazer uma boa apresentação nos primeiros 45 minutos. Em sua primeira participação na segunda divisão, o Peixe foi confuso e teve dificuldades para conter o PSC inicialmente. Melhorou na etapa final e construiu a vitória com gols de Pedrinho e Guilherme.

Diante de um Santos confuso nos primeiros 20 minutos, o PSC se organizou bem e conseguiu levar perigo em várias ocasiões. O controle da partida foi do Papão, que só não conseguiu acertar o pé quando as chances apareceram, principalmente com Robinho e Jean Dias.

Com muitos erros de passe, o Alvinegro não conseguiu repetir boas atuações do Campeonato Paulista e viu os bicolores atuarem com desenvoltura, saindo com facilidade do meio para o ataque. Como o Santos não ameaçava e o PSC errava as finalizações, o placar ficou em branco no primeiro tempo.

O 2º tempo foi tecnicamente melhor e o Santos acabou evoluindo ao fechar os espaços nos lados. Na frente, o Peixe foi mais agressivo e presente no ataque. Chegou aos gols com Pedrinho, que venceu a marcação tripla da zaga paraense, para fazer o primeiro gol, e depois deu o chute que resultou no gol de Guilherme.

Lambanças na escalação atrapalham o Remo, que estreia com derrota na Série C

POR GERSON NOGUEIRA

O Remo estreou com derrota na Série C, exatamente como no ano passado. Com as modificações feitas pelo técnico Gustavo Morínigo em todos os setores da equipe, o Leão encontrou muita dificuldade para chegar ao ataque e acabou sofrendo o gol logo aos 19 minutos, após contra-ataque fulminante do Volta Redonda. Berguinho tocou para MV, que chutou por cobertura e abriu o placar. Um golaço.

Apesar de insistir em cruzar bolas na área, o Remo não conseguia levar perigo ao gol do Voltaço. Sillas, escalado como centroavante, praticamente não participou do jogo. A melhor finalização foi através de Jaderson, que bateu sobre o gol, aos 34 minutos. Sem a intensidade necessária, o Remo não se impôs no 1º tempo e permitiu que o Voltaço terminasse em vantagem.

Para a etapa final, o técnico Gustavo Morínigo fez três mudanças que ajudaram a corrigir os erros da escalação inicial. Entraram em campo Ribamar, Ronald e Matheus Anjos. Mais organizado e agressivo, o Remo passou a pressionar, levando constante perigo ao gol do Volta Redonda.

Ribamar teve duas chances e Matheus Anjos botou uma bola na trave. Aos 31 minutos, depois de um rebote da zaga, Jaderson chutou e empatou a partida, para delírio do torcedor no Baenão. A partir daí, com apoio da torcida, o Leão ampliou o cerco e quase virou o marcador, com Matheus Anjos e Ribamar. Ainda houve um lance de falta sobre Thalys dentro da área que a arbitragem interpretou como normal.

Aos 43′, um escanteio para o Volta Redonda acabou com as esperanças azulinas. Ao tentar cortar o cruzamento, Pavani tocou de cabeça contra o próprio gol, desempatando a partida. Um duro castigo para o Remo, que ainda foi em busca de novo empate. Aos 50′, Michel cometeu falta sobre Ribamar dentro da área, mas o árbitro não assinalou o pênalti.

Uma derrota na conta do técnico Gustavo Morínigo, pela escalação equivocada e pelos muitos erros de posicionamento da equipe ao longo do primeiro tempo. A reação no 2º tempo não foi suficiente para garantir um bom resultado.

Que comecem os jogos!

POR GERSON NOGUEIRA

Depois da montanha-russa que foi a disputa de quatro clássicos, encantando e motivando o torcedor, PSC e Remo finalmente partem para o que interessa: a disputa do Brasileiro das séries B e C. Tudo começa neste sábado (20), com os bicolores encarando o Santos, na Vila Belmiro, e os remistas recebendo o Volta Redonda, no estádio Baenão.

O desafio dos gigantes paraenses é de grande monta. Ao PSC cabe lutar para permanecer na Série B e, se possível, brigar pelo acesso à Série A. Não é uma missão simples. Várias outras equipes, com grandes investimentos, estão cotadas para tentar chegar à elite do futebol brasileiro.

