Tribuna do torcedor – 12

Por Fabiano Kamada (afkamada@yahoo.com.br)

Primeiro lhe dou os parabéns por sua coluna que leio diariamente pela web no Diário do Pará. Meu nome é Fabiano Kamada, sou paraense papachibé com muito orgulho, amo minha cultura, minha cidade Belém e minhas tradições, porém não posso me calar diante do que li em sua coluna no dia 06/04/2010 onde o senhor leitor Octávio Moreira faz a seguinte citação “…pessoa arrogante e discriminador de nortistas, como os paulistas que trazem essa soberba de berço. É bom ele não esquecer que ele é um autêntico papachibé” (comentário mais racista é impossível: por que nós, paraenses, somos melhores que os outros?). Moro há 10 anos em S. Paulo e nunca, nunca mesmo fui discriminado (aqui existem sim os ignorantes racistas, como aí ou em qualquer lugar do mundo)  no trabalho, em família, em qualquer lugar que seja. Sempre fui muito bem recebido e as pessoas com quem convivo têm curiosidades e respeito por nossa amada Belém e todos os paraenses que conheço aqui (e não são poucos) são da mesma opinião.

Temos que parar com esse sentimento pequeno de dizer que somos sempre coitados. S. Paulo é a cidade que possui habitantes de todos os lugares do Brasil (ops, do mundo), uma verdadeira diversidade cultural, acredito sim em preconceito da parte do leitor em classificar toda uma população como arrogante, discriminadora e soberba por alguma situação que tenha passado? (Duvido que tenha ocorrido alguma discriminação com o leitor em questão). O outro lado da moeda: minha esposa, que é paulista, morou 5 anos em Belém, comigo, e eu sou testemunha do sarro (aí é sarro, não preconceito) que ela sofreu (leia-se: por algumas pessoas). Quando conseguiu um emprego, era tratada como alguém muito diferente pelos outros funcionários, falavam veladamente que ela tinha saído do “Sul” para “roubar” empregos de gente da terra, faziam com ela piadas de mau gosto que os nordestinos tanto reclamam, falavam do sotaque, do tom da pele, da alimentação, todos os dias tinha que driblar piadinhas e mais piadinhas sobre suas origens.

Faziam questão de dizer como SP é feia, como é poluída, como aqui todos se sentem melhores que os outros etc., mas isso não a afetou nem fez com que dissesse que os paraenses são preconceituosos, racistas etc. Pelo contrário, ela adora Belém e não fala mal do povo e da cidade. Ou seja, não se deixou contaminar por uma minoria de ignorantes e verdadeiramente preconceituosos. Como disse, vamos parar com essa história de coitadinhos, que ninguém gosta da gente, que somos discriminados etc… Precisamos levantar nossa auto-estima, melhorar estruturalmente nossa linda cidade para que possamos voltar a ser a capital da Amazônia, cobrarmos seriedade de nossos políticos e de nossos dirigentes de futebol. Temos um dos povos mais apaixonados por futebol (Remo e Paissandu possuem torcidas de Série A e dirigentes de série D) e nossos times estão fora do cenário nacional.

20 comentários em “Tribuna do torcedor – 12

  1. Há comentários que devem ser ignorados, é o preço mais justo. Esse Octávio, Que já começou batizado errêneamente, deve ter vivência limitada até Marituba.

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  2. Comentário mais coerente não poderia existir!

    Esse é o nosso erro! Acharmos que somos coitadinhos e sempre colocar a culpa nos outros!

    Vejam o que acontece quando nos unimos:

    Provavelmente, será instalado um TJF em Belém, fruto da integração entre partidos políticos de direita ou oposição e da sociedade organizada representada pela OAB-Pa.

    Ora, se pra trazer a copa do mundo, pra trazer a 2a esquadra da Marinha pro Pará, pra forçar a saída do minério de carajás pelo porto de vila do conde, pra trazer a sede da Eletronorte pra Belém, para derrubar a Lei kandir e para trazer outros grandes investimentos, houvesse a mesma integração, com certeza nem haveria esse chororô e esse sentimento de cachorro pirento que temos, e até mesmo essa idéia separatista não vingaria!

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    1. Concordo Alberto Lima;
      Mas, tem jeito, as gerações mudam os panoramas, a história registra isso.
      Nós, PARAUARAS, aprendemos, e, estamos mudando o atual, para melhor, com certeza.
      EU ACREDITO!

