Ficou mais difícil, mas ainda dá

POR GERSON NOGUEIRA

A 37ª rodada não foi favorável ao Remo. O plano do acesso, que parecia bem encaminhado, de repente entrou em compasso de espera. Subir ainda é possível, mas não depende mais exclusivamente das ações do time. Para alcançar o objetivo, o Leão terá que vencer o Goiás no domingo (23, às 16h30) e torcer para que Chapecoense ou Criciúma percam seus jogos. Depender dos outros é sempre angustiante.

E angústia foi o que a torcida azulina sofreu no sábado à tarde, durante o jogo com o Avaí, disputado em Florianópolis. O Remo sofreu gol ainda no 1º tempo, em pênalti discutível. Até sofrer o gol, o time azulino fazia uma partida controlada e tinha criado as melhores chances.

Panagiotis, Diego Hernández (2 vezes) e Nico finalizaram com muito perigo antes dos 15 minutos. O goleiro Otávio, reserva escalado para o jogo pelo Avaí, era um dos melhores em campo. Apesar disso, havia um grave problema na lateral direita azulina, ocupada pelo volante Pedro Castro.

Obrigado a marcar o velocista Emerson Ramon, Castro tomou um amarelo e se lesionou antes dos 20 minutos. Foi substituído por Freitas, meia-armador improvisado de lateral. Também não deu certo. Foi em cima dele que Ramon cavou a penalidade: um choque dentro da área que resultou no gol inaugural da partida, marcado por Cléber.   

A situação de vulnerabilidade atrás era acompanhada pela ausência de criatividade no meio-de-campo. Panagiotis não conseguia produzir jogadas para os atacantes Nico Ferreira, Pedro Rocha e Diego Hernández. Lento e dispersivo, o meia errou a maioria dos passes. Caio Vinícius, que voltava ao time, também teve atuação aquém do esperado.

Sem conseguir reagir ao gol sofrido, o Remo precisou mudar. Guto Ferreira botou Nathan Pescador, Cantillo, João Pedro e Marrony. Deixou o time mais ofensivo, mas desguarnecido na marcação. Em poucos minutos, o Avaí aproveitou os espaços na zaga e chegou ao segundo gol em contra-ataque fulminante. Cléber recebeu livre diante de Marcelo Rangel.

Com trocas de passe e algumas investidas pelos lados, com Hernández e Nico, o Remo seguiu pressionando. Até que Nathan bateu em direção ao gol, Pedro Rocha desviou e João Pedro diminuiu. Pena que, dez minutos depois, o Avaí liquidou a fatura. Gol de Léo Reis em contra-ataque idêntico ao do segundo gol. Nova falha defensiva fatal.

Os erros de escalação e escolha de substitutos puniram o Remo terrivelmente, levando à primeira derrota sob o comando de Guto Ferreira. Pior ainda: o time caiu da terceira para a 6ª posição a uma rodada do final do campeonato e os pontas Hernández e Nico caíram na pilha dos adversários, sendo expulsos de campo. 

Ficou difícil, mas quem falou que seria fácil?

Técnico admite erros, mas mantém fé no acesso

Guto Ferreira tem crédito. Botou o Remo no G4 quando quase ninguém mais acreditava na possibilidade de acesso. Dito isto, é preciso admitir também que ele comete erros. E cometeu dois erros crassos contra o Avaí. Na falta de opções para a lateral direita, escolheu o volante mais lento do time, Pedro Castro. Para substituí-lo, botou Freitas, jogador que não entrava em campo há meses. Tinha Pavani, Jaderson, Kayky…

Com sinceridade, o técnico admitiu que cometeu erros. De forma genérica, mas admitiu. É uma prova de inteligência e seriedade. Disse confiar no acesso, e passa confiança ao dizer isso ao torcedor. É importante que a torcida vá ao Mangueirão no domingo, faça uma festa e empurre o time para uma vitória que pode determinar o acesso.

Caso o sonhado salto para a Série A não se concretize, paciência. Vale a comemoração por uma campanha excelente, a melhor do Remo em Campeonatos Brasileiros. Vale ainda a experiência de brigar diretamente pelo acesso, enfrentando de igual para igual os melhores times da Série B.

Vale, também, como importante aprendizado sobre as filigranas de uma competição tão equilibrada, seletiva e traiçoeira. Depois de 2025, nada será como antes para o Remo, no bom sentido. A partir de agora, o clube ingressa em outro nível de ambição ao participar do Brasileiro.

Passou o tempo em que o objetivo era apenas não cair de divisão. O Remo de agora quer mais. Ambiciona o acesso para chegar à Primeira Divisão e, de preferência, se manter nela. Para isso, está investindo em estrutura, o que envolve a reforma completa do CT de Outeiro e a revitalização do Banpará Baenão. O caminho escolhido é um sinal de amadurecimento. (Fotos: Elói Mendes e Léo Piva)

Decisão de domingo traz coincidência gloriosa

Há 20 anos, o Remo conquistou seu primeiro título brasileiro. A Série C de 2005 foi conquistada em circunstâncias adversas, parecidas com as de agora. Era preciso vencer, longe dos olhos da torcida, e torcer por outro resultado favorável.  

O Remo foi jogar no estádio Santa Rosa, em Novo Hamburgo (RS), com a missão de vencer para ter chance de conquistar o título, mas isso não bastava. Era preciso que Ipatinga e América-RN empatassem (0 a 0).

Parecia difícil, como agora, mas deu certo. Exatamente no dia 20 de novembro daquele ano aconteceu a rodada final do quadrangular decisivo. Capitão e Maurílio fizeram os gols do Leão. Luís Gustavo descontou para o Novo Hamburgo.

Foi o primeiro título nacional conquistado pelo Remo. Tão importante quanto a taça erguida no estádio gaúcho foi o acesso conquistado naquele momento.

(Quem avisou sobre esse episódio glorioso da história remista foi o professor Gil Matos, torcedor e otimista de carteirinha). 

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 17)

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