Sobre como a Pantera saiu dos eixos

A análise fria dos acontecimentos mostra que o S. Raimundo saiu até no lucro. Podia ter levado mais gols, ainda no primeiro tempo – Balão perdeu o mais fácil de todos. No segundo, o Paissandu também desperdiçou algumas boas chances. Volto ao assunto pelas características inusitadas desta final. Não se tem notícia no futebol paraense, pelo menos nos tempos modernos, de outra peleja decisiva com escore tão dilatado.

Foi uma vitória acachapante, rara em finais de campeonato. Além do torniquete tático aplicado por Edson Gaúcho em Valter Lima, existem alguns outros pontos a considerar.

A diferença de expectativas era gritante: o time do Paissandu veio ligado na tomada e o S. Raimundo parecia com o pé no freio. Os bicolores tinham pressa, os santarenos abusavam da lentidão.

A escalação de Michel, abatido por perda familiar, foi temerária e pode ter contribuído para afundar a equipe santarena. O jovem meia-atacante, destaque do Parazão, não foi nem sombra do jogador dinâmico e decisivo de outras jornadas. Além do drama pessoal, Michel carregava a imensa responsabilidade pela mal contada história do pré-acordo com o Paissandu.

Lá atrás, o experiente Labilá, que havia fechado o gol tantas vezes neste campeonato, nunca falhou tanto na vida. A saída destrambelhada, ao melhor estilo Higuita, no lance do primeiro gol, mostrou que o goleiro estava fora dos eixos.

O meio-campo do S. Raimundo, sempre tão afinado, não conseguiu encaixar uma jogada mais trabalhada. O time de melhor passe do campeonato não exibiu sequencia de jogadas – por mérito principalmente da forte e inteligente marcação montada por Gaúcho. 

Como a cabeça parecia longe e o pé não achava a bola, o S. Raimundo perdeu o prumo. E entregou o campeonato logo no primeiro jogo.

Que sirva de lição para o futuro.

 

 

O bicolor Marco Almeida, preocupado com a idéia de jerico da final no sábado à tarde, lembra que o horário é tradicionalmente dedicado à pelada de fim de semana, sagrada (e inadiável) até para fanáticos torcedores. Além disso, alerta, muita gente deixa a compra dos presentes das mães justamente para o sábado.

Já o Pedro Adalberto Maia avalia que a goleada sofrida ontem pelo S. Raimundo revela que faltou humildade aos santarenos. “Não contou que enquanto duelava com o combalido Remo, estava sendo cuidadosamente analisado pelo técnico Edson Gaúcho. Foi só encurralar a fera a um canto do córner, e golpeá-lo sem lhe dar chance de reação. Como sou mocorongo e azulino (S. Francisco) até que não foi de todo ruim, pois aumenta a esperança de que em futuro próximo o Leão do Tapajós seja o primeiro campeão do interior do Estado”.

Quanto a isso, não vi soberba. O Paissandu expôs apenas as verdadeiras limitações do S. Raimundo, cuja boa campanha teve muito a ver com um campeonato atípico de Remo, Castanhal, Águia e Ananindeua. 

(Coluna publicada no caderno Bola/DIÁRIO, edição desta terça-feira, 05)

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