A queda germânica

POR GERSON NOGUEIRA

A realidade pôs abaixo a velha tese de que a posse de bola é decisiva no futebol. A Eurocopa tem mostrado que não adianta reter a bola se nada de objetivo é feito com ela. A Alemanha, poderosa e impávida, sentiu a lição na própria carne, ontem à noite, no Vélodrome de Marselha. Tomou conta do jogo desde o começo, com média de 61% de posse e mais de 80% em acerto de passes, mas foi incapaz de romper a barreira da última linha de zagueiros posta em prática pela aplicada França.

De tanto cerca a área inimiga, a Alemanha foi vencida pela exaustão e entregou o jogo com dois erros bobos e fatais. Como um reles peladeiro, o excepcional volante Bastian Schweinsteiger botou a mão na bola em disputa aérea no último lance do primeiro tempo.

0f01de41-b2c3-4491-8f0f-fee48dda6cadDepois, o goleiraço Manuel Neuer fez uma daquelas lambanças típicas de quinta divisão. Saiu catando coquinhos e presenteou o ágil Griezman (foto) com o segundo gol. Estava decretada a queda germânica em solo francês e o fim do sonho de levantar o quarto título europeu de seleções.

Pelos padrões convencionais, o resultado teve um quê de injustiça – embora o futebol não seja pautado por decisões justas. Como gostava de escrever o velho Nelson, os idiotas da objetividade irão se escorar nos 61% de posse de bola para dizer que a Alemanha não merecia perder.

Ora, só merece ganhar quem faz gols. A França seguiu a cartilha obrigatória do jogo. Bola na rede. Não importa se ficou quase 20 minutos sem dar um chute a gol. Importa menos ainda se recuava todos os seus soldados para evitar o avanço das tropas de Low.

O que realmente interessa, hoje e sempre, é ser objetivo. Tocar a bola, sim; valorizar sua posse, idem; mas é obrigatório transformar esse poder em vantagem no placar. Muitas vezes, como ontem, um simples aceno do imponderável pode mudar tudo num relance.

Quem poderia imaginar que o grande Schweinsteiger iria tirar onda de Tiago Silva e tocar uma bola que não trazia perigo para sua defesa¿ Coisas da vida, diria o outro. No fundo, são atitudes erráticas como a do volante germânico que fazem do futebol o esporte mais imprevisível e apaixonante de todos.

E não se está dizendo que a França dos jovens Pogba e Griezman não merecia vencer por seus próprios méritos. Apenas é preciso dimensionar as coisas no exato tamanho que têm. As estatísticas sobre tempo de posse de bola servem para robustecer teorias, fazem a alegria de alguns analistas, mas não enchem barriga e nem ganham jogo.

Gostei do desfecho da semifinal muito mais pela queda da Bastilha que é esse conceito intocável de glorificar a posse de bola como prova de superioridade. É bonito ver um time brincando sozinho com a bola, desde que ele chegue ao gol também.

A Alemanha metódica sucumbiu diante da França pragmática. E é isto que conduz a títulos e conquistas. O segredo está em aproveitar as oportunidades. Amanhã, quem sabe, o modelo alemão volte a prevalecer. Ontem, porém, foi vencido pelo time que buscou os atalhos mais curtos para chegar ao gol.

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Papão não deu chances ao Fantasma  

O Papão foi cirúrgico. Fez os gols necessários e não permitiu que o Operário se empolgasse, não deu chance para a zebra. Foi um bom exercício de amadurecimento. Escolado pelos Naviraienses da vida, o Papão entrou com vontade. Repetiu erros, mas não precisou de muito esforço ou categoria para estabelecer a vantagem e cravar presença – pela quinta vez consecutiva – na terceira fase da Copa do Brasil.

Missão cumprida.

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Colombianos passeiam em solo nacional

Como eu, o amigo Edyr Augusto ficou impressionado com a facilidade mostrada pelo Atlético Nacional contra o São Paulo no Morumbi. Em vários momentos, parecia que as nacionalidades estavam invertidas. O Brasil bom de bola do passado vestia a camisa negra dos visitantes.

