Do Blog do Sakamoto
O Vaticano pediu mais vantagens para a igreja católica ao presidente Lula e a aprovação de um tratado com o Brasil está em curso no Congresso Nacional. O texto inclui liberdade (e isenção tributária) religiosa, respeito a templos e patrimônios, enfim, direitos já existentes. Mas, no começo dessa ladainha, que já completa anos, Bento 16 havia solicitado ao governo federal que também reconhecesse que não há vínculo empregatício entre os padres e a igreja.
Apesar do trabalho dos padres ser uma atividade bastante específica que demanda dedicação integral de corpo e alma, literalmente, ainda assim é um emprego. Há uma cadeia de comando, superiores hierárquicos, necessidade de presença no local de trabalho, tarefas a cumprir e salário. Considerando que o empregador em questão é uma instituição de quase dois mil anos que possui um dos maiores patrimônios financeiros do planeta à custa da contribuição dos fiéis, rendimentos financeiros, valorização de propriedades rurais e urbanas e de obras de arte, digamos que é uma solicitação um tanto quanto sovina.
Nos últimos anos, trabalhadores brasileiros foram às ruas para protestar contra a famigerada “Emenda 3” – aquela proposta parlamentar, vetada por Lula, defendida pelo empresariado e repudiada por movimentos sociais e associações de trabalhadores, que pretendia tirar dos auditores fiscais o poder de verificar a existência de vínculo entre patrões e empregados, facilitando a precarização do emprego. Dessa forma, o pedido do antigo cardeal Ratzinger vai ao encontro dos interesses do capital e não do trabalho. O que mostra que ele está antenado com as necessidades do empresariado em um mundo em que o mercado se torna global e a religião cada vez mais midiática.
Vale lembrar que o Brasil também criou um novo modelo de fusão entre o setor empresarial e a fé, exportando-o para diversos país, modelo bem definido em casos como o da Igreja Universal.
Imaginem padres tendo que se tornarem pessoas jurídicas e abrirem micro-empresas para prestarem serviços espirituais para que o Vaticano economize nos impostos? Ou evitando que a Santa Sé seja processada por seus ex-funcionários que largaram a batina ou por outras pessoas que se sentirem prejudicadas por um deles. Vale lembrar as indenizações milionárias movidas contra a igreja pelos fiéis que sofreram abusos por padres norte-americanos. Em um mundo assim, qual seria a justificativa? De que não foi um representante da igreja, mas sim a “Espírito Santo – Serviços Religiosos e Afins ME” que fez a besteira?
Tudo isso é especulação, pois creio que não chegaríamos ao ponto de ver padres passando notas fiscais no final de cada mês para receber o ordenado. Mas se já vemos entregadores de gás, que ganham uma mixaria, recebendo por pessoa jurídica, nada é impossível nesta terra de Deus.
Religiao continua sendo a melhor franquia no mundo. Mas os “papas” nao querem de forma alguma dividir os pedacinhos da terra sagrada aos franqueados.