
Por Mario Sergio Conti (*)
Ciro Gomes disse há dias que “ou a sociedade e as lideranças políticas tomam providências já, ou chegaremos a um ponto sem retorno”. E mais: “É preciso que todos os candidatos, de todos os partidos, sentem imediatamente à mesa para denunciar isso publicamente”. Está certíssimo.
Sem fomentar desde agora um movimento nacional pela democracia, a Besta botará sua turba e suas tropas na praça. Há que se desmascarar o golpe que vem aí, óbvio. Mas denúncias viram berreiro estéril se não forem seguidas por ações firmes. E a Besta usa o bate-boca para perturbar.
Que Ciro, Lula, Doria, Tebet e demais candidatos sentem logo à mesa. Que digam num uníssono: se a Besta enlamear a eleição, chamaremos nossos eleitores para garantir o pleito e a posse do próximo presidente; muito nos separa, mas a vontade popular nos une.
Essa ação singela desanuviaria o ambiente. Evidenciaria que os democratas são maioria. Instaria os brasileiros a tomar nas mãos o seu destino. Acuaria a Besta. Que cada força política e social, que cada cidadão assuma sua responsabilidade. Aqui, mais onze ideias para barrar o golpe.
- Que os líderes das centrais sindicais se reúnam e proclamem: cada qual vota em quem achar melhor, mas se a Besta e seus capangas badernarem a eleição, entraremos em greve geral. Que formem de norte a sul, em todos os sindicatos, comitês de agitação antigolpe.
- Que os ministros do Supremo fechem a matraca. Em vez de perorarem vaidosamente, e ficarem de tititi com generalecos, que concluam os inquéritos sobre a Besta e suas crias. Processem-nos na forma da lei. Que falem alto nos autos. Altivez é isso. O resto é silêncio.
- Que reitores alertem professores e estudantes para o perigo premente de abusos. Que promovam marchas contra as badernas da Besta. Em São Paulo, que as caminhadas saiam das faculdades e se congreguem nas arcadas para uma vigília pelo voto.
- Que as comunidades virtuais organizem um Dia de Pane e Pânico no Planalto. Que o Palácio e as redes sociais da Besta sejam tomados por milhões de zaps e mensagens que gritem: “Tire as patas das urnas eletrônicas!”. Que milhões e milhões de memes medrem.
- Que os internautas lembrem que a eleição terá um fim real, e não virtual. As urnas eletrônicas estão para a democracia assim como as redes sociais estão para a política: são meios, não fins. Não há tela que substitua a presença das pessoas. Quanto mais corpos em ação, maior a sua força. Que a Besta refocile com sua laia na impostura do gabinete do ódio.
- Que padres leiam nas missas um trecho da última mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: “Tentativas de ruptura da ordem institucional, hoje propagadas abertamente, buscam colocar em xeque a lisura do processo eleitoral e a conquista irrevogável do voto. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e o respeito aos resultados nas eleições”. Que outras Igrejas adotem escritura semelhante.
- Que a Academia Brasileira de Letras faça uma sessão para difundir um libelo por eleições iguais às de sempre, sem ingerências fardadas. Que artistas e intelectuais zelem em alto estilo pela soberania da nação votante. Que, “noblesse oblige”, todos os acadêmicos estejam de fardão. Pega bem.
- Que ninguém caia em provocações. Todas as ações devem mirar a persuasão de hesitantes e o engajamento no repúdio à quartelada milico-miliciana em gestação. Xingar e agredir é contraproducente porque provoca brigas, balbúrdia — e é exatamente isso que a Besta almeja. É ele o inimigo a ser peitado.
- Que os governadores democratas articulem um encontro nacional e se façam acompanhar pelos comandantes das PMs. Que apregoem aos quatro ventos: nada de quizumba nos nossos estados, porque a Polícia Militar assegurará a validade do voto, e nós estaremos à frente dela nas ruas. Foi o que Brizola fez em 1961, e assegurou a posse de João Goulart.
- Que os presidentes da Câmara e do Senado, em conjunto com banqueiros e chefes do agronegócio, com Temer, Datena e Romário — ops, deu ruim. Essa cáfila é caso perdido para qualquer causa que roce o bem comum. Embromam, empulham e no fim do dia estão sob a batuta da Besta.
- Que os colunistas da imprensa deem outras ideias para impedir o golpe. Que os leitores enviem sugestões à Redação para que as eleições sejam realizadas limpa e lisamente, e o candidato vencedor empalme o poder num 1º de janeiro de justiça e júbilo.
(*) Jornalista, é autor de “Notícias do Planalto”.