
POR GERSON NOGUEIRA
Em meio à angústia que antecede uma decisão de Copa Libertadores, os torcedores de Atlético-MG e Botafogo se agarram às virtudes de seus times. Não há dúvida quanto à qualidade dos finalistas. Atravessar uma competição duríssima, superando adversários de tradição, é prova de competência e estratégia.
Pelo que se viu ao longo da temporada, o Botafogo de Artur Jorge é mais ofensivo e impetuoso. Aposta na imposição física para superar marcação e investe na velocidade pelos lados para furar bloqueios defensivos. Contra retrancas mais radicais, porém, sofreu muito no Campeonato Brasileiro.
Contra o próprio Atlético, há duas semanas, o Glorioso sofreu muito e não conseguiu quebrar a resistência dos mineiros. Como não havia obtido sucesso diante de Grêmio, Cuiabá, Criciúma e Vitória, retrancados e agarrados à missão única de não sofrer gol.
É improvável que o Atlético de Gabriel Milito busque repetir a estratégia do jogo recente. É de conhecimento geral que a busca pelo título das Américas exige um mínimo de ofensividade. Ao mesmo tempo, o Galo vem de 10 jogos sem vitória, com flagrantes dificuldades no ataque. Para superar o Botafogo precisará ser cirúrgico e letal.
Artur Jorge e seus comandados têm como arma natural a pressão adiantada, embaralhando a armação do oponente e roubando bolas na chamada zona perigosa, às proximidades da grande área. Igor Jesus, Savarino e Luiz Henrique, que esbanjam técnica e força física, estarão a postos para executar a missão de conduzir a bola até a área atleticana.
Para Milito, a alternativa será reter um pouco mais suas linhas de marcação e obstruir a passagem pelos lados, a fim de não abrir espaço para Luiz Henrique (ou Junior Santos) e Almada, principalmente. Obviamente, esse primeiro passo é de pura cautela. O time precisará, como alternativa seguinte, avançar para tentar o gol. A não ser que, num cenário atípico, o Galo entre em campo apostando em levar a decisão para as penalidades.
O fato é que, por tudo que a história recente do clube expressa, o Botafogo tem mais urgência. A rigor, tem urgências. Deseja o título para compensar a sofrência de 2023, para mitigar sofrimentos acumulados em décadas de imprevistos e decepções. Precisa, acima de tudo, entregar a taça maior das Américas a uma torcida tão resiliente quanto apaixonada.
É um jogo com pinta de definição dentro dos 90 minutos. Arrisco dizer que os times só precisam dos dois tempos regulamentares para fazer o que a grande decisão exige. No contexto natural das rivalidades em cena, o equilíbrio pode ser de repente rompido pela técnica mais apurada de um ou a força de conjunto do outro.
Está vivíssima a velha máxima de que finais não são jogadas, mas vencidas. Para tanto, é necessário mostrar performance quase perfeita, erro zero e desempenho encaixado. Espero que, ali pelas 19h do sábado, o meu Alvinegro faça seu povo tão sofrido sorrir como nunca antes.

Histórias e lembranças que embalam a glória eterna
Acompanhei partidas decisivas e eliminatórias em Copas – 2006, 2010, 2014 e 2022 – e passei maus pedaços principalmente no Mundial disputado aqui no Brasil. O massacre alemão até hoje me apavora. Nunca me senti tão impotente como testemunha de um jogo como naquela tarde no Mineirão.
Nada, porém, chega nem perto do que o confronto histórico deste sábado certamente vai proporcionar a todos nós, botafoguenses – permitam-me falar como torcedor. Tudo é muito maior e assustador do que torcer pela Seleção Brasileira. O Botafogo não ganha um título importante há 29 anos.
O último foi em 1995, um Brasileiro que foi ganho através do esforço da geração de Túlio Maravilha e Donizete. Antes disso, eu havia experimentado a imensa alegria de comemorar a conquista do Carioca de 1989, que já não era nosso há 21 anos.
É verdade, não custa admitir, temos glórias gigantescas e conquistas escassas. O Botafogo é o time que mais cedeu jogadores à Seleção em Copas do Mundo. É o único clube brasileiro que “ganhou” uma Copa, a de 1962, quando cedeu cinco titulares ao escrete – Nilton Santos, Amarildo, Didi, Zagallo e Mané Garrincha.
Ao mesmo tempo, temos uma galeria de incidentes desagradáveis, derrotas improváveis e pipocadas terríveis, como a do ano passado, quando um título que era nosso por mérito acabou escapando miseravelmente nas 10 rodadas finais do Brasileiro.
O que eu via lá em Baião, nos meus 10 anos de idade, eram exemplares da Revista do Esporte com craques da Estrela Solitária na capa. Isso me levou a desviar a rota de torcer pelo time de coração de meu pai José, o Vasco. Tudo indicava que eu seria vascaíno, pelo respeito às convicções de meu velho, mas o brilho da Estrela imortal falou mais alto.
Lembrava disso nos últimos dias ao olhar com pretensioso distanciamento emocional para a grande final de hoje. Uma tentativa inútil de ser frio e técnico. Mas, ao mesmo tempo em que buscava forças na disciplina profissional, era assaltado pelas lembranças pungentes da presença do Botafogo em minha vida.
E, como questão absolutamente definitiva, tive que considerar o fato óbvio da importância de ser botafoguense para amar tanto futebol. Todo o meu fascínio pelo jogo tem a ver com o amor pelo Botafogo. São coisas indissociáveis, graças a Deus.
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h deste domingo, na RBATV, com participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense. Em debate, os movimentos de PSC e Remo de olho na próxima temporada. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.
(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado/domingo, 30/01)