A graça do futebol está na infinita capacidade de surpreender. Um lance bobo, despretensioso e inesperado, pode mudar o trem da história, levando o mais fraco a conquistar vitória que parecia improvável. Todos os demais esportes coletivos, incluindo o basquete, são mais ou menos previsíveis, no sentido de que o melhor sempre vence. Só o futebol flerta generosamente com o imponderável, democratizando o sonho e a ambição.
A partir dessa lógica tortuosa, discordo dos que projetam um desfecho trágico para esta super domingueira. É claro que os representantes paraenses correm muito perigo por disputarem a classificação em terreno inimigo, mas não se pode esquecer que os anfitriões terão sobre os ombros a maior carga de pressão e responsabilidade.
No plano puramente técnico, prevalece o equilíbrio. As quatro equipes se equivalem, com ligeira superioridade do Paissandu, pelo elenco e tradição em disputas decisivas. E a estatística está aí mesmo para provar que, quando as forças são parelhas, a tendência natural é o empate – resultado que serve tanto para Águia quanto para Paissandu.
Mesmo tendo em conta o nervosismo que cerca esses embates, sempre capaz de provocar erros individuais, é grande a probabilidade de empates. Pelo cuidado que os times devem dedicar à marcação fica difícil imaginar que os jogos terminem com escores dilatados.
Em Codó, palco do duelo mais tenso, o Paissandu terá duas lutas a travar. Primeiro, contra sua própria instabilidade emocional, responsável por inúmeros prejuízos ao longo do torneio. Depois, contra o sufoco que o Sampaio naturalmente vai impor, buscando resolver o jogo logo de cara.
Não há receita para escapar a isso, mas é certo também que jogadores habilidosos, como Michel e Vélber, terão espaço para organizar contragolpes. Apostando no 4-4-2, Valter Lima parece preparado para esperar o avanço do Sampaio e depois atacar em velocidade.
Nesse caso, deve ser considerada a escalação de uma dupla mais ágil (Balão e Torrô) para explorar o contra-ataque. Há ainda o recurso da inversão de posicionamento entre Vélber e Michel, passando este a atuar como segundo atacante, como fazia (bem) no São Raimundo.
Sob condições normais de temperatura e pressão, com a defesa bem postada, essas providências devem ser suficientes para garantir ao Paissandu um dos dois resultados que lhe interessam. E talvez a gente descubra que o bicho não é tão feio como se imagina.
Nas circunstâncias, o desafio do Águia é até mais encardido que o do Paissandu. Sem as bênçãos da FPF, que não destacou nenhum representante para acompanhar a partida, o time marabaense terá que dobrar um adversário que raramente tropeça em casa.
Um aspecto a considerar: Testinha, contundido, pode não jogar. Sem ele, seu grande articulador, o Rio Branco perde muito da força.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO, edição deste domingo, 02)
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