Por Pedro Maciel, no Jornal GGN

Fomos ao Facca Bar aqui em Campinas com os primas Vera Maciel, Vilma Gryzinski Maciel e Bruce Frankel. Aliás, fica a dica para quem não conhece o Facca e esteja passando por Campinas: lá você encontrará o melhor chopp do mundo e os melhores sanduíches “boca de anjo”, um clássico da cidade e reconhecido como patrimônio cultural e gastrônomico (o sanduíche “boca de anjo” é um estilo de corte de lanche criado na década de 1960 por um chapeiro do tradicional Giovanetti, outro tradicional bar da cidade; o nome do chapeiro era Moleza, eu o conheci).
As irmãs Vilma e Vera são primas do meu pai, mas há mais de duas décadas ficamos amigos e nos encontramos regularmente.
Bruce e Vilma são jornalistas. Ela foi editora-executiva da Revista Veja por quase três décadas, hoje assina a coluna “Mundialista” na mesma revista; Bruce é um prestigiado repórter fotográfico de uma revista em Nova York, que hoje vive às voltas com exposições fotográficas de sua obra entre Nova York e Paris; Vilma e Bruce viveram experiências únicas, cobriram guerras e são o que se convencionou chamar de “profissionalmente realizados”, são cidadãos do mundo e uma parte importante do mundo afetivo deles está em Campinas.
A Vera, professora e diretora de escola pública, vive com alegria e intensidade as contradições de Campinas, nos divertimos com sua percepção dos tempos e movimentos aqui da província.
Mal chegamos ao Facca, eu estava ainda na calçada, e um conhecido de longa data, cujo nome prefiro não declinar, me abordou e me questionou sobre as contradições do governo federal, governo que eu apoio e ao qual ele se opõe.
Pensei: “Meu Deus do céu! Quem sou eu para responder uma questão de tal complexidade”, o pior é que nem filiado ao PT eu sou, lembrei do Jacó, que dizia: “a gente sai do PT, mas o PT não sai da gente”. Enfrentei a impertinência do conhecido, enquanto Celinha e as primas se acomodavam no salão, sob os cuidados do Zidane, o garçom que nos atende há pelo menos uma década.
Perguntei: “a quais contradições você se refere?”, ele falou tanto e tantas coisas que nem sei… Eu só pensava: “por que um “Zé Mané” como eu tem de responder essa pergunta, se os líderes partidários não se ocupam de cuidar de proteger o governo e a militância?”.
Ele falava sem parar e eu nem ouvia o que ele dizia, mas pensei na falta que faz a educação política e da incompetência dos partidos de esquerda em falar para a militância e para além dela.
Lembrei das aulas de Carlos Matus, economista formado na Universidade Harvard e ministro do presidente chileno Salvador Allende, que esteve em Campinas visitando o Jacó Bittar em 1990.
Guardo o material com muito cuidado até hoje; foi com Matus que aprendi sobre a importância do “Planejamento estratégico situacional”, que, resumidamente, se caracteriza pela discussão sobre os atores sociais em situação de governo, suas relações, a identificação de problemas e tipificação, o estudo do cenário em momentos de Planejamento: explicativo, normativo, estratégico e tático-operacional.
Ali na calçada me senti abandonado pelos nossos líderes e pior, eles estão cada vez mais distantes dos nossos sonhos, planos e projetos e não tem sequer um MÉTODO para enfrentar a doutrinação que a extrema-direta vem promovendo há pelo menos dez anos. Parece que não estão preocupados em retomar a construção de uma sociedade de iguais, pois, para eles, “o Lula resolve tudo”.
Nossos líderes, me refiro aos burocratas encastelados nos escaninhos dos partidos, não sabem se são comunistas, socialistas, social-democratas, social-liderais ou liberais clássicos (merece ressalva o PSB, que recentemente viveu um processo de conferências preparatórias, que culminou no XV Congresso, que aprovou por unanimidade o novo Manifesto e o novo Programa do PSB, quem puder consulte: https://www.autorreformapsb.com.br/).
Minhas primas já haviam pedido o chopp e eu ainda na calçada, com o sujeito falando sem parar.
Então lembrei de Lenin, que na obra “O que fazer?”, escrito entre meados de 1901 e publicado em março de 1902, introduziu a noção de “organização revolucionária” como uma necessidade para o avanço das lutas proletárias e propôs a organização para a ação; ele propôs, dentre outras coisas, a fundação de um jornal.
Pensei, se estou ouvindo tanta bobagem é porque nossos lideres não estão trabalhando educação política, nem ao menos informação política, pois, já em 1902 Lenin sabia a importância da educação política através de um jornal e em 2024 me perguntei: o que as fundações do PT, PSB, PCdoB, PSOL e PDT estão fazendo para combater o criminoso “Brasil Paralelo”, uma empresa (sociedade anônima) que há oito anos produz vídeos sobre política e história, com viés revisionista, de extrema-direita e conversador? Eu respondo: não estão fazendo absolutamente nada; e são preguiçosos, pois, após dez anos com Lula e cinco com Dilma, essas fundações deveriam ser faculdades ou centros universitários, ou seja, deveriam estar abertas para a sociedade.
Lembrei também de Marx e Engels, que no “Manifesto Comunista” orientaram que a unidade da classe trabalhadora deveria ser promovida através dos crescentes meios de comunicação, para colocar em contato trabalhadores de diversas localidades; enquanto a extrema-direita criou o Brasil Paralelo, o que os partidos de esquerda e suas fundações criaram? Não criaram nada.
Onde estão os partidos de esquerda? Respondo: inertes, amedrontados, esperando que Lula resolva tudo; Lula resolve muito, mas não resolverá tudo, por isso, com esses partidos de esquerda e com seus dirigentes, o problema não será apenas um chato de direita sendo inconveniente na porta de um boteco, mas o resultado das eleições em 2026, 2028, 2030, etc. Será catastrófico.
Essas são as reflexões.
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Pedro Benedito Maciel Neto, 60, advogado, sócio da www.macielneto.adv.br – pedromaciel@macilneto.adv.br