Coluna: Da instabilidade dos técnicos

Grosso como papel de embrulhar prego e acostumado a distribuir coices verbais mesmo nas entrevistas pós-vitórias, Muricy Ramalho foi defenestrado do Palmeiras, depois da vexatória goleada (em casa) para o São Caetano, time que hoje não passa de mero figurante no Paulistão. 
Antes, protagonizou cenas de pugilato verbal ao analisar a derrota em entrevista coletiva. Em resposta a uma pergunta inconveniente, bravateou a tal valentia, dizendo não temer absolutamente nada, usando termos mais apropriados ao gueto das torcidas (gangues) organizadas.   
A saída do técnico confirma, pela enésima vez, que o futebol brasileiro segue refém dos resultados imediatos. E a impaciência com treinadores definitivamente não é privilégio dos clubes emergentes. Vale para todos. A ausência de bons resultados, mesmo que seja no começo de um campeonato, sempre serve como pretexto para a cartolagem se livrar do técnico na impossibilidade de mandar embora o elenco inteiro.
No caso de Muricy, a transição do São Paulo para o Palmeiras já se constituiu em gesto ousado – e arriscado. Vitorioso no Morumbi, tricampeão brasileiro, levou para o novo clube o currículo estrelado e a responsabilidade de repetir as mesmas façanhas.
O certo é que seus seis meses no Palmeiras tiveram saldo negativo. Fracassou redondamente no Brasileiro 2009. Pegou o time das mãos do interino Jorginho, que se mantinha invicto nas primeiras rodadas. Depois de liderar a maior parte da competição, deixou escapar o título e a classificação à Libertadores na rodada final. Blindado pela diretoria palmeirense em meio ao ambiente conturbado, precisava de uma boa campanha do Paulistão para se estabilizar no cargo.
Com salários estratosféricos, muito acima da média nacional, tinha a seu favor a expectativa de um trabalho de médio prazo, capaz de resgatar a força e a tradição do Palmeiras no cenário nacional. Contava, aparentemente, com o apoio do presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, mas não resistiu ao tropeço pós-carnaval.
O pior é que, observando em perspectiva, Muricy não é o maior culpado pela situação atual do time, superestimado na mesma proporção em que alguns cronistas endeusam Diego Souza como craque. Mas, convenhamos, um técnico de meio milhão de reais não tem direito a errar. Vive de vitórias, como qualquer treinador de quinta categoria. Assim é a vida. 
 
 
Com um time quase todo forasteiro – dos nativos, somente Moisés entrou, mas foi trocado por Enilton no segundo tempo –, o Paissandu passou muitos aperreios em Marabá, mas conseguiu se safar a tempo, pelos pés de Sandro, seu mais lúcido jogador. Enquanto o Águia tinha Tiago, um meia-armador dinâmico, que abre espaços com habilidade e cria oportunidades para os demais atacantes, o Paissandu se perdeu no desentrosamento de Didi com Moisés e Enilton. Não fosse o veterano Sandro, a invencibilidade certamente teria caído ontem no Zinho Oliveira. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 19)  

9 comentários em “Coluna: Da instabilidade dos técnicos

  1. Bom dia Gerson Nogueira e Amigos do blog.

    O técnico Barbiéri, decididamente não sabe mexer no time; aguardemos o Fabrício, se com ele, não ajeitar esse meio campo, será hora de mudar de comandante.

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  2. Prezado Silas, não esqueça que o Barbieri não é “papa-chibé” e por tanto tem todo os direitos que com certeza não teria o nosso Charles Guerreiro, por exeplo.

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  3. Sinal vermelho. A crise financeira da Europa pode repatriar jogadores brasileiros. Itália, Espanha, Grécia, Portugal e outros mais atingidos ,já receberam a receita da UE: apertar os cintos; reduzir drasticamente os salários e benefícios dos seus trabalhadores e outros remédios amargos. O Parlamento Europeu já sinalizou com o desligamento da comunidade o país que não cumprir com o que foi recomendado.
    Só a Grécia deve 290 bi de euros (no meia dessa divida as despeza com os Jogos Olimpicos de Atenas).
    Coloquemos nossas barbas de molho. Assunto sério que merece seriedade daqueles que se proponham discutí-lo.

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  4. Sôbre técnicos e circunstancias. Antonio Carlos é o novo treinador palmeirense. Nove meses de carreira é pouco para assumir um clube grande, sem dinheiro e sem time. O equilibrio que A. Carlos não teve como zagueiro, que o tenha agora.
    Dunga não tinha experiencia como treinador mas acumulava outras importantes. Sempre teve craques à sua disposição e dinheiro é que não falta, faz tempo, na CBF.

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