A lista começa pelo Santos, adversário deste sábado. Rebaixado pela primeira vez na história, o Peixe começou um processo de recuperação no Campeonato Paulista, onde disputou o título com o Palmeiras e ficou em segundo lugar.

Desde que Fábio Carille assumiu o time, as coisas mudaram para melhor, principalmente no setor defensivo, reforçado com a contratação do ex-corintiano Gil. Diante do Papão, o time não terá o apoio da torcida, pois cumpre a punição pelos tumultos na Vila Belmiro em 2023.

Pode-se dizer que o Santos é um clube de Série A temporariamente passando pela Série B. Tem grandes possibilidades de conquistar o título do Brasileiro. Em escala menor, o PSC tem outros adversários igualmente poderosos – Coritiba, América-MG, Sport, Ceará, Guarani e Goiás.

Os demais participantes estão no mesmo nível e é em relação a eles que o time paraense precisa se impor. Equipes medianas, sem grande tradição na competição, como Novorizontino, Amazonas, Ituano, Operário e Avaí.

A lista de reforços que o PSC apresentou nos últimos dias – o volante Wesley Fraga foi o mais recente – mostra que fortalecer o time é o objetivo da diretoria, a fim de evitar quedas de rendimento ao longo da disputa. O ataque, entregue hoje a Edinho, Nicolas e Jean Dias, é o setor mais ajustado do time e razão das maiores esperanças da torcida.

Na Série C, o Remo luta com problemas na definição do time e com a justificada desconfiança do torcedor. A atribulada campanha no Brasileiro do ano passado, quando perdeu as quatro primeiras partidas e viu-se obrigado a fazer uma campanha de recuperação, ainda está muito viva na memória da torcida.

Para esta temporada, sob a direção do técnico Gustavo Morínigo, a expectativa é de uma caminhada mais consistente. A participação no Parazão terminou sem título, mas os jogos contra o PSC indicaram que há motivos para acreditar na evolução da equipe.

Os principais oponentes do Remo no campeonato são Londrina, Náutico, Figueirense, CSA, São Bernardo, Sampaio Corrêa, Ypiranga e o Volta Redonda, justamente o adversário deste sábado, às 17h.

Em termos de investimento, o Leão é disparado o time mais forte da Série C. O problema é que nem sempre isso serve de parâmetro para o desempenho em campo. A chegada de reforços, como Guilherme Cachoeira, João Afonso e Matheus Lucas, dá a Morínigo a chance de formatar um time mais equilibrado e competitivo.

Esses jogadores irão se juntar a outros que já vinham se destacando, casos de Jaderson, Matheus Anjos e Kelvin. O desafio é engrenar rapidamente, sem permitir as oscilações que fragilizaram a equipe no ano passado.

Bola na Torre

O programa começa às 22h, na RBATV, com apresentação de Guilherme Guerreiro e participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense. Em debate, a estreia de PSC e Remo nas Séries B e C. A edição é de Lourdes Cezar.

Mbappé lidera PSG na Champions e semeia inveja

Um blogueiro ousou fazer uma comparação entre Neymar e Mbappé, obviamente despropositada – o brasileiro não chega nem perto do que o francês conseguiu conquistar na curtíssima carreira. Pois o menino Ney subiu nas tamancas e comentou que há gente que adora bajular estrangeiros, esquecendo-se que faz o mesmo em relação a figuras mais desprezíveis, aqui mesmo no Brasil.

Tudo isso em decorrência da sensacional classificação do Paris St. Germain à semifinal da Liga dos Campeões da Europa, com uma virada histórica sobre o Barcelona, no estádio olímpico da Catalunha. Meteu 4 a 1, de virada, após ser derrotado na capital francesa por 3 a 2 na partida de ida.

Dirigido pelo espanhol Luis Enrique, o PSG mostra uma intensidade e um apetite que simplesmente não existiam nos tempos de Neymar e Lionel Messi. Mbappé, Vitinha e Dembelé estão jogando o fino da bola, motivados e a fim de conquistar o inédito título europeu.

Os gols foram marcados pelo trio, com destaque para o craque Kylian Mbappé, que balançou as redes duas vezes. Raphinha fez o gol do Barça, logo aos 12 minutos do 1º tempo. A partida, uma das melhores dessa emocionante Champions, mudou de panorama com a expulsão do zagueiro Araújo.

