Como é difícil saber perder

Sempre que um resultado foge à lógica e ninguém acha um motivo plausível, surgem as teorias mais estapafúrdias. A surra histórica aplicada pelo Paissandu no São Raimundo, domingo, é a bola da vez. Dirigentes do clube santareno e até o tranqüilo técnico Valter Lima surgem com a tese mirabolante de que uma tal água “batizada” teria sido causa do desastre mocorongo no Mangueirão. O suspeito é um homem não identificado que teria se infiltrado na delegação ainda no hotel.

Duvido muito. A meu ver, a única explicação possível é a de que o Paissandu jogou muito, tendo feito talvez sua melhor apresentação no ano, contra um São Raimundo que teve sua pior atuação e se deixou dominar desde os primeiros movimentos. Se havia algum problema, não estava na água ingerida pelos jogadores, mas na falta de atitude do time.

O que se viu em campo foi o alvinegro do Tapajós aparentemente esquecido do bom futebol mostrado ao longo de todo o campeonato. Em 90 minutos, no momento crucial da competição, o São Raimundo abandonou suas características mais elogiadas. A qualidade do passe, tão enaltecida, se transformou num bate-cabeça permanente. As jogadas pelas extremas também sumiram do repertório.

No fundo, o Paissandu entrou como o time grande que é, impôs seu ritmo e não tomou conhecimento do adversário. Foi ao ataque desde o começo, buscando a vitória a qualquer custo. Quem procura, acha. A vitória (por goleada) foi construída ainda no primeiro tempo, sem grandes dificuldades. Uma receita simples: futebol objetivo e solidário, praticado com simplicidade.

Na Copa de 1990, na Itália, a derrota para a Argentina (gol de Cannigia) até hoje é justificada pelo então lateral-esquerdo Branco como resultante de uma malandragem portenha: a água trazida pelo massagista – e cedida ardilosamente ao brasileiro – teria sido devidamente “batizada”. Tempos depois, em entrevista, Maradona insinuaria que o truque teria sido usado. Ninguém vai poder confirmar se é fato, mas a suspeita permaneceu.  

No caso do Parazão, a tese não se sustenta, embora seja até compreensível que o São Raimundo esteja buscando uma desculpa para a fragorosa derrota. Sabe-se que, em futebol, é sempre difícil admitir a superioridade do adversário. Mais cômodo é arranjar justificativas, mesmo que sejam as mais mirabolantes.

Para que não termine o campeonato com a imagem de mau perdedor, desmerecendo as virtudes do Paissandu, o São Raimundo faria melhor se esquecesse essas bobagens (quase impossíveis de provar) e se concentrasse na segunda partida decisiva. Não dá para reverter a diferença, mas ainda é possível sair de cabeça erguida.

   

 

Na reunião de ontem, no Remo, muitas discussões e nenhuma solução prática. O time (ou o que restou dele) continua sem agenda, nenhum jogo programado até agora. Para piorar, os conselheiros estão divididos e a diretoria novamente isolada, tendo que arcar com as suspeitas de partidarização. Já há quem garanta, com alguma dose de razão, que os novos dirigentes tucanaram o Leão. Será?

(Coluna publicada no caderno Bola, do DIÁRIO, nesta quarta-feira, 06)

7 comentários em “Como é difícil saber perder

  1. Fiquei decepcionado com as declarações do até então sensato treinador do São Raimundo. Como disse o Córdova, houve um desrespeito ao trabalho executado pelo Paysandu.
    O que fez mal ao time mocorongo foi a soberba, companheira inseparável da euforia.
    Lamentável.

    1. Fiquei também decepcionado com a declaração do Valtinho. Sempre o tive na conta de um treinador sensato, equilibrado e que vê o futebol com os olhos da razão. Essa lenda urbana, criada pelos santarenos, pegou mal.
      Abs.
      Gerson

  2. Olá, Mestre Gerson Nogueira.

    Respeitosamente, gostaria de saber porquê você escreve PAISSANDU, ao invés de PAYSANDU. Ressalte-se que o nome do alvi-azul mais bonito do país, foi escolhido “como homenagem ao feito glorioso e heróico da Marinha de Guerra Brasileira, ao transpor o Passo do Paysandu, na guerra contra o Paraguai”. É cediço que o nome é derivado do castellano, por isso a letra “s” após a letra “y” não tem o som da letra “z”. Assim sendo, se o nome de batismo do bicolor paraense realmente for PAYSANDU, humildimente, solicito que reconsidere sua redação. Como diria Olávio Bilac sobre a nossa língua portuguesa, ” Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura:
    Ouro nativo, que na ganga impura
    A bruta mina entre os cascalhos vela… ”

    Relativamente ao Remo, a alternativa é óbvia. Atividades no interior podem ser lucrativas, inclusive a médio prazo, é só lembrar do Paysandu, que numa dessas viagens encontrou o Fabrício,e poucos meses depois o vendeu por 400 mil reais, dinheiro rápido. A mim parece que a vaidade está atrapalhando os dirigentes do leão. É possível sim, ser político sem necessariamente ser partidarizado. O espírito lá por aquelas bandas precisa ser aglutinador e não separatista. Infelizmente, alternativas icoerentes são apresentadas. Essa conversa de acreditar que a CBF vai incluir o REMO na série “D”, é balela. Nem mesmo o presidente acredita nisso, não obstante defender essa tese, mas se acreditasse piamente não desmontaria seu time completamente. Alô Leão vê se acorda e começa a reescrever sua história.

    Por fim, o posicionamento do Rossini ao dizer que não se escalaria para iniciar o próximo jogo em razão do desempenho de seus companheiros, mostra um Papão com espírito de campeão e com perspectivas de grandes alegrias na série C.

    Um grande abraço…

    1. Ruy,
      Há um post, da semana passada, sob o título “Salvemos o Paissandu”, que explica minhas razões, com os argumentos de duas feras do texto paraense. Dê uma espiada.
      Abs.
      Gerson

  3. Gerson,
    não duvido muito que isso tenha acontecido. Como eu já havia comentado com você através de e-mail, o Paissandu ou Paysandu tem um histórico de suspeitas em alguns de seus títulos. Quem não lembra do juiz Serapião que, se não me falha a memória alguns chamavam de “Serapapão” como forma de ironizar no título da série B de 1991, e o famoso juiz Wagner Tardeli e o título da série B de 2001?
    O São Raimundo é o melhor time do campeonato e só não foi campeão do 1º turno porque o “Domingão” expulsou o Claudio Pitibul no 1º jogo da decisão prejudicando o Pantera. Como é que de repente o melhor time do Campeonato para de jogar futebol? Muito estranho!

  4. Eu só quero dizer que o papão jogou muita bola no domingo,e o São Raimundo surge com essa história de água batizada.Vamos saber perder,tem mais e que respeitar o melhor time do parazão…desculpa de amarelão é comer barro!!!!!

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