Rock na madrugada – Lou Reed/Velvet Underground, “Sweet Jane”

POR GERSON NOGUEIRA

Lou Reed tinha um estilo econômico de tocar guitarra, sem firulas, mas com o tempo passou a valorizar o fraseado e quase conseguiu sepultar o guitarrista minimalista dos primórdios do Velvet Underground, que se escorava nos recursos do parceiro Sterling Morrison (guitarra base) na inventividade de John Cale, principalmente nas apresentações ao vivo.

O jeito de cantar, porém, pouco se alterou. A pegada de bardo, com canções praticamente declamadas, seguiu como característica marcante de Lou. No livro de Will Hermes, “Lou Reed, o Rei de Nova York”, bio definitiva do cantor, a análise da evolução criativa de Reed valoriza sua incrível capacidade de se reinventar em 30 anos de carreira.

A temática queer, que domina boa parte de sua obra, está presente de forma discreta em “Sweet Jane” (Doce Jane), canção do álbum Loaded (1970), com a formação original do Velvet. Ao longo dos anos, como é próprio de Lou, a música foi ganhando arranjos diferentes, acelerados ou mais suaves, calcados no humor ou estado de recolhimento do músico.

Entre as diversas faces de “Sweet Jane”, destaque para a vibe hard rock do celebrado álbum ao vivo Rock ‘n’ Roll Animal (1974), que marca o ressurgimento de Lou Reed após um período de mergulho nas drogas em meio à desintegração do Velvet, repleta de brigas internas. O baixista Doug Yule tocou bateria na versão original porque a baterista do grupo, Maureen “Moe” Tucker, estava grávida. Segundo ele, Reed obteve o riff ideal com a guitarra em volume máximo.

Grupos como Mott The Hoople, Soul Azylum, Cowboy Junkies e Metallica (abaixo) registraram versões interessantes da canção. A letra foca na paisagem urbana e ressalta personagens de rua, figuras sempre emblemáticas nas nas letras de Reed. Abaixo, trecho da letra:

Eu vou te dizer uma coisa
Jack, ele é um banqueiro
E Jane, ela é uma balconista
Ambos economizam dinheiro

E quando, quando eles chegam em casa do trabalho
Oh, sentados perto do fogo, oh!
O rádio toca
A música clássica
“A Marcha dos Soldados de Madeira”

Doce Jane, vamos lá, querida.

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