Sobre Walter

Da coluna de Hélio Gueiros, no DIÁRIO deste domingo:

Walter Bandeira foi embora para sempre.

Ao colocar o papel na máquina para registrar a sua partida para a eternidade, me lembrei de Clóvis Meira numa associação inesperada. É que o doutor Clóvis, como eu o chamava, era um Meira mais ou menos da minha geração, ele mais velho. Era médico e exercia consagradamente o seu ministério. Mas como todos os Meira da primeira geração paraense de um tronco nordestino, o doutor Clóvis gostava de escrever e publicava semanalmente um artigo na imprensa de Belém sobre os mais variados assuntos.

Os tempos passavam e, pouco a pouco, o doutor Clóvis passou a ser jornalista de uma nota só. É que se sentia obrigado a escrever depoimentos sobre a vida de seus contemporâneos que estavam indo embora para as mansões celestiais e não havia uma semana que ele não se visse obrigado a escrever o necrológio de alguém. Eu lia a matéria e dizia comigo mesmo: deve ser muito doloroso para o dr. Clóvis ver todo seu mundo ir embora e ele ficando e escrevendo só sobre a memória deles…

Parece que estou vivendo a mesma dor do doutor Clóvis. Semana passada, escrevi sobre Ronaldo Barata, que se foi. Hoje falo de Walter Bandeira, que também se foi.

Muita coisa bonita já se escreveu sobre ele salientando-se especialmente a sua voz afinada em tom grave para canções românticas. Concordo mas faço uma distinção. Venho de um tempo da era do rádio. E só podia ser locutor de rádio no Brasil quem tivesse voz bonita para falar.

Sou do tempo de César Ladeira, Carlos Frias, Paulo Gracindo, Otávio Cascaes, Acácio Centeno, vozes inconfundíveis nas rádios. Para mim, Walter tinha um timbre de voz que fazia bem aos meus ouvidos. Ele tinha um programa em rádio de Belém, que começava à meia noite e eu ficava ouvindo a voz dele falando, mais bonita do que muito cantor cantando.

Soube que a mãe de Walter, que tem 94 anos e já viu todos os seus filhos, menos um, irem embora, comentou: – Eles estão indo na frente para preparar um cantinho no céu para quando eu chegar…

Tchau, Walter! 

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