A partir daí, o PSG de Mbappé assumiu o controle e deixou claro que não iria sair da Espanha sem a cobiçada classificação. Pior ainda para o Barça de Xavi foi ver a classificação do Real Madrid sobre o Manchester City em outro jogão, decidido na série de penalidades.

Com Mbappé inspirado, o PSG tem plenas condições de chegar à grande decisão, sonho frustrado durante a passagem de Neymar por lá.

O astro brasileiro, por sinal, precisa parar de se meter em bola dividida, principalmente com currículo tão anêmico em disputas internacionais. Mbappé conquistou uma Copa do Mundo quando tinha 18 anos e foi vice em outra, em 2022, no Qatar. Calado, o baladeiro Neymar já está errado.

(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado/domingo, 20/21)

Rock na madrugada – The Rolling Stones, “Get Off Of My Cloud”

POR GERSON NOGUEIRA

Esta é simplesmente uma das melhores músicas que o rock’n’roll já produziu. Tudo reunido em 3 minutos de balanço, guitarras em perfeita sintonia e um vocal arrasador. No final de 1965, os Rolling Stones lançavam “Get Off Of My Cloud” (Saia fora da minha nuvem), um rockão de primeira grandeza, esbanjando atitude e ousadia. O som é tão poderoso que parecia não haver ninguém capaz de deter a banda, ainda em sua formação clássica – Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones, Bill Wyman e Charlie Watts. Os versos iniciais, gritados por Jagger, dizem:

Eu moro em um apartamento no 99º
Piso do meu bloco
E eu sento em casa olhando pela janela
Imaginando que o mundo parou

“Ei, você, sai da minha nuvem
Ei, você, sai da minha nuvem
Não fique por aí porque dois são uma multidão

Demorei a descobrir a grandeza épica, proto-punk, dos Stones. Forjado no som limpo e essencialmente melódico dos Beatles, a aspereza dos Stones me incomodava, não descia muito bem. Mais ou menos como em relação a Jimi Hendrix e Bob Dylan.

Só ali pela metade dos anos 1970, depois de ouvir quase tudo dos Beatles, dediquei atenção às pancadas sonoras dos Stones, começando por “Route 66”, “The Last Time”, “Let’s Spend The Night Togheter”, “Satisfaction” e “Get Off Of My Cloud”. Não parei mais. Um caso de amor tardio, mas definitivo.

A canção foi escrita por Mick Jagger e Keith Richards para o single que teria a imensa responsabilidade de suceder o mega hit “Satisfaction”. A banda gravou em Hollywood, Califórnia/EUA, no início de setembro de 1965, e “Get Off Of My Cloud” foi lançada em setembro nos Estados Unidos e em outubro no Reino Unido. Ela liderou as paradas nos EUA, Reino Unido, Canadá e Alemanha. Nascia um clássico.

Um xerife para chamar de seu

POR GERSON NOGUEIRA

Yeferson Quintana, uruguaio com rodagem internacional e experiência de Libertadores, é o candidato natural a xerife do Papão no Brasileiro da Série B, que começa no sábado para os bicolores. Logo de cara, o zagueiro vai ter um duelo com o Santos, contra quem teve oportunidade de jogar no recente Campeonato Paulista, defendendo a Portuguesa de Desportos.

Na entrevista de apresentação, Quintana foi logo falando grosso. Disse que o PSC não tem o que temer, nem deve se amedrontar diante do Peixe, afinal tem história e tradição. Avaliou que o time bicolor está pronto para jogar de igual para igual com a equipe de Fábio Carille.

Quintana se prepara para disputar a Série B do Brasileiro pela primeira vez. Pelo tempo que dedicou aos treinos, sem poder atuar na Copa Verde e no Campeonato Paraense, o zagueiro está no mesmo nível de condicionamento dos demais companheiros.

A estreia é dada como certa, até pelo alto investimento do PSC em sua contratação, disputando com outros clubes o direito de contar com o uruguaio. E, caso seja confirmado na escalação, é candidato natural a envergar a braçadeira de capitão.

Na disputa direta pela posição na linha de defesa bicolor, ele tem como concorrentes Wanderson, Lucas Maia, Naylor, Carlão, Pedro Romano e Luan Freitas. Além das questões protocolares, na Curuzu ninguém tem dúvida de que ele chegou para ser titular absoluto na Série B.