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  3. Muito bom Fabiano Kamada, bacana mesmo. Parabéns! pela lucidez; ´pela grandeza de espírito demonstrado por tua esposa, em superar, com dignidade,as barreiras regionais, de pessoal sem os atributos que ela demonstrou possuir, como citas; discordo, no entanto, quando dizes que precisamos voltar a ser a capital da Amazônia, coisa que nunca deixamos de ser, e a discordancia, caminha pelo entendimento que, uma metrópole não é apenas aquela, que tem maior densidade populacional, maior quantidade de concreto, asfalto, algumas edificações mais bonitas, e ou, modernas, de acordo com o ângulo de quem a vê.
    Uma metrópole, dentre outros e acima de tudo, precisa também de: Ciencia, produção de conhecimento e desenvolvimento tecnológico, valorização de seus costumes, modus vivendi, vida cultural, agenda próprios, enfim, precisa ter Conceito, e a nossa querida Belém, é uma CIDADE CONCEITO, por isso, NUNCA deixamos de ser, a REAL METRÓPOLE DA AMAZÔNIA, as concorrentes, são só Marketing, e efeito virtual, além do concreto, é claro.
    por isso que o meu chavão é:
    “BELÉM DO PARÁ, METRÓPOLE DA AMAZÔNIA, SIM SENHOR!”

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  4. Fico feliz quando vejo um email desse como o do Fabiano. Como eu disse sobre o próprio comentário infeliz do Octávio, é um saco todo e qualquer assunto descambar pro “preconceito contra o Norte”. Uma grande bobagem alimentada sei lá pelo que. Deve ser muita novela.

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  5. Fabiano,
    meus parabéns pela sua colocação.
    Quando fui morar em São Paulo imaginei que seria extremamente discriminado por ser nortista e etc. etc. e etc. Cheguei todo armado em sampa e qualquer coisa q ouvia eu levava para o lado ruim. Com o tempo fui percebendo que não é nada disso. pelo contrário, sempre fui bem tratado lá e nunca sofri qualquer discriminação por ser nortista. Sofria apenas encarnações, quando apareciam no faustão aquele anormal do brega cheio de luzes, saindo do caixao e cantando brega ou então aquele outro maluco entrando carregado por um monte de brucutus, vestido com uma fantasia horrorosa e um óculos completamente maluco. Mas aí também não tinha jeito neh? se os próprios paraenses se vendiam dessa forma, os caras tinham mais é q zuar.
    Outra coisa, concordo plenamente com sua assertiva de que os paraenses se acham melhores do que o resto do brasil. quando voltei para belém percebi isso claramente. Frases do tipo “Não venha forte que eu sou do norte” exprimem um pouco desse sentimento.
    Temos q para de ufanizar Belém e cair na real. Belém não tem o cheiro do tacacá e da maniçoba. Pelo contrário, Belém está cheia de lixo, quase q totalmente favelizada, temos esgoto a céu aberto até nos bairros nobres. Para se ter uma idéia da estagnação em q se encontra a nossa cidade, o PIB de manaus já é tres vezes maior q o de belém.
    E tem gente q pensa que Belém é a metrópole da Amazônia.
    A perda da copa do mundo não é nada mais do que uma consequencia disso.
    Amo minha belém e meu pará pois foi onde nasci e onde tenho minhas raízes, mas dizer a verdade é preciso.

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      1. heheeh!! Roupa maluca e óculos do anormal do Brega!!!

        Isso eu me lembro!!

        Mas, pelo menos uma coisa temos de adimitir!!

        Pode ser ridículo, mas o cara não tem vergonha de ser o que é!.. Diferente de muitos Papa-Xibé!

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      2. Conscientemente o cara reconhece que é anormal, logo não há como incriminar tal cidadão de preconceituoso em quaisquer esferas imagináveis.

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  6. Afinal, temos sentimento de superioridade ou de inferioridade, de coitadinhos? Ou nem uma coisa, nem outra?
    Morei no Bexiga (bairro de São Paulo – por 19 anos), em Floripa e em Porto Alegre. E digo: o ser humano, no fundo, é sempre igual. Reage da mesma maneira. O problema são os estereótipos que criamos e cultivamos. O carioca é malandro, o paulista é trabalhor, o gaucho é fanfarrão etc.
    Nada disso. Vamos valorizar o que temos de positivo (e temos sim) e combater nossas nazelas (que são muitas).

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  7. Isso é uma grande bobagem!… Tanto de quem tem complexo de viralatas, quanto de quem descrimina. Há preconceito no Brasil? Evidente que sim. Eu e mais dois amigos fomos hostilizados em Tubarão-SC, onde fazíamos um curso, em 1980. Não por sermos paraenses (nem sabiam!), mas por possuirmos a tez característica dos paraenses, fomos gentilmente aconselhados a não adentrar num show do cantor Jair Rodrigues pois naquele recinto só frequentavam pessoas da raça negra. Não nos fizemos de rogados e decidimos ir para um barzinho. Lá chegando, o garçon também nos aconselhou a não ficarmos (percebemos que já havia algumas pessoas nos olhando de forma diferenciada), pois era um bar frequentado por “alemães”, como eles se diziam. E aí? o que fazer nesta situação? sofrer preconceito dos dois lados?… É barra, mano.
    Em relação aos paulistas, concordo quase inteiramente com o post do Fabiano. Uma cidade tão cosmopolita quanto Sampa não permite esse tipo de imbecilidade. Mãããsss… Bom, no interior paulista (principalmente Ribeirão Preto e adjacências) encontramos uma profusão de “pitboys”, filhinhos de papai fazendeiros que achacalham, sim, os nortistas!.
    Isso sem falar em grande parte da imprensa. Principalmente a paulista.

