Coluna: O Paissandu e a lenda do Gaúcho

Quando a lenda é mais interessante que o fato, imprima-se a lenda. A frase-sentença é de Dutton Peabody (vivido por Edmond O’Brien), o velho jornalista de “O Homem que Matou o Facínora”, bangue-bangue clássico de John Ford. A ironia da coisa é que o conceito permanece atualíssimo. Aplica-se, inclusive, ao futebolzinho nosso de cada dia.
O Paissandu, que se complicou na luta pela classificação à próxima etapa da Série C, vê-se às voltas com uma quase lenda cujo nome é Edson Gaúcho. Triunfou num Parazão atípico: Remo, Ananindeua, Castanhal e Águia fizeram suas piores campanhas das últimas temporadas. Apesar disso, o técnico caiu no agrado da torcida, mesmo com métodos pouco ortodoxos de lidar com jornalistas, subalternos e torcedores.
Para a Terceirona, Gaúcho manteve o planejamento adotado no Estadual, sem alterações no elenco. Para prestigiar os jogadores, peitou até o presidente do clube. Decretou que reforços não eram necessários. A decisão acabaria tendo conseqüências danosas ao longo da disputa.   
Passou às duras penas pelos primeiros adversários, Sampaio (desfalcado de quatro titulares) e Rio Branco, e seguiu fiel à sina de não vencer fora de casa. Empatou com o Águia em Parauapebas, depois de estar à frente no placar. O pior viria a seguir, com a virada do Luverdense quando o placar apontava 2 a 0. Banho tático tocantinense, a partir de jogadas do meia Maico Gaúcho, deixado livre pelo estrategista bicolor.
Quatro jogos que o time de Edson Gaúcho cumpriu sem convencer ou encantar. Incomodado com a situação, que remetia ao fracasso de 2008 na Série C, o presidente decidiu afastar o treinador. A contratação de Valter Lima gerou expectativa favorável, mas os tropeços levaram ao ritual de intolerância tradicionalmente reservado aos profissionais nativos.
Até mesmo o gol-relâmpago do Luverdense na quinta-feira é posto na conta de Valtinho (e Luiz Omar). Como se pudessem incutir nos atletas o senso de concentração que se exige de profissionais da bola. Por 30 metros, o lateral adversário foi escoltado pelo bicolor Paulo de Tárcio, que não cometeu a falta e permitiu o cruzamento fatal. Desconfio que nem o lendário Gaúcho seria capaz de prever tamanho descuido. 
 
 
O Paissandu terá 15 dias de folga na tabela para lamber as feridas abertas pelo mau momento na Série C. Tempo suficiente para se recompor. Oportunidade para treinar o time para vencer o Sampaio Corrêa – único resultado capaz de garantir a classificação à próxima fase.
Depois do empate com o Luverdense, recebi dezenas de e-mails e participações de torcedores no blog. Todos lamentam a situação aflitiva do Paissandu, buscam explicações e elegem culpados.
O futebol tem essa mania engraçada de atribuir culpa a alguém quando algo sai da linha ou frustra expectativas. É como se apedrejar Geni ajudasse a extravasar a fúria e aliviar a decepção. Para o bem ou para o mal, Valtinho é a bola da vez e sua sobrevivência no comando depende agora de uma combinação de resultados na chave.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 19)

12 comentários em “Coluna: O Paissandu e a lenda do Gaúcho

  1. Gerson, eu não estava errado quando disse que o Valtinho não é técnico para Remo e Paysandu, viu só, a única boa campanha que ele fez em toda sua carreira, só conseguiu êxito porque, como vc mesmo disse em sua coluna, Remo, Castanhal, Águia e Ananindeua, fizeram suas piores campanhas em campeonatos paraenses, então foi por isso que o S. Raimundo foi vice. Tava achando muito essa competência do Valtinho. E olha que ele foi contratado pelo Papão, por esse trabalho que foi feito nesse parazão, nem perceberam como você, que esses times não jogaram nada. Foram, digamos, Enganados. Bem feito Luiz “Rádio” Omar.

  2. O fato é que se o Gaúcho ainda estivesse aí, estaria sendo apedrejado. Como é o Valtinho, a culpa é toda do time, que, de repente, se tornou fraco e limitado…

  3. Se o gol que o Papão tomou contra o Luverdense é culpa dos jogadores e não do Valtinho, então pode-se dizer o mesmo quando o treinador era o EG, não? Ou essa desculpa só vale para os treinadores protegidos da imprensa?

