Desta vez, Caco Barcellos não tinha Genoíno para protegê-lo da multidão enfurecida

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POR KIKO NOGUEIRA, no DCM

A agressão sofrida por Caco Barcellos no protesto dos servidores na Assembleia Legislativa do Rio foi covarde, absurda e deve ser repudiada por qualquer democrata.

Ponto.

Dito isto, Caco foi imprudente, o que causa surpresa num repórter tarimbado como ele. Escapou por pouco de ser linchado.

Sério, corajoso, Caco está subestimando o ódio que a emissora onde trabalha provoca — à esquerda e à direita. Ódio este que só faz crescer.

Sob os gritos do clássico “o povo não é bobo, abaixo a rede Globo” e “golpista”, foi xingado, depois alvo de garrafas de água vazias até ser finalmente perseguido por um grupo. Tomou chutes até conseguir escapar para um lugar seguro.

Precisa parar de dar sopa para o azar. Não é a primeira vez que passa aperto. Em 2013, a equipe do “Profissão Repórter” foi cercada e impedida de gravar num protesto. Caco estava presente e foi hostilizado.

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No distante ano de 2000, quem o salvou de apanhar foi, veja você, José Genoino. O episódio ocorreu durante um ato do funcionalismo público de São Paulo que reuniu cerca de 20 mil pessoas em frente ao Palácio dos Bandeirantes.

Tudo andou bem até que, segundo reportagem da Folha, “punks, servidores embriagados e pessoas que não estavam participando do movimento por reajuste tentaram agredir jornalistas”.

O alvo principal foi Caco Barcellos. De acordo com a matéria, “ele entrevistava o deputado federal José Genoino (PT) quando foi cercado”. Deputados e assessores, com Genoino à frente, fizeram um cordão de isolamento para tirar o repórter da aglomeração.

As belas fotos — de quem? — registraram esse momento. Eu me pergunto se, depois do massacre que sofreu, Genoino faria isso novamente. Suponho que, caso se tratasse do Caco Barcellos, repetiria o gesto.

Suponho.

4 comentários em “Desta vez, Caco Barcellos não tinha Genoíno para protegê-lo da multidão enfurecida

  1. O grande repórter e os fascistas
    PUBLICADO POR LÚCIO FLÁVIO PINTO ⋅ 17 DE NOVEMBRO DE 2016 ⋅ 13 COMENTÁRIOS
    Foi com tristeza, preocupação e indignação que acabei de ver as cenas de agressão ao jornalista Caco Barcellos, hoje, em frente à sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ele foi cercado, hostilizado e se tornou alvo de objetos atirados contra elespor servidores públicos que protestavam contra o pacote de ajuste fiscal proposto pelo governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB.

    Caco e sua equipe gravavam mais uma reportagem de um dos melhores programas da televisão brasileira, o Profissão Repórter, quando ele foi abordado por alguns integrantes do grupo que protestava no local. Garrafas, caixas e até um cone de sinalização foram atirados na direção do jornalista, que tentava se proteger colocando a mão sobre a cabeça. Caco só não sofreu danos maiores porque alguns policiais se incorporaram à equipe, que tentava protegê-lo.

    A agressão foi a pretexto de combater a TV Globo, citada através do velho bordão: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.

    O Brasil vive numa democracia. Há meios legais, alguns deles úteis, outros eficazes, para combater a manipulação das informações pela Rede Globo, contestar sua diretriz editorial, fiscalizar suas atividades empresariais, controlar o uso das concessões públicas que detém.

    Mas só os fascistas passam desse exercício democrático de crítica e reação para a supressão da liberdade de expressão e da integridade do outro, principalmente do oponente. Orgulho-me profundamente de ser colega de profissão de Caco Barcellos, a quem passei a acompanhar e, às vezes, contatar, desde que dávamos a nossa colaboração – eu ao Opinião, a partir de São Paulo. ele ao Repórter, no Rio de Janeiro – à imprensa alternativa no tempo da ditadura, nos anos 1970.

    Caco me supera em muito como repórter de rua e apurador de informações em cima do acontecimento. Por isso, me serve de inspiração, como um mestre. Há muitos anos ele está na Globo, como estão outros jornalistas que admiro, um dos mais destacados sendo o decano José Hamilton Ribeiro.

    Sim, está na Globo como profissional, não para vender a alma, entregar sua consciência. Profissionais de valor, como ele e Zé Hamilton, melhoraram em muito o indiscutível – ao menos do ponto de vista formal – padrão de qualidade da Globo. Mas descendo-o ao plano da realidade caótica, suja e hostil das ruas. Sem a bitola da norma diretriz.

    O Profissão Repórter já foi premiado no exterior, o que significa que divergências ideológicas e políticas à parte, manobras de poder inclusas, a Globo é uma ilha da fantasia, mas também uma ilha de excelência num mar encapelado de mediocridade e vilania da TV brasileira. Ela é um item da democracia brasileira.

    Para combatê-la pelos métodos fascistas de hoje de manhã, os que querem uma imprensa melhor acabam por deixar o Brasil com imprensa alguma. Passam a ser os donos da verdade no país, arrogantes e intolerantes, agressivos e malsãos. Sabemos a que conduz essa presunção de propriedade, a ação de partido único, o desejo do poder a qualquer custo.

    Vendo as imagens da agressão, lamentei não estar ao lado de Caco para ajudá-lo a enfrentar os selvagens ou padecer com ele, me solidarizando com a sua figura franzina, definida por uma biografia pela qual seus cabelos brancos exigem respeito.

  2. Eis aí uma crítica idônea à criticável Globo é um verdadeiro desagravo ao profissional vítima do fascismo incontrolável, firme e rigoroso, mas sem hipocrisia e sem corporativismo. Não estranha ter partido do Lúcio Flávio. Bem diferente do autor do texto postado, que na minha opinião, mal disfarça o prazer de ver a vítima ser vitimada, a ponto de num tom de cumplicidade, atribuir-lhe parte das causas da tragédia de intolerância, como costumam fazer aqueles que dizem que a roupa justa, curta etc, são as responsáveis pelos estupros.

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