Depois da excelente performance da zaga no Parazão, com a dupla Lucas Maia-Wanderson, a expectativa é que o setor fique ainda mais fortalecido com a entrada em cena de um jogador avaliado como acima da média para os padrões da Série B.

O aspecto positivo da presença de Quintana é que o elenco do Papão é formado, em grande parte, por jogadores com grande experiência na disputa da Segunda Divisão nacional.

Dos mais de 40 atletas inscritos na competição pelo PSC, mais da metade já atuou – alguns com destaque, como Robinho, Hyuri e Biel – na Série B. Essa condição garante mais tranquilidade para o desafio de levar o time a uma boa campanha.

Ronald aproveita chances e prova utilidade

A série de quatro jogos entre Remo e PSC, além de testar a força dos dois times para o Campeonato Brasileiro, fez bem a alguns jogadores. O que melhor aproveitou a oportunidade foi Ronald, que se tornou uma peça indiscutível entre os titulares azulinos.

Sempre utilizado como um reserva eventual, Ronald agarrou com toda vontade as chances que recebeu. Nos dois últimos clássicos, ele foi do inferno ao paraíso. Apesar de ter feito uma boa atuação, na semifinal da Copa Verde, perdeu uma chance clara de gol que poderia ter decidido a partida.

Criticado pela torcida, mostrou que não se deixou abalar e teve um desempenho impecável no jogo decisivo do Parazão. Taticamente, foi importante como marcador no lado esquerdo e ainda encontrou tempo para ir ao ataque marcar o gol azulino.

A elogiada atuação não foi suficiente para conquistar o título, mas deixou claro que Ronald ganhou a posição no lado esquerdo do ataque. É finalmente titular, depois de incompreensão sistemática dos técnicos e tantas tentativas frustradas nos últimos quatro anos.

Lesionado no ano passado, durante a Série C, voltou com confiança redobrada, reinventando-se na faixa esquerda do time, onde sempre teve participações positivas. Houve um tempo em que os técnicos do Remo insistiam em escalar Ronald do lado direito, que não é o seu forte.

Algumas pessoas defendem que jogadores de lado têm que saber jogar tanto pela direita quanto pela esquerda. Não é exatamente assim que a banda toca. Experimentem, por exemplo, colocar Vinícius Jr. do lado direito do ataque. Ele até pode jogar por ali, mas não renderá como na canhota.

Ronald sofreu com isso, embora sempre tenha se mantido humilde e disciplinado. A espera valeu a pena. Gustavo Morínigo soube valorizar as características dele e ganhou um jogador extremamente funcional e aplicado, tanto para atacar como para defender.

A seguir nessa toada, Ronald será extremamente útil na campanha da Série C. Isso poderá ser observado a partir do confronto deste sábado contra o Vila Nova-GO, no estádio Evandro Almeida.

Transmissão da Série B vira bagunça e irrita torcedores

A CBF é incapaz de abrir mão da primazia pela bagunça no Brasil. Até mesmo quando tudo parece bem encaminhado, a entidade vem e embaralha as coisas. Depois de negociado o direito de transmissão dos jogos da Série B com a empresa de marketing esportivo Brax, vem um acerto com a Globo, manda-chuva do futebol no Brasil, para que o campeonato seja exibido nos canais SporTV e Premiere.

Em meio a isso, TV Brasil e canal Goat apareciam como alternativas de exibição. Em seguida, como noticiou o sempre bem informado Flávio Ricco, sumiram das conversas. A confusão está estabelecida, torcedores reclamam nas redes sociais, ninguém se entende.

A primeira rodada começa hoje e um dos jogos mais esperados é Santos x PSC, transferido para sábado à tarde, na Vila Belmiro (em Santos), de portões fechados. Dona dos direitos, a Globo vai mostrar a partida para a Baixada Santista e para Belém.

Ricco, aliás, observa que no ano passado a Brax também detinha os direitos, passando jogos também na Band, mas optou por desistir do acordo. Não mais que de repente, voltou a participar do novo arranjo junto à CBF. Difícil entender e explicar, como é de costume no país do futebol.

Os torcedores, que pagam pacotes caros para ver os jogos de seus times, mereciam informações mais precisas e esclarecedoras. Afinal, é um negócio como outro qualquer. Há uma relação de compra e venda, oferta e procura, sob regulação de um Código de Defesa do Consumidor. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 19)