Coluna: O surpreendente Avaí

Onde está a chave do mistério? Time meio estropiado, com pouquíssimas contratações (nenhuma de vulto), entra no Brasileiro da Série A com projeto definido de brigar para não cair. Mal começa a disputa, despenca para as últimas posições, ficando várias rodadas sem vencer. De repente, desembesta a ganhar. Adquire aquela blindagem própria da auto-estima resgatada, que caracteriza os grandes times.
Refiro-me ao surpreendente Avaí, que está invicto há 11 jogos e derrotou o Flamengo na rodada de ontem, sem precisar fazer muito esforço. Acumula 34 pontos e já está entre os quatro primeiros colocados, na condição de legítimo aspirante a uma vaga na Copa Libertadores.
Nada garante que vai continuar nessa mesma toada até o final da competição, que está na metade ainda. Mas, sem dúvida, o papel desempenhado pela equipe catarinense é digno de admiração. Ninguém em sã consciência apostaria suas fichas na simples sobrevivência do Avaí na Série A, quanto mais uma provável classificação entre os 10 primeiros.
O trabalho motivacional é sempre mencionado quando um time emergente consegue se sobressair numa competição desigual, mas o que o Avaí vem fazendo em campo extrapola a mera receita de cunho emocional. O time pegou liga, os setores são bem articulados, a defesa funciona e o meio-campo é rápido e eficiente. Futebol é jogo simples e até previsível: quando há organização, os gols nascem naturalmente.
Tanto é verdade que um dos principais destaques ofensivos do time é o rodado Muriqui, que já vestiu pelo menos dez camisas de clubes de todas as divisões nacionais, incluindo breve escala na Curuzu. O outro atacante é William, que passou pelo Santos na fase em que Robinho e Diego dominavam a cena na Vila.
Na criação, o experiente Marquinhos dita o ritmo e se aproxima do ataque quando a situação permite. Dois alas velozes e bons de cruzamento, Luís Ricardo e Eltinho, completam o poderio ofensivo. Além dos citados, a força da equipe tem no goleiro Eduardo Martini um importante trunfo.
Silas, cuja experiência como técnico é mínima, baseia sua liderança na conversa franca e na facilidade para repassar orientações. Em recente entrevista à ESPN, foi sincero nas explicações para o sucesso do Avaí. Destaque no São Paulo dos anos 80/90, o ex-meia disse ter aprendido com Cilinho a valorizar a velocidade na saída para o ataque. Com Mestre Telê, assimilou a importância dos treinos de fundamentos.
Por ora, essa receita meio improvável vem dando certo. O tempo e o desafio dos pontos corridos irão dizer se Silas e o Avaí podem se inserir entre os primeiros da competição. Hoje, é obrigatório dizer apenas que o time de Guga é a grande sensação da Primeira Divisão.      
 
 
O S. Raimundo deu importante passo em direção à Série C. Tem tudo para se classificar entre os oito finalistas da Série D. Para isso, precisa passar pelo Cristal e, com alguma sorte, avança até se tropeçar nos amapaenses – o regulamento amalucado prevê a classificação dos três “melhores” perdedores. Valter Lima, que reassume nesta segunda-feira, tem pela frente o desafio de manter o bom trabalho de Carpegiane.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 24)

8 comentários em “Coluna: O surpreendente Avaí

  1. Se o Avaí tivesse como presidente o destemperado LOP (Indira) nada disso estaria acontecendo. Quando o time catarinense estava na lanterna, a diretoria manteve o técnico Silas no cargo, dando-lhe condições de trabalho. Medida acertada. Sinal de maturidade e competência, além de confiança no projeto elaborado. Se fosse aqui…
    Nota 10 para a diretoria desse alvi-azul.

  2. De novo o “choro velado”…

    Mas Gerson, olha só o que o Silas disse: inspirou-se em Cilinho ao valorizar a velocidade nos contra-golpes e em Telê, ao enfatizar o domínio dos fundamentos do futebol . Fórmula simples, sem mistérios, mas que hoje parece “coisa de outro mundo”. Quando vemos os times europeus (sobretudo os ingleses, quem diria…) e até sul-americanos (como os argentino) e os comparamos com os times brasileiros, têm-se a impressão que algo ficou perdido, ficou pra trás…
    E aí me pergunto: será que o futebol de outros recantos desse imenso planeta melhorou muito ou foi o nosso futebol (que sempre foi parâmetro e indicativo de qualidade mundo afora) que piorou demais? A conferir.

    PS: acho que é Silas, e não Muricy, que se inspira nos ensinamentos de Telê Santana…

    1. Daniel,
      Vi a entrevista do Silas no bate-bola da ESPN, um dia depois daquele empate com o Corinthians em SP. E ele falou tanto no Cilinho quanto no Telê, além de relembrar suas passagens (como jogador) pela Seleção, S. Paulo e San Lorenzo da Argentina.

  3. Tem coisas que que precisam de muito estudo, análise, investigação, levantamento de conjunturas. Quando esse Muriqui passou no Paysandu dava nojo, o cara não acertava um passe de 30 centímetros… vai explicar…

  4. É a nossa paciência que é curta, Glauco. Não é todo mundo que chega aqui no Norte e desembesta a fazer gol. Alguns demoram um pouco a se acostumar com o nosso ambiente. Vandick foi um, mas, graças a Deus, na época tínhamos o Givanildo que insistiu com ele e deu no que deu.

  5. Outro exemplo é o Borges (que continuo a achar um jogador mediano). Avacalhado pela torcida no Papão, hoje brilha no São Paulo.

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