Por André Forastieri

O Covid estava bombando em 2020 quando Ringo Starr celebrou seus oitenta anos em uma live. Foi tocando bateria, para arrecadar grana pro Black Lives Matter.
Em 2024 lançou música nova, excursionou, tá vivinho, esperto e casado com a mesma Barbara Bach desde os anos 70. Essa semana foi muito bom assistir ele mandando ver nas baquetas, hoje com 84, atrás de Paul McCartney, 82, e o garoto Ron Wood, 77.
Ringo, baterista decente, compositor nem isso, zero de voz, poucos discos próprios. Mas também Sir Richard Starkey, lenda do rock, 350 milhões de dólares no banco.
Ringo tem um jeito que ganha a gente e já conquistava os fãs quando entrou pros Beatles em 1962. Carisma? Hmm, talvez o contrário de carisma. Ringo segue Montaigne: nunca está se esforçando mais do que deve.
Ringo parece sempre grato por tudo de bom que a vida traz, talvez pela sua infância desgraçada, muito pobre, sempre doente. Depois do sujeito sofrer criança, tudo são flores.
E Ringo quase morreu várias vezes, já beatle aposentado. De acidente de carro. De peritonite. De alcoolismo.
Já tem três décadas que excursiona por aí com outros dinossauros com sua Ringo and the All-Star Band, karaokê de luxo com sucessos do passado. Trabalha porque precisa de grana? For fun. Mas ganha o seu, claro.

Sempre os óculos escuros, a simpatia e o sinal de paz-e-amor. Ringo vem fazendo seu trabalho direitinho, e nada mais que isso, tem mais de sessenta anos. Ele mesmo diz que só toca bateria em gravação ou no palco. Se esse Ringo sempre relax é fingimento, não sei. Sei é que Ringo não pesa.
Todo mundo tem seus problemas e mr. Starkey na certa não escapa. Mas tem gente que nos inspira a lidar com as encrencas da vida com mais esperteza, delicadeza, tranquilidade. São bons amigos, mesmo que desconheçam nossa existência.
E com essa ajudinha deles, vamos vivendo.
Que eu passe 2025 suave no trabalho e fora dele, consciente das minhas limitações e me esforçando o exato necessário, sábio como Ringo.
E você também.