Robert Redford teve a carreira e vida que quis

Por André Forastieri
A beleza e classe de Robert Redford nos distraem da dimensão de sua contribuição ao cinema – e à sociedade. Ninguém em Hollywood estrelou tantos filmes bons durante os anos 70, a grande era do cinema autoral americano. Já desde 1969, como Sundance Kid, até “O Cavaleiro Elétrico”.
Tudo isso foi antes dele começar a dirigir e produzir. Mas não só “dirigiu e produziu”. Correu riscos em filmes que não facilitavam, com temas desafiadores. Seja “Gente como a Gente” ou os políticos “Rebelião em Milagro”, “A Marcha” ou “Os Diários da Motocicleta”.
Sucessos como “Golpe de Mestre” e thrillers políticos densos como “Três Dias do Condor”, “O Candidato” e “Todos os Homens do Presidente” também foram antes dele criar em 1981 a matriz de todos os festivais independentes do planeta: Sundance.
Em retrospecto lembramos como era versátil; ambíguo no drama, faísca na comédia; frequentemente passeando entre gêneros no mesmo papel. Mas você pode rir à vontade em “Descalços no Parque”.
Dois serão sempre lembrados por fãs de quadrinhos. Encarnou um vilão sibilante no melhor filme da Marvel, Alexander Pierce em “O Soldado Invernal”. E seu “Jeremiah Johnson” inspirou uma das mais cultuadas HQs de faroeste, “Ken Parker”, de Berardi e Milazzo.
Difícil pensar em algum astro que tenha se permitido tanta independência, certamente nenhum perto de sua popularidade. Redford deu a cara pra bater pelos direitos dos imigrantes, pela causa LGBT, pelo ambientalismo. Um deus dourado, se deixou enrugar feito couro, enfeiar feito um qualquer. Velho, abraçou o que ator nenhum aceita, o silêncio, no inesquecível “Até o Fim”, já em 2013.
Não se fazem nem se farão mais astros como Robert Redford.