Razões para manter a confiança

POR GERSON NOGUEIRA

Minutos depois do empate entre Remo e Chapecoense, domingo à noite, no estádio Baenão, o técnico Guto Ferreira deu a letra: o foco continua na conquista do acesso e a frustração pelo gol no minuto final não anula o trabalho feito até agora. Falou pouco, de forma macia, mas o recado foi certeiro: o resultado realinha as perspectivas, mas o Remo continua com excelentes chances de subir à Primeira Divisão.

Os números respaldam a posição de Guto Ferreira. Invicto há sete partidas (6 vitórias e um empate), o Remo se mantém como um dos destaques do campeonato. O desempenho diante da Chape foi satisfatório, com o controle das ações no 1º tempo e um gol típico da fase atual do time. Movimentação rápida pelos lados e infiltração na área para um finalizador improvável. Caio Vinícius vem se especializando nesse papel.

Foi assim diante nos jogos contra CRB, Athlético-PR, Athletic e Chapecoense. Não é, portanto, produto do acaso. É resultado de treinamento, insistência, repetição e erro. Pena que o volante artilheiro estará fora do decisivo jogo contra o Novorizontino, no sábado.

Um outro aspecto endossa as palavras confiantes de Guto. Há sete rodadas, o Remo joga em rotação alta, empenho absoluto e intensidade máxima jogando dentro ou fora de casa. Uma grande evolução em relação ao time de Antônio Oliveira, que terminava os jogos em estado de desgaste acentuado. Na Série B, as vitórias têm muito a ver com a imposição física.  

Características de um campeonato que exige muito do condicionamento e do equilíbrio das equipes. Os melhores nesses quesitos acabam se distanciando dos medianos. No momento, somente Coritiba, Chapecoense, Remo, Athlético-PR e Novorizontino ostentam essas virtudes.

Times que vinham embalados no começo do campeonato perderam força com o avanço das rodadas. Goiás, Criciúma, Cuiabá e Atlético-GO se desatrelaram do pelotão de cima, com poucas chances de reabilitação, até porque não há muito tempo, pois restam apenas três rodadas.

No sábado, o Goiás enfrentou o Athlético-PR e foi derrotado. Um resultado que muda as possibilidades do time e evidencia as fragilidades de elenco e déficit físico, principalmente no 2º tempo. O Goiás vem perdendo rendimento há várias rodadas, igual ao Remo de Oliveira.

Nesta fase de afunilamento, quando detalhes fazem muita diferença, pode-se dizer que o Remo cresceu fisicamente quando alguns de seus adversários diretos apresentaram queda acentuada de condicionamento. É um ponto que justifica o otimismo de Guto Ferreira e que deve servir de alento para a torcida, que ainda assimila o empate sofrido no apagar das luzes.

Zero surpresa na mudança de comando no Papão

Desfecho previsível depois da confirmação do rebaixamento, a notícia da demissão de Márcio Fernandes soou como assunto velho, depois que o técnico passou por isso no Paysandu duas vezes desde 2023. Em relação à última dispensa, no começo do ano, uma semelhança cruel: a comunicação veio por telefone. Faltou respeito profissional ao único treinador que se dispôs a assumir o barco em meio à tempestade.

O fato é que Márcio Fernandes não tem nada a ver com os problemas acumulados que explicam a vexatória campanha do PSC. Ninguém pode lhe atribuir qualquer culpa pelos maus passos do time nas partidas sob o seu comando.

Até mesmo a última janela de transferência, que foi pintada como esperança final para que o time escapasse da queda, acabou frustrando as expectativas. Depois de longo atraso para contratar, por conta do Transfer Ban da Fifa, as contratações ficaram aquém do esperado e não contribuíram para ajudar o PSC a sair da enrascada.

Márcio precisou lançar mão de peças que não produziam e teve o trabalho prejudicado pela insistência em escalar Rossi, mesmo quando este não tinha condições de jogar plenamente. Dependente de um único jogador de qualidade, o atacante Maurício Garcez, o time não teve forças para enfrentar o destino desenhado desde o 1º turno.

Para o lugar de Márcio, o clube designou o auxiliar Ignácio Neto, jovem técnico revelado na Tuna. Apesar das qualidades, todo mundo sabe que o interino não tem chances de ser efetivado na função.

A missão de Ignácio Neto será conduzir o PSC de forma digna nas três rodadas finais, evitando vexames que tornem a temporada ainda mais tormentosa. Enquanto isso, o clube ganha tempo para encarar o desafio de achar um comandante para 2026.

Ancelotti abre espaço para duas novidades

Vítor Roque e Luciano Juba são as novidades da convocação anunciada ontem por Carlo Ancelotti para os amistosos contra Senegal e Tunísia. O atacante do Palmeiras vem se destacando na Libertadores e o ala do Bahia é um dos bons nomes surgidos no Campeonato Brasileiro.

A chamada de ambos dá a impressão de que Ancelotti ainda não tem a lista definitiva para a Copa. Chamou também jogadores que tiveram pífio desempenho no amistoso contra o Japão, casos de Fabrício Bruno, Hugo Souza, Caio Henrique e Richarlison.

É improvável que cometa a imprudência de levar o trio ao Mundial, mas a insistência é preocupante. Na entrevista, disse que já tem 18 nomes definidos. Neymar continua como um enigma. Enquanto não estiver jogando em ritmo de competição, dificilmente será chamado. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 04)

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