Rock na madrugada – Erasmo Carlos, “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”

POR GERSON NOGUEIRA

Além de restabelecer a memória crítica sobre um período tenebroso e triste de nossa história, o filme “Ainda Estou Aqui”, que narra a saga de Eunice Paiva para provar que o marido (Rubens Paiva) foi torturado e morto pela ditadura, faz o resgate de um rockão maravilhoso de Erasmo Carlos. “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo” é de um disco espetacular do Tremendão, lançado em 1971 (disco Erasmo Carlos), no auge das atrocidades do regime dos generais.

Quem viu o filme, saiu do cinema encharcado de lágrimas e com esta canção reverberando na cabeça. Sangue de roqueiro, alma de roqueiro, Erasmo deu uma bela sacudida no cenário do rock daquele tempo, embora seja uma música pouco conhecida entre tantas do vasto repertório dele. O arranjo para este show ao vivo do Gigante Gentil, um dos últimos dele, veio carimbado com o padrão Billy Brandão de qualidade. Atenção para o solo arrepiante que ele tira da guitarra.

No livro autobiográfico “Minha Fama de Mau”, Erasmo revela que a música foi toda composta pelo parceiro Roberto. Segundo ele, quem dava a ideia da música normalmente era quem a gravava, mas há exceções – e esta é uma delas. O fato é que o Tremendão interpreta magnificamente a música, como se fosse realmente sua.

As canções dos discos de Erasmo nos anos 70 são valiosas e inspiradas, mereciam mais reconhecimento, como “É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo”, generosamente concedido na assinatura final da obra de Walter Salles, quando os créditos (com fotos do período) sobem. A canção já havia sido redescoberta por Nasi e Céu, como também pela série norte-americana Outer Banks.

Abaixo, trechos da letra:

Eu cheguei de muito longe
E a viagem foi tão longa
E na minha caminhada
Obstáculos na estrada, mas enfim aqui estou

Mas estou envergonhado
Com as coisas que eu vi
Mas não vou ficar calado
No conforto acomodado como tantos por aí

É preciso dar um jeito, meu amigo
É preciso dar um jeito, meu amigo

Descansar não adianta
Quando a gente se levanta quanta coisa aconteceu

Acima, um registro da canção em shows realizados em Belo Horizonte e Varginha (MG), em 2019, com direito a um pequeno discurso de Erasmo. Billy Brandão estraçalha novamente na guitarra, de forma impressionante.

Falar sobre a música de Erasmo não deixa de ser um belo pretexto para dizer que a história da família Paiva foi retratada inicialmente em “Feliz Ano Velho”, best-seller de Marcelo Rubens Paiva, único filho do casal, e chegou agora às telas com o longa “Ainda Estou Aqui”.

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