
Por Renato Janine Ribeiro (*)
Demorei a ter uma opinião sobre o caso do Banco Master e do ministro Alexandre de Moraes, mas, por tudo que vi até agora, estou convencido do seguinte:
Primeiro, que as acusações a ele expressas por alguns jornalistas, sobretudo do Rio de Janeiro, carecem de base — especialmente depois dos esclarecimentos prestados pela repórter Daniela Lima, que é uma das grandes jornalistas brasileiras.
Segundo, que a comparação entre esse caso e o caso Watergate, sugerida por Pedro Dória (a quem admiro muito como historiador), não se sustenta. No caso Watergate, as denúncias que apareceram na imprensa se confirmaram, e o caso só se tornou exemplar, inclusive com o filme que mostra os dois jovens repórteres que se tornaram heróis da mídia, porque a apuração rigorosa da Justiça comprovou o que havia sido apontado pelos repórteres. Portanto, o que podia ter ficado como mero boato, rumor ou furo de reportagem se tornou verdade testada em juízo — o que está muito longe de acontecer aqui, e por enquanto não há sinais de que vá suceder.
Terceiro ponto: estou convicto de que toda essa divulgação e celeuma em torno disso tem por efeito ocultar o fato de que o principal problema na liquidação do Banco Master não é qualquer envolvimento do ministro Alexandre de Moraes no caso, mas sim o fato de que o governador bolsonarista do Distrito Federal estava prestes a comprar uma péssima mercadoria, usando os supostos ativos do referido banco com dinheiro bom dos brasilienses, numa conta que acabaria sendo espetada em todos os brasileiros. Assim, me parece haver uma tentativa de passar uma conta da extrema-direita para o ministro do Supremo que mais defendeu a democracia nos últimos anos.
Finalmente, se eu estiver errado nisso tudo, peço desculpas — mas duvido que esteja tão errado. E se jornalistas podem fazer insinuações sem ter provas, e até se gabam de não ter necessidade de produzi-las, creio que posso sugerir uma interpretação com os dados que estão disponíveis.
(*) Ex-presidente da SBPC; ex-ministro da Educação (2015); professor de Ética e Filosofia Política na USP