Comentário a respeito de Mino

Por Mauricio Stycer, no Instagram

Há muito o que se falar sobre Mino Carta (1933-2025). O tamanho gigantesco de sua contribuição para a imprensa brasileira ainda está por ser medido e reconhecido dignamente. O folclore que deixa para trás merece ser avaliado sem paixão ou ódio.

No convívio com Mino durante seis anos, incialmente como editor de Cultura e depois como redator-chefe de CartaCapital, conheci um chefe com características únicas. Destaco aqui uma delas, que apreciava muito. Era o ritual semanal de fechamento. Mino convocava o editor de cada seção para diagramar em sua mesa as páginas da edição. Ao seu lado, assistindo a tudo e, eventualmente, palpitando, sentava-se o diretor de Arte, George Duque Estrada. Era preciso chegar à mesa preparado para vender o seu peixe.

Mino definia o espaço que as matérias ocupariam na revista basicamente em função do que o editor da seção considerava necessário. Ou seja, Mino nunca definia um espaço previamente, como vi, ao longo dos anos, muitos editores fazerem. Em 99% das situações em que sentei com ele para fechar um texto, ele me deu o espaço que eu pedi. Ele perguntava qual era o tamanho da matéria e diagramava em função da resposta. Essa confiança no taco dos seus editores e repórteres me marcou demais.

Também me chamava a atenção a disponibilidade de Mino para atender estudantes de jornalismo. Quase toda semana aparecia algum grupo para entrevistar o jornalista. Mino se deliciava com esses encontros. Era uma oportunidade de repassar detalhadamente episódios de sua carreira e de curtir a admiração que os jovens nutriam por ele. Ele abria uma Coca zero e ia contando as mesmas histórias com as mesmas palavras. “Meu fracasso esculpido por Michelangelo”, gostava de dizer sobre o Jornal da República, por exemplo. Todo mundo na redação já conhecia de cor e salteado as aventuras profissionais de Mino, mas não lembro de ninguém reclamar. A gente gostava de ouvir esse chefe um pouco gabola.

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