POR GERSON NOGUEIRA
O discurso dos técnicos não muda a respeito do aproveitamento de jogadores oriundos da base. No início da temporada, na apresentação dos elencos, surgem sempre declarações em defesa dos garotos. Acenam com a promessa de oportunidades para todos. Seria muito bom se tudo não passasse, em geral, de conversa fiada.
A única chance que os jovens terão mesmo é a de completar os times nos treinos da fase de preparação inicial. Tudo isso, porém, vem emoldurado pela defesa da meritocracia, conceito furado por natureza. Segundo essa lógica, os garotos mais talentosos teriam vez no time principal.
Em entrevista recente, o técnico do Remo, Rodrigo Santana, afirmou que “vamos dar muita oportunidade para o pessoal da base, vamos olhar o dia a dia, vamos ter treinos aqui, dias de dois períodos de treino e eles vão estar com sobre nossos olhos, só depende deles”.
E é justamente aí que mora o perigo. A história de que só depende dos novatos é lenda. Não funciona assim. Até o leãozinho de pedra do Evandro Almeida sabe que as chances de aproveitamento dos garotos são praticamente nulas, levando em consideração as últimas temporadas.
O último a dar um razoável espaço para a turma da base foi Marcelo Cabo, há dois anos. Ele chegou a montar um Remo B para disputar o Parazão, aproveitando Kanu, Joilson, Henrique, Felipinho e Ronald. Não foi além disso. Nas competições mais importantes, os meninos foram esquecidos.

No ano passado, Ricardo Catalá repetiu a prática das palavras de estímulo à base que não se sustentam no mundo real. Desta vez, Rodrigo Santana repete o ritual, mas na Série C deste ano raramente lançou jogadores vindos da base. Ronald jogou duas ou três vezes e, mesmo quando brilhou, como contra o Caxias, foi limado da ordem de prioridades.
Agora, há a notícia sobre um acordo de liberação por empréstimo para o futebol paranaense. Pelo menos, não ficarão por aqui dependendo de uma ou outra chance de entrar nos minutos finais dos jogos. O ideal, contudo, seria o aproveitamento progressivo para permitir evolução técnica e valorização para futuros negócios.
A base não sairá nunca do estágio atual enquanto o tratamento dispensado a ela for de condescendência ou falsa preocupação com o futuro. Seriedade e profissionalismo devem ser os pilares de qualquer projeto nessa área. (Foto: Samara Miranda/Ascom Remo)
Números revelam erros do Papão nas contratações
Em plena fase de especulações quanto à formação do elenco do PSC para 2025, o leitor Márcio Augusto realizou uma pesquisa sobre o aproveitamento de jogadores na presente temporada. O problema está no excesso de peças e na carência de qualidade, com o erro de prestigiar jogadores que participaram da campanha do acesso em 2023.
“O Paysandu teve no elenco de 2024 pelo menos 47 jogadores diferentes, sendo que 11 deles estavam no elenco de 2023 (23%) e 36 foram contratados (77%) para temporada de 2024”, aponta o levantamento.
Dos remanescentes de 2023, apenas sete jogadores ficaram até o final da temporada, sendo que três foram dispensados durante a temporada (entre os quais o zagueiro Paulão). Dos que foram contratados para 2024, sete (19%) foram dispensados antes do término da temporada, oito (22%) não jogaram ou atuaram em poucas partidas (22%).
“O Paysandu termina o ano com 36 jogadores no elenco (oito atletas de 2023 e 28 contratados em 2024), sendo que 72% dos atletas tiveram participação nos jogos, e 28% não jogaram ou tiveram pouca participação. Havia apenas um jogador da base no elenco, que é o goleiro Claudio Vitor, que não atuou em nenhum jogo”, conclui Márcio.
Os dados do levantamento podem servir de referência para os critérios a serem adotados a partir de agora, com ênfase na necessidade de pesquisar melhor para evitar contratações caras e improdutivas.
Savarino, enfim um camisa 10 no país do futebol
É cada vez mais raro ver um legítimo camisa 10 jogando no Brasil. Os bons são quase todos importados de países sul-americanos. A própria Seleção padece da falta de um jogador capacitado para comandar as ações criativas. Em meio a isso, o Campeonato Brasileiro tem o venezuelano Jefferson Savarino, meia do Botafogo, como principal solista.
Sereno, ele desfila em campo. Passes inspirados, lançamentos precisos e finalizações caprichadas. Tudo isso sem revelar grande esforço; é como se jogar em alto nível fosse a coisa mais simples do mundo. Diante do Palmeiras, o repertório criativo de Savarino brilhou intensamente.
Naquela que foi pintada como a “final antecipada”, o dono da bola foi ele. Ajudou o time de Artur Jorge a atropelar a engrenagem palmeirense, no Allianz Parque. Com imensa dose de talento, aliado à velocidade e à imposição física, Savarino foi maestro e algoz. Marcou o 2º gol e cobrou o escanteio que resultou no terceiro gol (Adryelson). Foi um recital.
Quando só o técnico vê o que se passa em campo
Depois do jogo com o Vila Nova, domingo, Márcio Fernandes fez uma avaliação espantosa sobre Esli García, novamente destaque na equipe, marcando o gol de empate. Como a justificar a escalação do atacante, insistentemente sabotado ao longo da campanha, o técnico disse que Esli cumpriu suas ordens, inclusive voltando para marcar.
Deve ter visto uma outra partida. Diante do Vila, o venezuelano mostrou a postura habitual, posicionando-se na esquerda e buscando sempre entrar na área. Nenhum recuo ou envolvimento com marcação, até porque não tem esse perfil e sua função é fazer gols. Felizmente, para o PSC, a fuga de ideia povoou apenas a imaginação do treinador.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 28)