Coluna: Campeonato Parazinho

Depois da trapalhada envolvendo o convite ao Cametá para participar da primeira fase, que quase inviabilizou a abertura do campeonato e ainda aguarda decisão judicial, o adiamento do clássico entre Remo e Paissandu estoura como uma bomba sobre a frágil credibilidade de clubes, federação e governo estadual.
Confirma de vez a vocação para o desastre demonstrada por grande parte dos atuais dirigentes do futebol paraense. A cinco dias do jogo, a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer reconhece publicamente que não cumpriu o Termo de Ajuste de Conduta (TAC), assinado em 2008, para reforma do estádio Edgar Proença. Com isso, o Ministério Público Estadual decidiu adiar a partida para 7 de março.
Curiosamente, a decisão não se ampara em riscos diretos para o torcedor. Segundo funcionários do estádio, mais de 80% das obras previstas no TAC já foram concluídos. Faltam serviços de limpeza, pintura, instalação de grade nas valetas em torno do Mangueirão e telas de proteção nas rampas de acesso às arquibancadas. Segundo o secretário Jorge Panzera, apesar das restrições técnicas, não haveria problema para realizar o jogo neste domingo, como previsto. Mas o MPE não entendeu assim.
E que ninguém culpe a comissão de vistoria dos estádios pelo rigor quanto às condições de seguranças. Na semana passada, abordei aqui a situação surrealista das praças esportivas (coluna “Em defesa do torcedor”). Simplesmente nenhum dos estádios está apto a receber jogos. Curuzu, Baenão, Zinho Oliveira, Navegantão e Parque do Bacurau são utilizados sob licença especial, carecendo ainda de obras complementares.
O estádio Barbalhão, de Santarém, foi liberado às pressas, anteontem, a tempo de ser confirmado pela CBF como palco de S. Raimundo x Botafogo pela Copa do Brasil. A realidade, nua e crua, é que a Federação Paraense de Futebol organiza campeonatos, mas não dá a mínima para as normas do Estatuto do Torcedor. Como se lei fosse potoca.
 
 
O descrédito que ronda o campeonato atinge níveis alarmantes e inspira teorias conspiratórias dos mais diversos matizes e intenções. Alastra-se, por exemplo, na internet, a tese de que o clássico teria sido adiado por pressão do Paissandu. As suspeitas se baseiam na proposta feita pelo clube, há duas semanas, de adiamento do Re-Pa para 28 de fevereiro, alegando justamente o atraso na reforma do estádio. Todas essas especulações, tisnadas pela paixão das torcidas, não se sustentariam se as autoridades do futebol merecessem crédito e respeito. Hoje, infelizmente, depois de tantos gestos irresponsáveis, o desalento do torcedor caminha rapidamente para o desinteresse total e definitivo pela principal competição oficial.
 
 
Reunião marcada para hoje, no MPE, pode reverter a decisão do adiamento. A repercussão negativa parece ter pesado na balança, mas o estrago do anti-marketing já está feito. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 03)

4 comentários em “Coluna: Campeonato Parazinho

  1. Bom dia Gerson Nogueira e amigos do blog;
    Em toda histórica desorganização do nosso futebol, acostumamo-nos a responsabilizar única e exclusivamente os cartolas de clube, como responsáveis por todas as mazelas recorrentes, a FPF, nunca é acionada, nunca é responsabilizada, no máximo é citada, e isso precisa mudar, sob pena, da pá de cal, que paira sobre o campeonato Paraense, entornar, de vez.
    Defendo a ação moralizadora do MPE, no intuito, de fazer valer a aplicação da lei, se não houver vigilânia, a lei não é aplicada, e vira potoca, no entanto, deveria o MPF, cobrar à FPF, a integral aplicação do Estatuto do torcedor, haja vista, que ela é a gerenciadora das competições futebolísticas, neste Estado, portanto, passível de punição por infringência à Lei.