“Que vergonha o futebol brasileiro, amigo! Os colombianos deitaram e rolaram. Futebol moderno, campo curto, toques de primeira, principalmente certos, ótimo domínio de bola, deslocamentos, tabelas e mais que tudo, muita garra, vontade de ganhar. Os do SP, nem isso. Faltou raça. Falta sempre. Lamentável. Não conhecia nenhum dos colombianos, mas como jogam bem! Os tricolores são como caminhão cheio de japonês. Jogadores medianos, sem vontade, com medo e sem nenhum talento! E olha que é um dos três melhores times do Brasil!”, escreveu Edyr à coluna. Concordo por inteiro.

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Quando reforçar vira ato de explícito desespero

“Depois do desastre na semi de la Libertadores, Bauza, treinador do São Paulo, pede contratação do atacante argentino Milton Caraglio. Bauza diz que vai na casa do Caraglio atrás de uma solução para falta de gols de sua equipe. A diretoria do Sâo Paulo acha a ideia do Caraglio e promete investir tudo. Comissão técnica do Morumbi quer o Caraglio já em 2016 para começar o ano novo cuns Caraglio. Torcedores ouvidos acham a notícia do Caraglio, mas o pessoal do Tijuana no México, onde o Caraglio está metido; dizem que ele não sai de lá nem pelo Caraglio de ouro.”

De Glauco Alexander Lima, o mais indomável dos bicolores, analisando o sonho de consumo do técnico argentino do São Paulo

(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 08)

6 comentários em “A queda germânica

  1. Meu caro Gerson, se o Bauza não puder realizar o sonho de ter o Caraglio, há aqui pelo Baixo Amazonas um genérico cuja fama já atravessou fronteiras. Trata-se do Bilau, do São Raimundo de Santarem a respeito de quem assim falou Macaco Simão, “Valeu, Bilau! Tamanho não é documento! E o pequeno e ousado Bilau marcou de cabeça no estádio Colosso do Tapajós”, referindo-se ao “pequeno e ousado que entrou e marcou de cabeça, dando o seu melhor”. Será que agradaria aos anseios sampaulinos?

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  2. Caro Nogueira, gosto do estilo alemão, de toque de bola, procurando envolver o adversário, deixando-o na retaguarda. Porém, sem um Messi, ocorre o que temos vistos em seus jogos. Claro que o gol é o que importa. Definitivamente. Mas creio que logo, eles, os espanhóis, os franceses, encontrarão uma solução pra isso.
    O ocorrido no Mineirão, não conta. Sejamos francos. Aquilo foi o maior exemplo de estupidez de como jogar uma partida daquele nível. Não vejo de outra forma.

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  3. Por outro lado, a vitória francesa rearfimou outra tese, a de que campo e torcida fazem diferença. Brasil de Zagallo sentiu na pele. Quando o Brasil de Parreira ganhou em 94 jogando um futebol pragmático, e essa era exatamente a palavra mais usada, lembro perfeitamente o quanto muitos comentaristas reclamavam a falta do jogo bonito. Hoje em dia, é um tal de anular o adversário que muitos elogiam a postura tática de quem consegue ganhar de um time que joga bonito e não erra passe.
    E por fim, no segundo gol a meu ver a culpa foi de quem errou um passe dentro da área e o Pogba interceptou. Acho q era o Drexler, um novato. O toque do Neuer praticamente tirou a bola da cabeça do Giroux e se o Griezmann estava desmarcado foi justamente porque a defesa foi pega desarrumada pelo erro grave q permitiu o cruzamento.

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  4. Não é á toa que esse time colombiano está com um pé na final. Fez a melhor campanha na fase de grupos e, se somar todos os jogos, só perdeu um e tomou apenas um gol. É sério candidato ao bi, isso se não enfrentar o CABJ.

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