
Por André Forastieri
Você deixaria um inocente pegar prisão perpétua por um crime que você cometeu? E se ele já tem antecedentes criminais – e o seu crime foi um acidente?
Não estragará sua experiência conhecer a premissa de “Jurado Número 2”, já bem exposta em trailers e sinopses. Este dilema moral é o ponto de partida, não o tema do último filme dirigido por Clint Eastwood. Talvez “último”? Clint ainda tem algo poderoso a dizer. Mesmo que ele já tenha dito antes.
O argumento poderia ser hitchcockiano, mas o roteiro de Jonathan A. Abrams não é, e foi filmado sem sobressaltos. As pessoas parecem pessoas, mesmo quando são Nicholas Hoult e Toni Colette se reencontrando pela primeira vez desde “Um Grande Garoto”.
O caminho da narrativa é o da menor resistência. A câmera é invisível, a música pontual; a justiça é cega sob o sol da Geórgia.
Só poderemos assistir na TV. A humilhação é do estúdio, como diz Isabela Boscov neste comentário que supera sua perspicácia habitual e já avança para a ourivesaria.
Talvez seja necessário chegar aos 94 anos para dirigir um filme tão simples sobre um assunto tão duro. “Jurado #2” nos questiona em vários níveis, mas em seu núcleo é um conto sobre consequências; sobre como elas se impõem com despreocupada desconexão das nossas atitudes ou consciência. Há realidade mais difícil de aceitar?
É epílogo que nos remete a “Os Imperdoáveis”, outro filme de Clint com a mesma resignação calvinista, cósmica: “merecer não explica nada”.