Coluna: Confirmação de um talento

Passes espetaculares, leitura privilegiada do jogo, presença e liderança nas ações do time. Pois é, o Santos até perdeu no estádio Olímpico, mas um dia depois de ter sido solenemente esnobado na Seleção Brasil, Paulo Henrique Ganso mostrou a que veio.
Sempre elegante nas passadas, o jovem maestro santista deu passe perfeito para André no primeiro gol. Depois, descolou um lançamento inspirado para Robinho marcar o terceiro nos instantes finais. Incansável, ainda arranjou tempo para invadir a área com a bola dominada, driblando e quase arrancou o empate.
Em noite de vitória categórica do Grêmio, de virada, não deixa de ser uma proeza notável que Ganso tenha conseguido espaço para brilhar. Quem acompanha sua evolução no Santos percebe que, a cada jogo, seu futebol amadurece, torna-se mais generoso em relação à equipe. Não há mais lugar para firulas desnecessárias, nem toques de efeito inútil. O talento é posto a serviço da objetividade. Não existe nada mais moderno, nem de longe, no futebol brasileiro de hoje.
Quando a gente observa esses aspectos, enaltecendo virtudes de Ganso, fica sempre a um passo de ser associado a uma louvação xiita. Ou, ainda, como mais um desabafo em relação às escolhas de Dunga na Seleção. Não é o caso. Realmente, a forma atual de Ganso precisa ser ressaltada, por rara nos campos de futebol.
Existem pouquíssimos meias que jogam de cabeça em pé, aparecem com perigo nas ações ofensivas e ajudam a defender com eficiência. Depois da era dourada, que morreu ali pelos anos 80/90, dá para contar nos dedos os estilistas da meia-cancha, que trafegam com desembaraço e altivez naquele território entre as duas áreas.
Riquelme, Gherrard, Kaká, Lampard, Ronaldinho Gaúcho e Zidane (claro). Chegando agora, Ganso está quase habilitado a reivindicar o direito de entrar para essa seleta galeria. Falta bem pouco.      
 
 
Enquanto Ganso brilhou no Olímpico, Dorival Brito exibiu a habitual face botocuda dos técnicos brasileiros. Para segurar o resultado, lançou um volante aloprado, Rodrigo Mancha, que em apenas nove minutos contribuiu decisivamente para a reação gremista. Depois da lambança, o treinador substituiu Mancha, mas o prejuízo já era irreversível.
 
 
Do baluarte Cláudio Santos, técnico do Colúmbia (Val-de-Cans): “Penso que futebol é momento. Lógico que se não pode desfazer de uma base, criada ao longo desses quase quatro anos, mas Dunga poderia levar Ganso e Neymar em detrimento de, por exemplo, Michel Bastos e Josué. Aliás, por essa tal ‘coerência’ do Dunga, uma coisa é certa: ele nunca será capaz de descobrir um novo Pelé, pois como disse ‘se alguém descobrir um, é só me avisar’. Amigos, ele quer um Pelé pronto. Sabe como é, né? Descobrir um dá muito trabalho e talvez fuja de sua capacidade técnica”. 
 
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 13)

5 comentários em “Coluna: Confirmação de um talento

  1. Caro Gerson, seria pretencioso dizer que Ganso lembra muito Zidane? Para mim, ele lembra muito Zinedine no estilo categórico de jogar aparentemente sem pressa (correria), mas com notável objetividade e aceleração de jogadas no momento certo, passadas largas e dribles que parecem que não vão sair mas sempre saem.

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  2. Você ja havia feito a comparação, mas acredito que Ganso está muito mais para Zidane do que para Riquelme, Gherrard, Kaká, Lampard e Ronaldinho Gaúcho.

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  3. O técnico da seleção mal tem tempo de treinar jogadores feitos, que dirá descobrir Pelés. Esse papel pertence mais a técnicos de times amadores, como você Claudio, que é onde afloram bons jogadores em quase todas as posições a serem encaminhados para clubes federados. Os grandes craques, principalmente os que sabem ser gratos, em alguma época da sua carreira fazem referências a seus primeiros treinadores, desde aquele do time de pelada ao que o lançou no time principal. Mais essa agora pra crucificar o Dunga…

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  4. Quiz dizer, amigo Mauricio, que o Pelé, quando convocado pela 1ª vez, ainda não era o Pelé famoso. Ficou famoso, após participar de sua primeira Copa do Mundo, com apenas 17 anos, o que penso que poderia acontecer com outros jogadores, como por exemplo, o Neymar(um novo Pelé), ou Ganso(um novo Rivelino), mas com essa “coerência” do Dunga, nunca vamos descobrir um novo talento, com pouca idade, só quando ficarem mais velhos. Te contar.

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    1. Ok, concordo em termos, só lembrando que antes da Copa 58 o negão já tinha deitado e rolado, dentro e fora do Brasil, inclusive contra argentinos e uruguaios pela seleção . Acho que o Ganso já dá pra arriscar, não iria amarelar, pela sua tranquilidade, personalidade, liderança num time onde teoricamente esse papel seria de Robinho, Léo ou até mesmo Giovanni. Sinceramente, tô achando que ele ainda vai migrar da lista dos 7 pra dos 23, anota aí.

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