Por uma dessas coisas que só acontecem no Brasil – como a “máfia do apito” ser inocentada porque a patifaria não é tipificada em lei – os clubes disputantes do Brasileiro da Série D foram informados ontem, com o torneio em andamento, que o desempate para classificação na reta final levará em conta a classificação geral e não apenas os jogos do mata-mata.
Nada que surpreenda num campeonato que já nasceu sob o signo da inutilidade, aparentando ter sido criado exclusivamente para alimentar a vaidade sem limites dos donos do futebol brasileiro. Basta um rápido exercício de lógica para perceber que a Quarta Divisão é uma excrescência. É do conhecimento até do reino mineral que não existem no país 80 clubes com estrutura e em condições financeiras para justificar a criação de tantas divisões. O mais irônico é que justamente as duas divisões mais deficitárias e maltrapilhas são as menos aquinhoadas pela CBF.
Coadjuvantes no banquete do futebol nacional, as séries C e D, que reúnem 60 disputantes, são deficitárias e tecnicamente nulas. Os jogos são disputados em estádios improvisados, sem qualquer segurança ou conforto. A D registrou um índice constrangedor de desistências. O grupo, que era encabeçado pelo Nacional-AM, ficou reduzido a três participantes, desequilibrando a disputa.
O critério de escolha dos participantes deu carta branca às federações, levando a situações esquisitas, como a registrada no Pará, onde o Remo acabou alijado por ter cumprido um péssimo campeonato estadual. No entanto, a entidade máxima havia aberto a janela para que o campeão da temporada anterior fosse escolhido automaticamente. Além de uma questão de direito esportivo: como foi rebaixado de divisão (da Série C), o clube deveria ter lugar assegurado na divisão imediatamente inferior.
Mas o pior de tudo é que a notícia divulgada ontem pelo diretor técnico de competições da CBF, Virgílio Elísio, praticamente força S. Raimundo e Cristal a celebrarem um arranjo de compadres, que permitirá a classificação de ambos à próxima fase.
Para isso, cada um dos times precisa derrotar o outro por 1 a 0 ou 2 a 1. Dessa maneira, um se classifica por mérito e o outro por índice técnico. Se a marmelada não for acordada, um deles será eliminado da competição. Nem precisa ser pitonisa para imaginar o que vai ocorrer.
Aliás, a definição do novo técnico do S. Raimundo virou uma novela com forte condimento bairrista. O interino Carpegiane ganhou o apoio da torcida e da mídia santarena, pelos méritos de manter o time em alta e porque Valter Lima trocou o clube pelo Paissandu. Nesse sentido, é preciso entender a pré-disposição dos santarenos contra tudo o que diz respeito a Belém – e, por tabela, os clubes daqui. É o que explica, por exemplo, a comemoração na cidade pela escolha de Manaus para sediar jogos da Copa de 2010.
A reação à ida de Valtinho para o Paissandu se insere nesse clima separatista em relação ao Pará, cuja raiz está nas décadas de abandono administrativo por parte do governo estadual.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 26)
Gerson, tem gente por lá dizendo inclusive que estamos torcendo pelo Cristal, pode? segundo eles a colônia paraense em Macapá é grande e vínculos políticos idem.
Gerson, eu acho que a torcida e a mídia santarena estão certas. Que benefício o Valtinho vai trazer pro SR se não conseguiu sequer classificar o PSC? E o que é pior a desclassificação do Bicola foi humilhante…
EU estou torcendo pelo CRISTAL!
Somente Santarem torce pelo Sao Raimundo….Arthur, ex treinador do pantera disse q lah a questao da separacao eh grande mesmo, ate no futebol…
Há uma forte mobilização em defesa da divisão territorial, querem se emancipar. Acham que têm mais a ver com o Amazonas, o que acho um exagero.
Gerson, até onde sei, o motivo que levou o Valtinho a não assumir o S. Raimundo, foi o mesmo motivo que levou o Arthur a entregar o cargo nesse mesmo time a alguns dias atrás, ou seja: BAGUNÇA GERAL NA DIRETORIA E FALTA DE DINHEIRO PARA CONTRATAR JOGADORES. SÓ ISSO. Sem essa de raivinha porque o mesmo foi para o Paysandu.
Houve o problema financeiro, que já se abate sobre o S. Raimundo há algum tempo. Mas há, sim, entre a torcida santarena, um sentimento de que o Carpegiane deveria continuar no comando. Você conhece Santarém? Pois eu conheço e sei o quanto é forte o ânimo separatista das pessoas. É cada vez maior a identificação com o Amazonas e se avolumam as queixas sobre o “esquecimento” em que vive aquela região. Não é raivinha, é algo bem mais forte. A opção do Valtinho por deixar o Pantera no meio da competição, preferindo vir comandar o Paissandu, não foi bem digerida pela galera.
O Valter Lima passou meses e meses lá e agora não pode vir com essa desculpa de bagunça e falta de dinheiro. Quero saber qual desses times da Série D não sofrem desses mesmos problemas, haja vista o total descaso da CBF com essa famigerada divisão somado ao amadorismo dos dirigentes. Também não recontrataria o Sr. Valter Lima.
SERÁ SE ESTE TIME QUE O PAYSANDU DISPUTOU ESTA (SERIE C), DARIA ALGUM CALDO NESTA (SERIE D)?