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  8. Bem lembrado Sérgio.
    Ia me esquecendo do interior de São Paulo.
    Conheço um pouco pois trabalhei em um órgão federal e viajava muito pelo interior de são paulo em fiscalizações e tinha uma namorada q era do interior tb.
    Lá sim notei um certo preconceito em relação aos nordestinos e pessoas “de cor”.
    Mas nada comparado ao q eu vi no interior do Rio Grande do Sul. Lá sim o preconceito racial é gritante. Uma vez eu perguntei para um senhor de lá sobre a colonização da região e ele me respondeu assim:
    “uma parte foram os italianos, a outra foram os alemães e o resto foram os pêlo duro”
    adivinhem quem foram os “pêlo duro”.

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  9. Há um provincianismo chato em manifestações de regionalismo no Pará que chega a ser histérico. Esse tipo de pensamento e procedimento de “vira-lata” ou de “cabuco que veio passar o círio” é muito mais construído do que real. Quando se tem competência e senso de convivência civilizada, não há preconceito que resista. É óbvio que em qualquer país, as populações metropolitanas usualmente adotam práticas arrogantes em relação aos “mais afastados” do centro econômico. Nos EUA, são comuns as construções pejorativamente caipiras representadas na população de Nova York e em quase todas as grandes metrópoles do Norte. Na Itália, as diferenças entre Norte e Sul s~]ao gritantes em relação a essas manifestações. Quem conhece Poertugal sabe quantas vezes os lisboetas vivem a sacanear a galera do Algarves. Portanto, são disparidaes regionais resultantes da divisão do trabalho com impactos na cultura e na mentalidade. Garanto que em Manaus se discrimina muito mais os paraenses da RMB do que os paulistas. O resto se tira de letra. Lembro que em 1997, quando terminava uma especialização na PUC em BH, estava comemorando o fim do curso em um restaurante na famosa “Praça da Cirrose” (quem já fez Prepes ou estudou na PUC sabe do que estou falando) em uma grande mesa regada a cerveja e “mandioquinha” com amigos maranhenses, paraibanos, cearenses e piauienses. Só eu, do Pará. Como os amigos falavam alto demais (nesse aspecto, não há diferença entre os nordestinos: todo mundo grita com sotaque de árabe), o garçon achou que estavam brigando e quis dar uma sacaneada dizendo que os “paraíbas” gostavem de confusão. Tomei as dores, fui ao gerente e disse: “amigo, eu sou o único que não sou nordestino e nem todo mundo ali é da Paraíba. Demita esse garçon que não sabe Geografia, nem atender turista. A propósito, quem nasce no Pará é paraense, não paraíba; e quem nasce na Paraíba é paraibano”. Assim, se tira de letra.

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  10. Isso está se alongando. Mas trata-se de uma discussão envolvente. Para o Carlos: pelo duro para o gaucho é o mestiço, o cara da terra – também chamado “índio velho” , para nós o “sumano”.
    A propósito “gaúcho” mesmo para eles é o resultante da miscigenação entre portugues, índio e negro. O colonizador mais recente (italiano e alemão) é chamado de gringo, a turma da serra – para eles não é gaúcho. O resto do Brasil é quem generalizam.
    No fundo, tudo na vida não passa de um construto.

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  11. vicente,
    acho q vc está analisando pela ótica dos moradores da capital.
    Pelo que vi lá nas serras gaúchas os cara do interior não vêêm os alemães e italianos como gringos não, até pq grande parte deles são seus descentes e mantém em casa as tradições européias.

    não tenho certeza mas eu acho q é isso.

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  12. Carlos, você está correto. Fiquei muito tempo viajando por todo o interior do sul do Brasil e tenho experiências interessantes. Nas capitais desses três estados essa questão de segregação praticamente não existe, até porque Curitiba está impregnada de coreanos e chineses, e em POA e Floripa a quantidade de negros quase equivale a de brancos. No interior, nas pequenas comunidades, é que percebemos o quanto ainda está arraigado uma espécie de sentimento nacionalista não-brasileiro.
    Conheci várias localidades que nos colégios os alunos cantavam o hino alemão (ou italiano) e os idosos se recusavam falar português. Conheci famílias inteiras nas quais só podia haver cruzamento entre primos.
    O interessante é que fiz uma grande viagem uns dois anos atrás e ainda percebi muita coisa parecida.

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  13. A discriminação não é feita pelo povão, este, é gente boa em qualquer lugar, e o Fernando deve conviver com estes, mas quando se sobe na escala “social”, aí começa o tal preconceito, você vê um sulista fazendo turismo por aqui, provaveçmente não, para a maioria, em Belém tem índios pelas ruas, os nossos jacarés junto com as sucurís. E quando se trata dos políticos, aí é que coisa piora mais.

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