
POR GERSON NOGUEIRA
Jaderson, pelo Remo, e Esli García, pelo PSC, foram os dois protagonistas do futebol paraense em 2024. Ninguém esteve acima deles em categoria e importância para seus times. Por coincidência, ambos têm a mesma idade, 24 anos, e desembarcaram em Belém sem qualquer expectativa em torno de seus nomes. De simples apostas tornaram-se peças fundamentais.

O atacante venezuelano chegou com um bom currículo, carregando a fama de fazedor de gols pelo Deportivo Táchira. Pesavam sobre ele as dúvidas que normalmente cercam atletas estrangeiros que optam por encarar o clima nem sempre ameno do Pará.
Disputou o Campeonato Estadual, aproveitando para seduzir a torcida bicolor com suas arrancadas, dribles espertos e finalizações caprichadas. Faltou convencer o técnico Hélio dos Anjos, que desde o começo manteve postura hostil e crítica em relação a Esli.
Chegou a ter seu sucesso atribuído por Hélio ao fato de ser “engraçadinho” e baixinho. O crescente apoio da torcida aumentou o azedume do comandante. Veio então a Série B para consagrar Esli definitivamente.
Com gols e atuações convincentes, o atacante logo se transformou no artilheiro que o PSC tanto buscava. Quem apostou que o goleador máximo seria Nicolas, enganou-se redondamente. Em poucas rodadas do Brasileiro, Esli já havia marcado mais gols que o antigo ídolo.
Gols importantes e sempre bonitos, como o que marcou diante do Botafogo-SP, driblando os zagueiros e metendo a bola no ângulo superior. Faria muitos outros assim, sempre empolgando a torcida e irritando Hélio. A queda do treinador não tornou a situação mais fácil para Esli.
O novo comandante, Márcio Fernandes, o manteve no banco. Somente quando a consagração já era ampla, Esli finalmente ganhou a chance de entrar jogando, diante do Vila Nova na última rodada. Fechou a temporada como o mais importante jogador da campanha do Papão na Série B.
Jaderson teve uma caminhada diferente, entrando no time desde a chegada ao Baenão, ainda sob o comando de Ricardo Catalá. Atuou inicialmente como ala esquerdo, depois foi experimentado como meia e andou entrando até como lateral. Sobreviveu à vexatória eliminação na Copa do Brasil, que derrubou Ricardo Catalá. Com o substituto, Gustavo Morínigo, passou a ser utilizado como volante, sua função original.
Apesar das boas atuações, principalmente na sequência de quatro clássicos com o rival PSC, Jaderson só viria a ser encaixado definitivamente na equipe após a chegada de Rodrigo Santana.
Foi então escalado como volante/meia, ao lado de Pavani, respondendo pela função primordial de organizar as ações ofensivas do Remo, sem se descuidar da marcação e até mesmo de ajudar a linha de zagueiros.
Com isso, tornou-se peça-chave do time que iniciava a busca pela classificação ao G8 da Série C e terminaria conquistando o acesso com excelente campanha na fase de grupos. Foi um dos heróis do acesso, com participação no gol que garantiu o triunfo sobre o S. Bernardo. (Fotos: Jorge Luís Totti/Ascom PSC; e Samara Miranda/Ascom Remo)
Para reverenciar uma entidade sagrada do futebol
Em meio às glórias botafoguenses das últimas semanas, um nome deve ser sempre reverenciado por todos que amam o futebol: Mané Garrincha, que fez 60 jogos pela Seleção Brasileira, conquistando 52 vitórias, sete empates e sofrendo somente uma derrota. Ao cabo de sua participação com a camisa verde-amarela, o saldo foram dois títulos de Copa do Mundo, sendo que uma delas foi praticamente ganha exclusivamente por ele – Chile 1962.
A Alegria do Povo não ganhou esse apelido tão dignificante por acaso.
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h, na RBATV, com a participação de Giuseppe Tommaso. O futuro presidente do PSC, Roger Aguilera, é o convidado especial da noite. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.
Uma derrota que deveria preocupar muito mais gente
Um jornalista de perfil sério, alheio aos caprichos das paixões clubísticas, observou com propriedade a derrota do Botafogo diante do Pachuca, no Qatar. “Analisando mais profundamente o que aconteceu no Catar, ou mesmo nos dias e semanas prévios à viagem alvinegra para a Copa Intercontinental, o mais adequado seria dizer que qualquer torcedor brasileiro deveria se preocupar”, escreveu Carlos Eduardo Mansur.
Segundo ele, a maratona que contribuiu para que o Botafogo sucumbisse contra os mexicanos “em breve pode vitimar qualquer outro clube do país”. Cito Mansur porque é um jornalista livre de qualquer suspeita de ser botafoguense – aliás, é normalmente muito crítico em relação ao Glorioso. As piadas pós-jogo são compreensíveis, afinal o time que acabara de papar todos os títulos sofreu uma derrota fragorosa e aparentemente inesperada. Há um prazer meio sádico – e bem brasileiro – nessas reações.
“Foi impossível olhar para o jogo e não pensar no calendário nacional. Se o Pachuca era um adversário pouco habitual de um clube brasileiro, a maratona a que times do país são submetidos antes de jogar algumas partidas de futebol não é. E o alvinegro foi a vítima da vez: a final da Libertadores, o jogo decisivo com o Internacional, o título brasileiro contra o São Paulo há três dias, as 15 horas de viagem, as noites mal dormidas, o fuso horário… Nada disso combina com uma preparação desejável para competir em alto nível”.
Os que acompanham futebol com as lentes da serenidade sabem que o desgaste gerado por disputas encarniçadas pode ser o estopim de fracassos aparentemente improváveis. Mansur sabe e traduziu bem a situação desfavorável que rondou o Botafogo, desde a reta final do Brasileiro, submetido a cinco jogos decisivos em pouco mais de duas semanas.
(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado/domingo, 14/15)