O turvo índice de corrupção da Transparência Internacional

Quem mede, quem paga, quem se beneficia

Por André Forastieri

É fácil e pode ser útil entender a Transparência Internacional. Vale um esforcinho, pela repercussão do seu recém-lançado “Índice de Percepção de Corrupção”, o IPC. E pelo que ele representa politicamente, neste momento.

No relatório 2025, o Brasil caiu da posição 104 para 107, entre 180 países. Este anúncio está rendendo muitas matérias, diatribes nas redes sociais, zap de tiozão e tal.

A regra geral das manchetes é “Brasil piora em ranking da corrupção”.

Raras foram a precisão e contextualização do “Valor Econômico”. O título foi preciso: “Brasil piora em ranking de percepção de corrupção”.

Junto veio equilibrado comentário de Maria Cristina Fernandes. Deu espaço justo a críticos do relatório, inclusive o ministro da Controladoria-Geral da União e o diretor geral da Polícia Federal, sobre o título “Transparência e CGU reeditam debate sobre indicadores”.

Vamos debater também?

Como em qualquer análise de qualquer tema sob o sol, recomenda-se começar sempre pelas mesmas duas perguntas. São “de onde vem e para onde vai o dinheiro” e “a quem isso beneficia”.

Em ambos os casos, as informações são públicas.

A Transparency International se diz “the global coalition against corruption”. A TI não produz um índice que meça ou combata a corrupção das corporações. Concentra-se em corrupção governamental.

Sobre “global”, mais da metade do financiamento da ONG vem de governos, a maior parte de países ricos. Outra parte grande vem dos bolsos recheados de organizações multilaterais e fundações; relatórios atualizados aqui. Uma parte pequena vem de empresas, nomes conhecidos e enormes.

Sobre o Índice de Percepção da Corrupção, igualmente públicas são as informações de como é sua confecção. E límpida a razão porque produz os resultados que produz.

Maria Cristina explica em seu artigo que, no caso do Brasil, são usados oito levantamentos para o IPC. Destes oito, quatro são baseados em enquetes com líderes empresariais, feitos pelo Instituto Internacional de Administração e Desenvolvimento, na Suíça, e pelo Fórum Econômico Mundial, aquele de Davos. E os outros quatro, com “especialistas em corrupção que avaliam o ambiente institucional”.

O IPC mede portanto a “percepção de corrupção” de um grupo muito limitado de pessoas, com interesses e vieses muito específicos.

A própria Transparência Internacional explica, neste seu vídeo, que o IPC não reflete a visão das sociedades, do cidadão.

É evidente que picaretas no poder público aqui e por aí fazem muita barbaridade. Ou no mínimo, vista grossa para muita roubalheira. Empresários idem. É frequentemente descontado como “the cost of doing business”, como ouvi mais de uma vez de executivos gringos.

Mas o que acontece cotidianamente mundo afora é poderosos, seus serviçais midiáticos e exércitos digitais colarem a fama de “corrupto” em qualquer político que desvie minimamente da postura submissa exigida.

No Brasil, acusações de corrupção alimentaram a conspiração que derrubou Dilma, prendeu Lula e levou ao poder Temer e Bolsonaro, esses símbolos de retitude.

A TI não pode alegar ignorância sobre a história recente do nosso país. Inclusive porque a nova CEO da Transparência Internacional, Maíra Martini, é uma advogada brasileira e está na organização desde 2011.

Hora de recordarmos a ligação entre a TI e a Lava-Jato, explicitada em trocas de mensagens entre Deltan Dallagnol e Bruno Brandão, então e hoje diretor brasileiro da ONG.

Tem um relato detalhado, com as mensagens, nesta reportagem de 2020 da Agência Pública. E essa materiona do Poder 360. Depois de ler, talvez você conclua que a TI foi na prática parceira da Lava-Jato.

Bruno Brandão e Deltan Dallagnol

O assunto rendeu em dezembro de 2024 despacho do ministro Dias Toffoli, do STF, compartilhando com o Congresso documentos que investigam a conexão entre a TI e a Lava-Jato.

A petição é da gigante J&F, maior empregadora do Brasil, dona da JBS e muito mais. Alega uma “parceria escusa” entre o Ministério Público Federal e a Transparência Internacional, que deixaria a cargo da TI a gestão de R$ 2,3 bilhões, decorrentes do acordo de leniência com a J&F.

A petição afirma que o plano era destinar esses recursos a um fundo para impulsionar políticos alinhados aos objetivos da Lava Jato.

Será? Não sabemos. Cabe investigar. Como é preciso investigar acusações pendentes contra a J&F; ou as compras de Cloroquina na pandemia, privatizações suspeitas, contratos emergenciais sem concorrência, orçamento secreto e o que mais tiver odor suspeito.

Como todo crime, a corrupção precisa ser provada com evidências e os criminosos condenados com base em fatos. Fatos, a TI não oferece.

Quanto aos governos dos países, mais produtivo e melhor para a democracia se fossem rankeados de acordo com suas ações. Não por “percepções” – muito menos pelas percepções de uns poucos.

Mas percepções colam, confundem, convencem.

A quem beneficia a percepção de aumento da corrupção no Brasil, neste começo de 2025?

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