Instinto de preservação

Remo e Paissandu, por motivos mais ou menos semelhantes, resolveram mirar no poder cada vez mais absoluto da Federação Paraense de Futebol.

Até prova em contrário, tal disposição ainda depende de confirmações concretas.

Não é de hoje que o poder do coronel Antonio Carlos Nunes desperta ímpetos dissidentes nos principais clubes paraenses.

Mas, como de outras vezes, é prudente não subestimar a capacidade de conchavo e sobrevivência política do veterano cartola.

Neste ano, a Federação deitou e rolou, mandando como nunca.

Intitulando-se dona do campeonato (o que é apenas força de expressão, pois não há campeonato sem a dupla Re-Pa), a FPF chamou para si a decisão de definir sobre questões omissas no regulamento do Parazão.

No vácuo do tal (des)regulamento, instituiu  jogos no interior nas decisões de turno, beneficiando o S. Raimundo, que pertence a uma região que rende muitos votos nas eleições da entidade.

Ao mesmo tempo, deixou o Remo no deus-dará ao optar pela definição de vaga à Série D no campeonato que terminou ontem.

Ofício de Virgílio Elísio, da CBF, deixava claro que a FPF podia bater o martelo de outra forma: indicando o campeão do ano anterior.

Com base em temporadas passadas, a entidade decidiu deixar a disputa para o torneio entrante. O coronel-cartola pode ter cometido aí o maior ato falho de todo o seu longo reinado.   

Coerente ao preservar uma prática usual, a FPF foi insensível à situação periclitante de seu mais antigo filiado (e uma de suas maiores fontes de renda), pois a situação era absolutamente inusitada: o Remo, ao ser eliminado da Série C, estava fora das divisões nacionais.

Era obviamente um caso especial, a merecer tratamento especial – e nem era necessário infringir nenhum preceito legal, já que a própria CBF autorizava a escolha automática.       

Esse mau passo, que feriu duramente o Remo (que depois não teve competência para conseguir a vaga em campo), acabou por incomodar o outro gigante local.

Fontes do Paissandu revelam que a direção do clube não ficou indiferente à situação do velho rival, abandonado à própria sorte num momento particularmente ruim. Não declarou oficialmente sua solidariedade, nem caberia, mas se sentiu desconfortável ao ver o que a FPF pode fazer com seus mais importantes associados.

No fundo, fala mais alto o velho instinto de sobrevivência, característica intrínseca a todos os animais – racionais e irracionais. Os bicolores sabem que, em situação análoga, poderiam ter recebido o mesmo tratamento.

E, afinal de contas, nunca se sabe como será o dia de amanhã.

Ninguém sabe onde vai dar esse sentimento de insatisfação, mas talvez só mesmo o puro instinto acabe levando Leão e Papão a se unirem para derrotar um predador maior.

É a lei natural das coisas.

14 comentários em “Instinto de preservação

  1. A Presidencia da FPF ja deveria ter mudado a muito tempo, chega de um coronel que so quer pra si poder e prestigio junto ao outro autoritario que é o Ricardo Texeira a hora é agora pq se nao ele quer ficar porque o tempo de vacas muito gordas sera em 2010 ele que esta até la.

    quanto ao blog parabens pela iniciativa estou aqui pela primeira vez e ja adicionei esse bolg aos meus favoritos como um grande torcedor bicolor estarei passando por aqui todos os dias ate pq sou fã de um comentarista que nao fica em cima do muro e torce tbm para o nosso GLORISO BOTAFOGO.
    abraços Gerson Nogueira o Comentarista de Primeira

    1. Leandro,
      A alternância de poder é a forma mais democrática de lidar com a gestão pública – apesar de ser uma entidade vinculada à CBF e à Fifa, a FPF é responsável pelo futebol no Pará, uma atividade pública e popular por excelência.
      Quanto aos elogios, agradeço e espero que se junte aos amigos que prestigiam diariamente este espaço dedicado à informação e à livre (e construtiva) troca de ideias.
      Abs.
      Gerson

    1. Maciel,
      Exatamente. Transparência é o mínimo que se espera de uma entidade pública, que lida com interesses tão caros ao torcedor paraense.
      Abs.
      Gerson

  2. É só o Remo e o Paissandu botarem quente, ou seja, tomarem a iniciativa e encabeçar o Parazão de 2010, igualmente como ocorreu na Série A em 1987. Onde elaborariam uma fórmula de disputa e chamariam para si a responsabilidade, convidando demais clubes, que, com certeza, muitos viriam, pois não é somente a dupla REXPA que está insatisfeita com a FPF, não! Caso contrário, os outros clubes não quisessem, os dois fariam uma disputa paralela ao campeonato organizado pela federação. Disputariam entre eles, em torno de 4 a 5 jogos, no final o time com o maior número de vitórias erguia a taça, ou dando empate neste quesito, no último jogo, teria-se prorrogação e, persistindo o empate, pênaltis. Com certeza seria mais rentável, pois como seria o campeonato sem Remo e Paissandu??

