O torcedor comum, que não chega a conceber a real quantidade de grana mobilizada nessas transações, fica atordoado diante das notícias que cruzam a internet e demais meios de comunicação: Kaká vendido por 65 milhões de euros (R$ 130 milhões), Cristiano Ronaldo cotado a 75 milhões de libras (R$ 239 milhões) e até o jovem Pato entra na mira do Chelsea, que se dispõe a gastar considerável fortuna por sua aquisição, embora mantenha olhar cobiçoso sobre o argentino Aguero, avaliado em 51 milhões de libras (cerca de R$ 163 milhões).
Costumo olhar com desconfiança matuta para tais valores, que de tão altos fogem à compreensão dos seres normais. O grande xis da questão é: de onde vem tanto dinheiro? Outra perguntinha incômoda: quem avalia e determina a cotação dos craques? Mais difícil ainda é entender o complexo mecanismo que move os grandes clubes europeus e seus dirigentes. Quando uma soma estratosférica é anunciada em troca de um astro obviamente várias peças se reacomodam dentro da engrenagem, incluindo os demais jogadores, que compreensivelmente devem se sentir incomodados com a diferença de cacife.
Em futebol, como se sabe, as rusgas normalmente se transferem para o campo de jogo, onde se equivalem quanto a responsabilidades e cobranças do público. Estamos falando aqui do velho boicote, tão comum no Brasil quanto no Uzbequistão. Imagine a cabeça de um Raúl ou de um Van Nistelroy, ao ser informado sobre o caminhão de dinheiro que o presidente Florentino Pérez está desembolsando para tirar Kaká do Milan. E há, ainda, os ganhos do novo astro, certamente superiores aos demais atletas que já habitavam o Santiago Bernabeu e alvo de comparações pouco estimulantes para um esporte coletivo.
São equações de complexa resolução, pois envolvem o sempre instável fator humano e suas vicissitudes, entre as quais a vaidade é apenas um dos muitos pecados. E poucas atividades são tão vulneráveis à inveja e ao ressentimento quanto o futebol profissional, espécie de moderno coliseu de egos e ambições.
Os clubes italianos, ingleses e espanhóis revezam-se nessa competição sem limites para mostrar quem tem mais garrafas vazias no depósito ou, trocando miúdos, quem manda na banca. Manchester United e Real Madri duelam há pelo menos quatro anos pelo título de clube mais rico do planeta. No momento, pelos dados das consultorias, os merengues lideram a corrida, embora acumulem paralelamente a maior dívida entre os 10 grandes da Europa.
Longe do perfil ruidoso de Florentino Pérez, célebre pela filosofia galáctica, o Manchester é fiel apóstolo da linha fleumática britânica, evitando esbanjamento e optando por contratar revelações – aliás, foi assim que adquiriu Cristiano Ronaldo em começo de carreira. Os bons resultados alcançados pelo time de Alex Ferguson confirmam que, pelo menos à primeira vista, os ingleses têm a melhor fórmula. E o outro gigante espanhol avaliza essa política mais espartana. O Barcelona, por declarações de seu próprio presidente, não pretende entrar nessa porfia da gastança.
(Coluna publicada na edição de Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 11/06)
Só para descontrair, o Real contratou o Kaká e o Cristiano Ronaldo, porque não o velho e conhecido Amaral? hahahaha