    1. O que dá pra rir dá pra chorar, meu caro Victor. Do mesmo jeito que pau que dá em Chico bate em Francisco, e por aí vai… A questão é que o gol do Luverdense, se tivesse EG no comando, não poderia jamais ser imputado a ele. Como não se pode dizer que os dois gols do Águia no empate em Marabá tenham sido culpa sua, of course. Agora, os 3 gols do Luverdense na virada no Passos da Ema não saíram por culpa direta dele, mas sob sua responsabilidade – afinal, o jogo corria tranquilo e calmo e o time não marcou quem deveria marcar, nem tomou as cautelas devidas na defesa. Somente isso.

  4. Com a vitória de ontem, o Sampaio garante sua sobrevivência até a última rodada, o que é péssimo para o Paysandu.

    Se vencer do Águia, o Sampaio precisa apenas de uma vitória contra o Paysandu para se classificar, fato em que poucos acreditavam.

    Se não vencer do Águia, o Sampaio brigará apenas para não cair e seu adversário direto sairá do jogo Luverdense X Rio Branco: o perdedor lutará contra os maranhenses para fugir à queda, de maneira que o Sampaio, de um jeito ou de outro, terá que vencer do Paysandu. Para se classificar ou para não cair.

    Um lembrete preocupante: o vice-presidente da CBF é o maranhense Fernando Sarney. O sobrenome já diz tudo.

  5. EDSON GAÚCHO- O técnico mais injustiçado do Pará
    Ainda acredito no paysandu, mas sinceramente sempre vi com maus olhos a demissão do Edson Gaúcho. Futebol vive de resultados e isso ele conseguiu, o que só o Givanildo havia conseguido nos ultimos anos, agora entendi porque ele brigava com a imprensa, com o torcedor, com diretoria, na verdade ele brigava para defender o paysandu, para organizar o clube, para conseguir resultados e para fazer o certo. A verdade é que só com esse tipo de metodologia que as coisas funcionam no futebol paraense. Com ele o paysandu conseguia golear e hoje é goleado, ele conseguiu titulo e hoje o paysandu corre risco de ser eliminado na primeira fase, ele ganhou todos os jogos dentro de casa e hoje o time passa difuculdades para empatar dentro de casa, ele conseguiu o unico ponto que temos fora jogando contra o aguia, ele não tinha medo de colocar três atacantes, liberar os volantes e laterais e hoje as mexidas no time é sempre trocar seis por meia dúzia e girar a bola se ofensividade. Além de ter uma histórica favorável de quebra de tabu e vitórias, ele tava certo o tempo todo em não colocar o jocimar e de cobrar profissionalismo ao máximo dos jogadores, algo que parece ter mudado em termos de empenho dos jogadores depois da saida do ex-técnico. hoje parece que isso se desfez quando ele foi vitima de um golpe, se tivesse tempo o retorno dele era o melhor para o paysandu.

  6. Lembro que em 2005 o time do Remo que foi campeão brasileiro da terceirona também não convencia ninguém. Suava muito para ganhar seus jogos dentro de casa e vivia dando sustos na torcida. Apesar do blá-blá-blá da imprensa, o presidente azulino não deu a mínima para os corneteiros e continuou com o técnico e deu no que deu. Terceira divisão é isso mesmo. Não tem craque. Não se pode exigir show dos times e nem joguinho bonitinho. Hoje, nem os times da Série A convencem, imagina os que estão na C. Essa terceirona é tiro curto, o foco tem que ser nas vitórias, nos três pontos e arrancar o máximo de pontos fora. Deixa pra convencer quando estiver na B ou A que são vários jogos e mais dinheiro para contratar. O Édson Gaúcho, apesar do tropeço contra o Luverdense, normalíssimo no futebol, estava em condições de fazer o time jogar mais. Com ele, com certeza estaríamos com no mínimo 13 pontos. Agora, temos que nos agarrar com Santro Expedito para ver se ele nos dá uma ajudinha.