  3. Gerson. Acho que tem que se abrir o olho para outro fato: a escolha de Belém como sub-sede da Copa. Caso isso aconteça, a cola na cadeira do Coronel vai ficar bem mais dura e dificil de ser removida, como foi feito com o próprio RT. Abraços

    1. Víctor,
      Não tenha dúvida. Já há, inclusive, articulação nesse sentido. E na TV, em matéria no Bola na Torre, o coronel ainda se queixa de estar com o pires na mão, muito sacrifício e tal. Bem, se é um martírio mesmo, por que não larga o osso?
      Abs.
      Gerson

  4. FALA GERSON,COM RELAÇÃO O ASSUNTO FPF,MINHA OPINIÃO QUE ISSO JÁ DEVERIA TER SIDO FEITO A MUITO TEMPO.A OMISSÃO DA FPF COM RELAÇÃO A REMO É UMA COISA QUE JAMAIS PODE SE ACEITAR EM NÃO BRIGAR E INADIMISIVEL O REMO FICAR SEM CALENDÁRIO PARA O SEGUNDO SEMESTRE,COMO UM TIME CAI DA SÉRIA C E NÃO HÁ UMA GARANTIDA PARA SÉRIE D.OMISSÃO TAMBÉM DA ATUAL DIRETORIA INCOPETENTE E A FALTA DE GESTÃO ACABOU NO QUE DEU LAMENTAVEL.PARABÉNS PELO BLOG,ABS,FÁBIO CEBOLÃO

    1. Fábio,
      O pior é que essa situação da FPF, cuja falta de alternância no poder só repete exemplos superiores (CBF e a própria Fifa), só depende do firme posicionamento dos dois maiores “clientes” da entidade – Remo e Paissandu. O Danilo Santiago propõe uma solução radical, tal sua revolta com o estado de coisas, mas acho que é possível a união de forças e interesses dos dois grandes clubes para que a FPF seja, de fato, um órgão a serviço do nosso futebol. Nunca esqueço que quando o Paissandu sagrou-se campeão dos campeões, em 2002, lá no Castelão, em Fortaleza, a FPF se mantinha distante de tudo, como se de fato não acreditasse na façanha que ali se realizou.
      E os clubes emergentes também serão beneficiados com a alternância de poder, pois terão chances de apresentar seus candidatos. O interior do Estado tem nomes que poderiam concorrer. O problema é que, temendo perder, a maioria nem se arriscar a entrar.
      Ontem, em entrevista no Bola na Torre, o coronel-presidente disse que a FPF “está de pires na mão”, reclamando falta de apoio do governo do Estado, o que soa no mínimo esquisito diante da grande receita que a entidade recebe, gerada exclusivamente pelas galinhas dos ovos de ouro (a dupla Re-Pa).
      Seja bem-vindo ao blog.
      Abs.
      Gerson

  5. Danilo Santiago, vc acha que Remo e Paisandu, teriam mesmo condicoes de coordenarem um campeonato Paraense e suas variadas despesas ?
    Que tal entaum Remo e Paisandu se enfrentarem cinco vezes no ano e quem vencer três é campeao ?

  6. Edmundo Neves, nesse caso os dois já eliminariam as despesas que têm com a FPF, que é de 10% sobre a renda bruta em cada partida. Tentariam apoio com o Governo do Estado (a respeito da segurança, organização do trânsito e ajuda de custos) e junto a SEEL para diminuir as taxas do Mangueirão, já a arbitragem os dois rachariam as despesas, como costumam fazer sempre em clássicos.

  7. Costumam fazer é ? pelo jeito vc nao acompanha os detalhes de um classico..no primeiro turno no 2×2 o Paisandu pagou sozinho pois o Klautau ”assinou”mas na hora H nao ”quitou”…e eu indago vc novamante : nas competicoes de base Os ”titãs” fariam a mesma coisa ? eu nao tenho procuração pra defender a F P F mas não é taum facil administrar o futebol paraense como vc pensa. Caso Remo ou Paisandu caia pra 2ª divisao do paraense vc acredita q nao sera realizado a 1ª divisao pq causa da falta de um dos ”grandes” ? em tempo : hj em dia Remo e Paisandu quando os jogos sao no mangueirao quem compra os ingressos da BWA é a F P F pois os nossos clubes nao possuem credito junto a empresa que imprime esse tipo de ingresso..depois é que eles repassam a federação qndo repassam. Abraço, do Edmundo Neves..

  8. Caro Edmundo Neves,
    Em detalhes maiores sobre esses assuntos administrativos envolvendo os bastidores de Remo e Paissandu, FPF, Governo e etc, confesso que sou leigo a respeito de tais e pelo que vejo você é entendedor, então não prosseguirei com os mesmos. Quando citei no tocante à arbitragem, estava sabendo que no 1º REXPA quem bancou foi o Paissandu, porém me referi que o de costume, ao serem solicitados árbitros de fora para nosso clássico, o que normalmente ocorre é os dois racharem a despesa. Outra coisa, eu duvido muito que ocorra um Campeonato Paraense sem um dos grandes e se um deles fossem rebaixados para a segunda divisão deste torneio, logo achariam um jeito de virar a mesa, como aconteceu em 2000, a favor do Remo, ou você acha que a FPF iria se contentar com jogos sem atrativos ou rentabilidade alguma?! E ao expor minha opinião a respeito da disputa de um campeonato envolvendo só os dois “grandes”, não quer dizer que quero que a mesma seja seguida e, sim, como uma maneira de estimular a dupla RE-PA para acordarem e lutarem contra a FPF, como muitas opiniões de outros vários participantes deste blog.
    Abraços,
    Danilo Santiago.

  9. Grande Danilo..não duvide não, pois no primeiro turno a imprensa e alguns torcedores diziam que a FPF e os arbitros iriam fazer de tudo pra ser RE X PA na decisão..Acabou dando Sao Raimundo…no segundo turno idem..São Raimundo…o futebol brasileiro não cabe mais virada de mesa, por isso eu creio que se Remo ou Paisandu cairem um dia, eles vaum sim disputar a B do paraense…Sds, Edmundo Neves…
    Em tempo : No ano 2000, o nosso estimado TJD viu chifre na cabeça do cavalo, fazendo com que o Remo não perdesse para o Tiradentes os pontos da partida…

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