A dança dos técnicos

Palpitar sobre escolha de treinador é tão ou mais arriscado do que tentar prever resultado de eleição. Certas apostas, dadas como certeiras e infalíveis, com o tempo revelam-se tremendos equívocos. Quem em sã consciência imaginaria, por exemplo, que Felipão seria um retumbante fiasco no comando do Chelsea? Ou que, ao contrário, Pep Guardiola conquistaria tantas glórias em tão pouco tempo de gestão no Barcelona e logo em sua primeira experiência no ofício?
No Brasil, um dos fracassos mais ruidosos foi o de Vanderlei Luxemburgo na Seleção, justo ele que era tido e havido como o novo semideus das táticas futebolísticas. Já o capitão-do-mato Dunga, apesar de algumas topadas, vai levando o barco, mesmo contra a maré e a rabugice de muitos (este escriba baionense incluso) e dá a impressão de que pode alcançar conquistas importantes.
São mistérios próprios do futebol, que nunca foi (graças a Deus) ciência exata. Por isso mesmo, de vez em quando, alguns pequenos milagres acontecem, escapando à lógica das coisas. Fiz todo esse intróito em face da troca de comando técnico no S. Paulo, com a saída de Muricy Ramalho depois da eliminação na Taça Libertadores.
Muricy sagrou-se tricampeão brasileiro com o S. Paulo (2006, 2007 e 2008), depois de um vice-campeonato pelo Inter (em 2005). Tem histórico de técnico vitorioso, trabalhador, disciplinador e sério. Marrento e rude no trato com os jornalistas, a quem distribuiu coices quase diários nos últimos seis meses, mas de resultados perfeitamente coerentes com o padrão estabelecido pelo clube nos últimos anos.
É recorrente a imagem do Tricolor como clube mais bem administrado do país, tanto no aspecto financeiro quanto na política de contratações. Curiosamente, o S. Paulo conduziu-se no mesmo nível de qualquer outro time arranca-toco na hora de descartar Muricy, atendendo à cornetagem explícita de alguns conselheiros e da parte mais estridente da torcida.
Muricy, que já mereceu alguns textos críticos meus, sai de cabeça erguida. É evidente que fez um bom trabalho e os números são irrefutáveis – 139 vitórias, 67 empates e 46 derrotas. O estilo é feio, quase brucutu, centrado no jogo aéreo (o velho chuveirinho), mas foi mais do que suficiente para dominar a cena brasileira nos últimos três anos. O certo é que, mesmo tão medalhado, Muricy sai de cena no S. Paulo como um treinador comum. E, suprema ironia, talvez ele de fato não seja mais que isso.
 
 
Por outro lado, o anúncio de Ricardo Gomes como novo comandante pegou a todos de surpresa, pela falta de estofo do escolhido. Ex-beque do Fluminense e da Seleção, Gomes não tem nenhuma conquista vistosa como treinador. Para piorar, acaba de ser dispensado pelo Monaco da França, depois de campanha chinfrim no certame francês. Seu histórico como técnico não o recomenda. De cara, terá que desafiar a lógica e a descrença geral. Estou entre os incrédulos quanto ao êxito de sua missão.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça, 23)

Um comentário em “A dança dos técnicos

  1. Na VERDADE, não basta SER o TÉCNICO de FUTEBOL com o maior DESEMPENHO MUNDIAL. Um dos fatores preponderantes para o SUCESSO ou o FRACASSO, está na EMPATIA com o GRUPO.

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