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  2. Caro Gerson, penso que o MPE age corretamente. Mesmo que não haja risco de vida. TAC´s, acordos, regulamentos, antes de serem assinados são lidos. Pelo menos, teóricamente, são redigidos para serem cumpridos. Essa reclamação da dupla Re x Pa procede. E a solução é a de sempre, o nosso famoso “jeitinho brasileiro” de ir “empurrando com a barriga ou melhor, com o ” deixar de fazer”. É tambem, uma questão cultural. Quanto tempo a Seel teve para realizar as obras faltantes ? Os dirigentes têm sua parcela de culpa, principalmente, por não terem estadios particulares à altura do derby local e, ficarem anos e anos na dependencia do Mangueirão. E os torcedores, em especial do Remo, ainda se iludem com planos de sócio-torcedor etc.. e venda do Baenão para feitura de outro estadio e pagamento das dívidas do clube. É o começo do fim do Leão. Em 03.02.10, Marabá-PA.

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    1. Luís,
      Você está correto. Não cabe atacar o MPE, mas cobrar do governo a celeridade nas obras do Mangueirão. Tiveram pelo menos oito meses sem jogos oficiais e nem assim conseguiram cumprir o TAC??

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  3. Examinar o curso, tanto de Clube do Remo como do Paysandu exige uma dose de humildade suficiente para admitir que nós, enquanto torcedores, não podemos predizer detalhes de como a ala gerencial de cada um dos clubes podem proceder. Mas, o ponto é que mudanças dramáticas e urgentes precisam ocorrer dentro do “Sistema de Gestão”, do futebol paraense.
    As mudanças devem provir para mudar as características básicas do nosso futebol atual. Muitos podem gritar: Não é tarefa fácil. E quem é o louco de afirmar o contrário? Mas, Como alguém um dia perguntou habilmente, se a escravidão poderia ser abolida, “Por que não a guerra?” No contexto do assunto da atual mensagem, pergunto: “Por que não o nosso papel de simples torcedor chorão?
    Há um perigo real de fatalismo em nossas ações. As fanáticas torcidas paraense ainda vêem problemas nos clubes, achando que a qualidade do futebol paraense será alcançada independente de qualquer coisa que se possa ser feita por nós torcedores, fazendo com que nós nos isentemos em ajudá-los. É verdade, que no caso do futebol paraense, muitos dos fundamentais determinantes do caminho futuro de soerguimento estão nas mãos dos “tomadores de decisão” e, que estes precisam tomar as suas decisões baseadas na responsabilidade que isto requer. Afinal, o futuro depende de decisões.
    Nós, enquanto torcedores, temos livre vontade, e, em grande parte, as relações de torcidas/clubes serão as que nós queremos que elas sejam. No entanto, hoje, isto não pode continuar sem o envolvimento necessário. Não podemos simplesmente eliminar nossa parcela de culpa e continuar despejando as lamurias sobre aqueles que deveriam comandar o nosso futebol, mesmo porque, sabemos que suas habilidades para enfrentar os desafios atuais, são mínimas.
    Quem realmente é torcedor, sabe que temos uma independência com o nosso futebol, e estas relações aplicam em ambas as direções: dos torcedores para os Clubes e vice versa.
    O fato é que, uma mudança fundamental precisa acontecer de maneira que os torcedores se percebam no seu relacionamento com os seus clubes. Que os torcedores fazem parte dos clubes ainda é negado pelas suas cúpulas, um grupo que é menos numeroso, mas, que detém muito mais influência nas decisões. As torcidas poderão ser aqueles, que irão manter os processos gerenciais do futebol paraense, equilibrados, em função de sua aproximação, fato que obrigará o “comando” a fazer duas coisas: expurgar a Permissão de Desvio e dar Evidência Objetiva do sistema gerencial do nosso futebol. Assim, o torcedor que se sente Cliente, terá um produto de melhor Qualidade. E, entendam, hoje, o cliente faz muito mais que reclamar, ele, participa junto com o fornecedor. O Sistema SAC, já está sendo ultrapassado!
    O MPE foi usado por algum “cidadão” para atender a sua avassaladora necessidade de ser arrogante! Do contrário, não seria necessário uma reunião para as ponderações finais, e assim, liberar o Mangueirão.
    A Lei tem que ser cumprida, mas, reflexões sobre os seus impactos também são necessários. Eu entendo que a Lei é para fazer justiça e não para punir, e neste caso, acredito não ser mais necessário, a permanência do Sr Nunes na FPF já é uma carga elevadíssima de punição para o nosso futebol.

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