POR GERSON NOGUEIRA
A decisão da terceira edição da Copa Verde finalmente fez pender a balança para as cores do Pará. Depois de bater na trave duas vezes, em 2014 e 2015, o futebol papachibé chegou ao título através do Papão, ontem à noite, em Brasília. Os bicolores não realizaram um grande jogo, mas asseguraram o resultado que convinha, a partir da vantagem (2 a 0) imposta no primeiro confronto em Belém.
O confronto foi mais difícil do que se previa. Muito mais pelas hesitações do Papão em buscar o gol – e um surpreendente pânico que se abateu no segundo tempo – do que propriamente por méritos do Gama.
Tudo o que se falava sobre a campanha meritória dos bicolores na competição, ultrapassando adversários com relativa facilidade, não se confirmou na partida realizada no estádio Bezerrão.
E as coisas começaram bem favoráveis ao time paraense. Mais encorpado taticamente e com o lado emocional em ordem, o Papão pisou em campo na condição de franco favorito à conquista da Copa Verde. Bastava fazer um jogo de espera, explorando os espaços concedidos pelo Gama.
Nem foi preciso esperar tanto por isso. Logo aos dois minutos, Raí deu ao Papão a excepcional vantagem de 3 a 0 no placar agregado e deixou o limitadíssimo Gama com a hercúlea obrigação de fazer quatro gols para reverter a situação.
A partir daí, o Papão se sentiu à vontade para ditar o ritmo da partida, jogando em cima dos muitos erros do Gama, que optou por um 3-5-2 mal ensaiado e não conseguia agredir a zaga paraense. A equipe de Dado Cavalcanti só saía quando a situação não representava risco e controlava bem as tentativas do adversário.
A correta expulsão do jogador Raoni aos 25 minutos tornou o jogo ainda mais tranquilo. Sem qualquer pressa, o Papão se dedicava a tocar a bola para os lados e a concentrar as ações no meio de campo, visivelmente desinteressado quanto à dilatação do marcador.
Com isso, o primeiro tempo foi ficando enfadonho e arrastado. Quase deu sono, até mesmo nos bicolores mais entusiasmados diante da iminência de mais uma conquista importante.
Ocorre que final de competição não pode ser medida pela exuberância técnica ou pelo equilíbrio entre os times. Vale mesmo a emoção colocada a serviço de um objetivo; vale a entrega de cada jogador em busca do resultado almejado. O Papão jogava com esse sentimento, mas faltava um quê de volúpia pelo gol, a fim de ampliar o placar e liquidar definitivamente com as possibilidades do time candango.
Como se quisesse dar à final um gostinho mais emocionante, o Papão se esmerou em erros no segundo tempo, aceitando a pressão desordenada do Gama e correndo riscos desnecessários. Ao tentar escapadas em contra-ataque, faltava sempre caprichar no último passe e Leandro Cearense deixou passar pelo menos duas belas chances de anotar o segundo gol.
A entrada de Rodrigo Andrade no lugar de Raí e atuações fracas de Celsinho, Cearense e Rafael Luz também comprometeram as articulações do time. Isso levou Dado a sacrificar o setor de criação depois da expulsão de Capanema, substituindo Luz por Paulinho. Diga-se, sem qualquer melhoria de rendimento.
Quando o jogo parecia mais morno, o Gama partiu para tentar uma reação. É verdade que já vinha pressionando muito, mas sem objetividade. Mas, depois da exclusão de Capanema, o time cresceu e, aos 28 minutos, Rafael Grampola empatou. Curiosamente, um minuto antes, Cearense perdeu o gol mais feito da noite, chutando para fora.
Três minutos depois, o árbitro enxergou pênalti em jogada limpa de Ronieri. Grampola foi lá e desempatou, botando fogo na decisão. O Gama precisava de mais dois gols para ser campeão e se lançou à frente com fúria e desespero.
Por cansaço e má pontaria dos atacantes brasilienses, o placar ficou mesmo em 2 a 1. A zaga bicolor ainda bateu cabeça nos instantes finais, mas não havia mais tempo para nenhuma surpresa.
Com méritos (pela campanha), o Papão levantou a taça e encheu de alegria metade da população paraense pela taça e também pela vaga conquistada na Copa Sul-Americana de 2017. Mas, tirando o lado da euforia, a atuação do time deixou a desejar e motiva preocupações para a disputa da Série B.
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Dado garante dois títulos em três dias
Dado Cavalcanti, tão torpedeado há um ano, depois de perder a decisão do Estadual e ser eliminado da Copa Verde para o rival, tem seus méritos plenamente reconhecidos agora com o título do torneio interestadual somente três dias depois de levantar o caneco do Parazão.
Aos 34 anos, o técnico afasta as cobranças por títulos, ostentando um cartel respeitável nesta primeira temporada à frente do Papão. Em 79 jogos, foram 40 vitórias, 19 empates e 20 derrotas. Sob seu comando, o time marcou 125 vezes.
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Briga de gangues atrapalha festa bicolor
Showzinho dantesco de gangues uniformizadas brigando ao final da partida no campo do Bezerrão só não foi mais grave porque a polícia agiu rápido. Houve risco de repetição das cenas bárbaras da decisão do campeonato alagoano, domingo, em Maceió.
Terrível mesmo foi o comentário do narrador dizendo que a briga só não virou tragédia porque as “torcidas são aliadas”. Ora, ora, desde quando desordeiros de arquibancada têm aliados?
(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 11)