  7. Gerson, já ficou claro aqui nesse blog que o Gaúcho agradou, sim, a muitos torcedores do Paysandu, inclusive do rival. Tudo bem, o homem não é nenhuma maravilha, mas, convenhamos, para esse momento do Paysandu, ele tinha todo o perfil de quem faria esse time subir, apesar do tropeço contra o Luverdense. Se ele era turrão, mal educado, grosso, isso e aquilo, não importava muito nesse momento. A matéria do Bola de hoje que nos rotula de “Viúvas de Gaúcho”, também deixa claro que a decisão do presidente não teve eco entre todos os cartolas do clube, portanto, o diabo não era tão feio como se pintava. O próprio Vandick, que vive constantemente dentro do Paysandu, também não concordou com a saída do técnico. Acho que até as crianças lá do Ophir Loyola devam estar sentidas com a saída do técnico, pois, depois que ele se foi, nunca mais se ouviu falar em ajudar os pacientes daquele hospital.

  8. Concordo, Sandra. O Édson Gaúcho não brigou com a torcida do Paysandu. A briga foi com outros setores, que pediram a sua cabeça e o Luiz Omar, demonstrando falta de personalidade, cedeu.

    1. Luiz,
      Vai ver que o EG realmente nunca esmurrou torcedor, nem na Curuzu, nem em academia de ginástica. Foi tudo invenção do pessoal de rádio, jornal e TV. Sempre foi um gentleman, a imprensa é que pegou bronca dele, assim de graça, transformando em vilão um sujeito pacato e boa-praça… Bem, é um jeito de ver as coisas. Não vou discutir, nem polemizar mais. Só lembro a você que respeito é bom e todo mundo gosta. O próprio presidente do clube foi destratado pelo cara, que não respeitava ninguém no clube. Nem o mala-sem-alça do Emerson Leão faz isso nos clubes onde atua. O Muricy é casca-grossa com os repórteres nas entrevistas, mas tem boas relações com seus subordinados e demais funcionários do clube. De mais a mais, brigando com todo mundo, espanando coice para todo lado, será que o EG estava certo e todo mundo errado? Por que um cara tão admirado pela torcida do Paissandu tem tanta dificuldade para arranjar clube (e isso não é de agora)? São coisas que levam a pensar.
      É até compreensível ver o torcedor comum dizer que isso não importa, que só interessa resultado, mas desafio alguém a conviver no trabalho com pessoas irascíveis no dia-a-dia. Eu, pelo menos, não gosto. E é preciso entender que um clube de futebol é um local onde vários profissionais se relacionam todos os dias, e espera-se que haja um mínimo de civilidade e respeito entre todos.
      Refiro-me a isso em função da sua frase sobre as brigas do EG em Belém. Na verdade, mesmo tendo esse comportamento, jamais iria julgá-lo por isso. Importa, para o meu trabalho e a minha análise, sua produção como técnico. Com base nisso, considero que o Paissandu fez o certo em dispensá-lo. É uma opinião, não uma sentença. Não vejo motivo para tanta sangria desatada diante de sua demissão. Givanildo Oliveira, que é incomparavelmente melhor e mais vitorioso, saiu daqui várias vezes indisposto com a imprensa e nunca vi a Fiel torcida derramar tanta lágrima. Sinal dos tempos? Perdemos nossas referências? Descemos tanto assim na escala social do futebol?

  9. Parabéns pelas colocações Sandra, concordo com tudo que vc escreveu.

  10. Gerson, caso existisse esse blog com tanto espaço para nossas manifestações com certeza saberia de nosso lamento pela saída jo Giva no ano passado. Lembro que foi mais uma lambança da diretoria bicolor que não atendeu aos pedidos de reforços do treinador e deixou tudo nas costas dele. Não tem como comparar o Givanildo com o Gaúcho. O primeiro está e ficará para sempre registrado em nossa memória e coração pelo trabalho que realizou no Papão. O Gaúcho estava apenas no começo. Talvez não ficasse para o próximo ano, mas no momento o foco deveria ser mesmo unicamente o Paysandu, independente de qualquer coisa. Esse negócio também comparar com técnicos de fora é pior ainda porque estamos muito longe de lá para sabermos o que se passa de fato intramuros. Acredito que o Gaúcho deve sim rever alguns comportamentos, ser mais “político”, ter jogo de cintura, mas jamais hipócrita como muitos preferem. Técnico se indispor com presidente de clube é normal, ainda mais sendo um boquirroto como Luiz Omar. Lembra do Arthur batendo de frente com o Raimundão? Pois é. Vida que segue.

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