POR GERSON NOGUEIRA
Bons tempos do rock brasileiro aqueles quando os Titãs ousavam experimentar sonoridades diferentes, sem medo de errar e despreocupados em relação às ambições comerciais. Só pelo prazer de testar possibilidades. É o caso da canção pós-punk “Será que é isso que eu necessito”, cantada por Sérgio Brito com vocalização forte e gutural.
Do disco Titanomaquia (1993), o sétimo da banda, “Será que é isso que eu necessito?” expressa bem a pegada dos Titãs em plena era grunge. Sem Arnaldo Antunes, que havia deixado a banda um ano antes, o álbum foi produzido por Jack Endino, que trabalhou com Soundgarden e Nirvana. O título e a temática tratam de Titanomaquia, a batalha mitológica entre os Titãs e os deuses olímpicos.
O brado contra a opressão, desajustes existenciais e injustiça social é a base das letras de “Titanomaquia”. O lado mais forte, porém, é a sonoridade é mais crua, pesada e áspera, com guitarras e bateria em destaque, por influência direta de Endino.
Além da óbvia referência ao grunge, o disco também flerta com heavy metal, hardcore e hard rock. Além desta canção, o disco trazia “Nem Sempre Se Pode Ser Deus”, “Disneylândia” e “Hereditário”, músicas que entraram para o repertório definitivo do grupo.
À época, os Titãs viviam aos empurrões com a crítica e tentavam recuperar identidade sem um de seus principais compositores (Arnaldo). Curiosamente, partiu para uma guinada radical, incluindo uma profusão de palavrões nas letras, o que remeteu naturalmente à explosão de Nirvana & cia. A avaliação predominante é que o disco representou um renascimento da banda.

Curiosamente, em entrevistas recentes, Nando Reis é o único ex-Titã que demonstra certa mágoa desse período, talvez pela crise criativa que vivia. Acabou não emplacando nenhuma canção e só interpretou uma música. Nando deixaria o grupo em 2002.