A pinimba se alastrou pela mídia e provocou manifestações furibundas por parte dos dirigentes rubro-negros. Tudo porque Ronaldo Fenômeno achou de opinar sobre a sempre espinhosa questão do tamanho das torcidas de Flamengo e Corinthians. Disse que o Timão de Parque São Jorge tem a maior torcida. Opinou usando como gancho um antigo argumento de desportistas paulistas, que jamais engoliram o fato de que o futebol carioca tem mais adeptos no país todo.
Em S. Paulo sempre se duvidou da popularidade dos grandes clubes do Rio no resto do Brasil. É claro que o tema não tem qualquer urgência ou importância, nem abalará a bolsa de Tóquio, mas as declarações de Ronaldo foram suficientes para despertar a ira santa entre os fanáticos flamenguistas, que sempre se orgulharam da condição de clube mais querido do Brasil.
O que se alega em S. Paulo – entre torcedores, dirigentes e jornalistas – é que nativos de outros Estados brasileiros que afirmam torcer pelo Flamengo, na realidade têm o clube de Perácio e Zico como uma segunda opção de time preferido. Isso, na visão paulista, diminuiria o valor das pesquisas que sempre apontam o Fla como agremiação mais popular.
A questão é que o futebol do Rio desfruta, ainda, do período hegemônico no futebol brasileiro, tanto na produção de craques quanto na presença dos veículos de comunicação. Nos anos 50 e 60, a Rede Tupi de televisão e os jornais dos Diários Associados davam o tom da cobertura midiática no país e, por coincidência, tinham suas sedes na Cidade Maravilhosa.
Por tabela, manifestações culturais e artísticas tinham seu epicentro no Rio, derramando sua influência a partir dos bares e das praias de Ipanema. O Brasil tinha sua pauta diária determinada pelos humores cariocas e isso incluía tanto a influência da Bossa Nova quanto a explosão da Jovem Guarda, além de fenômenos televisivos como Chacrinha e Flávio Cavalcanti. O mundinho cultural se resumia à cena carioca.
O futebol seguia a mesma pegada, desde que o Maracanã foi inaugurado em 1950, especialmente para a Copa do Mundo. Nem o monumental trauma da final perdida para a Celeste Olímpica de Obdúlio Varela fez diminuir o fascínio pelo futebol praticado em gramados cariocas e o amor pelos seus principais clubes – Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense.
Apesar de ter arrefecido nos últimos anos, o prestígio dos cariocas ainda é grande. Praças do Norte e Nordeste continuam fortemente dominadas pelos fãs rubro-negros, vascaínos, botafoguenses e tricolores. No Pará, essa situação é visível até nas ruas das maiores cidades, onde camisas de clubes cariocas desfilam garbosamente, indiferentes ao jejum de títulos nacionais dessas agremiações.
Talvez somente daqui a algumas décadas essa derrocada técnica dos times do Rio venha a cobrar seu preço junto às novas gerações de torcedores. Por ora, apesar da calculada frase de Ronaldo, sob medida para criar polêmica e atiçar rivalidades e bairrismos, a situação está longe de apontar mudança de posições no ranking de popularidade dos clubes.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 10)
Caro Gerson, bom dia. Sua análise está perfeita e não há o que acrescentar. Lembro que meu gosto futebolístico (e de praticamente todos os meus amigos) foi moldado pelas primeiras transmissões, aos domingos, do campeonato carioca, cujo comentarista principal era o Rui Porto. Gosto da maneira de jogar dos cariocas e sou fascinado pela irreverência de suas torcidas. Tenho como segundo time o Fluzão e não tenho simpatia por nenhum time paulista. Creio que o Ronalducho e os paulistas têm lá suas razões.